Segunda feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. O mês vocacional vai se delineando. Mais uma semana se inicia, nos possibilitando avançar em direção às buscas pelas nossas realizações. Uma semana que iniciamos com as bênçãos da Senhora da Assunção e também de todos aqueles e aquelas que se dedicam à Vida Religiosa Consagrada (VRC), que ontem também celebramos e seguimos na semana rezando por eles e elas. Destas vocações brotam carismas e atuações de pessoas que enriquecem as nossas comunidades, testemunhos vivos do Evangelho. Como bem disse o Papa Francisco, “esta escolha é pelo essencial e pela renúncia ao supérfluo, deixando-se forjar dia após dia pela simplicidade do amor de Deus que resplandece no Evangelho”.

Fui membro de uma Congregação Religiosa por pelo menos 20 anos de minha vida. Devo aos Redentoristas, boa parte da minha formação: humana, cristã e intelectual. Todavia, foi outro religioso que cruzou o meu caminho, me fazendo mudar de rota. O Claretiano Pedro, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, “bagunçou” o meu itinerário religioso, me fazendo trilhar outras estradas, e ver outras causas pelas quais aprendi e passei a dedicar a minha vida. Trinta e dois anos já se foram nesta minha labuta, sentindo-me mais religioso que dantes. Na convivência diária com ele, percebi o sentido radical (raiz) de uma de suas frases: “Se não houver grandes causas, a vida não tem sentido”. O sentido maior da vida se faz nas causas que vamos abraçando.

19 de agosto é também o “Dia Nacional do Historiador”. Esta data foi instituída pela Lei Nº 12.130 de 2009, numa homenagem ao pernambucano, Joaquim Nabuco (1849-1910), um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL). O historiador é um personagem de suma importância para a humanidade, já que ele nos ajuda a olhar pelo retrovisor da história, contribuindo assim para que não cometamos os mesmos erros do passado. Como diz o historiador inglês, com os seus 87 anos de vida, Peter Burke: “A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer”. Um povo sem história é um povo sem memória. Se não preservarmos a nossa memória, estamos fadados a cometer os mesmos erros históricos do passado.

“Devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos”, nos recorda o filósofo prussiano Friedrich Nietzsche (1844-1900). Memória que nos ajuda a encontrar-nos com Jesus e aprender com Ele, para que possamos assim trilhar na história o seu Projeto de Vida Nova. No dia de hoje temos a chance de conhecer um pouco mais de Jesus, através do seu diálogo com aquele jovem rico, que o procura com a seguinte indagação: “Mestre, o que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?” (Mt 19,16) Inicialmente Jesus o convida a viver na prática cotidiana os mandamentos. Entretanto, a situação daquele jovem se complicou, depois que Jesus o orientou: “vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu”. (Mt 19,21) O texto de Mateus conclui que aquele jovem foi embora muito triste, pois era muito rico.

Cumprir leis, regras, preceitos, ou seguir? Este é o maior desafio que se coloca na vida do cristão. Não basta cumprir preceitos devocionais religiosos. Para fazer parte do Reino é preciso mais do que observar leis ou regras. Pra começo de conversa, o Reino é dom gratuito de Deus a nós. No Reino de Deus tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa principalmente repartir as riquezas em vista de uma sociedade de igualdade, abolindo de toda forma o sistema classista. É por esta razão que os ricos ficam tristes e, dificilmente, entram no Reino. Preferem ficar cumprindo preceitos vazios de uma vida sem envolvimento com a realidade. É o que acontece com alguns religiosos e religiosas, padres, e também bispos, que se escondem atrás de seus ritualismos sem a preocupação de busca de uma “Igreja em Saída” ao encontro dos mais necessitados, como quer o Papa Francisco.

Entre o cumprir e o seguir, devemos deixar tudo para seguir os passos de Jesus, inclusive uma prática religiosa que nos distancia da realidade dos pobres e marginalizados. Só encontraremos esta nova sociedade (Reino), quando nos fizermos seguidores de Jesus, embora em meio à perseguição, mas vivendo a certeza da plenitude que virá. Nosso bem maior é Deus: “onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”. (Mt 6, 21). Trata-se de deixar o nosso egocentrismo, para crescer e dispor-nos a realizar novo projeto de justiça. Todos nós, conscientes ou inconscientemente, temos na vida um valor fundamental, um absoluto que determina toda a nossa forma de ser e viver. Qual é o seu absoluto: Deus ou as riquezas? Para seguir a Jesus de Nazaré, é preciso ter o coração focado n’Ele. Não era o caso daquele jovem, que tinha muitos bens, e foi embora triste e cabisbaixo. (Mt 19, 22). Deus leva a pessoa à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade.