Terça feira da Sétima Semana do Tempo Comum. Devagar o mês de fevereiro vai se despedindo, abrindo as portas para a festa mais popular do povo brasileiro: o carnaval. O clima já é de folia para os mais exaltados. Para outros, certamente, será de reclusão e descanso. O importante é saber dosar e conciliar entre um e outro, uma forma saudável de viver este momento importante do calendário brasileiro. Como sou mais para o sossego, aproveitarei do ensejo para colocar a minha maior paixão em dia: ler pelo menos alguns daqueles livros que estão na fila, à espera de serem contemplados pela minha feliz arte de ler. Como já dizia o nosso imortal Ariano Suassuna: “quem gosta de ler não morre só”.

Por falar em boa leitura, hoje é o dia da passagem de um dos nossos maiores escritores. No dia 25 de fevereiro de 1945, falecia em São Paulo, aos 52 anos, o poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro, Mário de Andrade. Para ficar em apenas uma de suas obras, ele é o autor de “Paulicéia Desvairada”, obra publicada em 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna. Esta obra se tornou o marco da literatura brasileira e traçou os alicerces da estética do Movimento Modernista no país. Trata-se de uma antologia de contos do escritor paulista, que foi a primeira obra realmente de vanguarda do Modernismo. “Paulicéia Desvairada” faz uma análise do provincianismo e da sociedade paulista do início do século XX.

Graças a minha querida e saudosa Professora de Literatura Zilda, nos bons tempos do Ensino Médio, no Seminário Santo Afonso, na cidade de Aparecida/SP, li, reli e treli, Pauliceia Desvairada. Naquele contexto dos idos de 1978, já cursando o terceiro ano do Colegial (como era chamado à época), apaixonei pelos escritos de Mário de Andrade, conhecendo mais profundamente a Semana de Arte Moderna. O Modernismo entrou com tudo em meu pensamento. Influenciado por esta professora, adquiri o hábito saudável da boa leitura, perpassando como um “caruncho”, as várias prateleiras de nossa biblioteca. Ainda não satisfeito, descobri alguns clássicos da literatura, que eram proibidos sua leitura à época, escondidos na biblioteca da clausura dos padres. Li (“escondidamente”), por exemplo, “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz, entre outros.

Mas, voltando ao contexto atual, mais uma vez, iniciei o meu dia rezando pelo Bispo de Roma. O sucessor de Pedro segue no seu calvário de convalescença. O que nos alegra saber é que já está um pouco melhor, tanto que despachou no dia de ontem, dando encaminhamento a alguns documentos da Cúria Romana. O homem é forte, para tristeza de alguns que, além de desejarem o seu fim, já pensam nos possíveis sucessores, apontando alguns carreiristas eclesiásticos, aptos para o conclave. O clima de ódio chegou a tal patamar que, mesmo se dizendo cristãos, católicos, alguns destes fariseus modernos, estão querendo que o papa morra literalmente. Diante de tal descalabro, precisamos fortalecer a nossa fé a cada dia, com a confiança inabalável no Senhor, como fizera o profeta Isaías ao assim dizer: “Sim, Deus é a minha salvação! Eu confio e nada tenho a temer, porque minha força e meu canto é o Senhor: Ele é a minha salvação”. (Is 12,2) Viva os Franciscos, o de Assis e o de Roma!

Compreensão que não tiveram alguns dos discípulos de Jesus. Enquanto Ele estava fazendo o segundo anúncio da sua paixão, tais discípulos estavam disputando entre si, qual deles seria o maior na perspectiva do Reino. Esta é a temática que o Evangelho de Marcos hoje nos traz para a nossa reflexão. Neste segundo anúncio da paixão registrado pelo evangelista, é bem incisivo do que o primeiro (cf. Mc 8,31). Tanto que os discípulos nem se atrevem a fazer perguntas, pois também estavam ocupados com outras preocupações. Influenciados pelo pensamento da sociedade da época, a preocupação maior deles era a de saber quem deles seria o maior e o primeiro na comunidade que Jesus iria fundar. Entre a paixão e a cobiça, a segunda opção ocupava a mente dos discípulos, pois não entenderam nada daquilo que Jesus estava lhes anunciando: a nova sociedade e o Reno de Deus.

Quando a cobiça é nossa medida, o amor, a generosidade, a partilha, o dom do serviço e a fraternidade ficam em segundo plano. Diante daquela disputa insana, Jesus foi enfático e deu a letra: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35) Mais do que uma lição de humildade, se requer do seguidor e da seguidora de Jesus, que haja uma entrega de si mesmo que se concretiza na dor e no sofrimento, mas, sobretudo, no amor doação/serviço desinteressado. Quem sabe ser o último e o servo, reconhece que tudo quanto possui lhe foi dado por Deus. Por isso, é capaz de colocar-se em atitude de acolhimento, de cuidado e de entrega gratuita. Aqui entra em cena a figura emblemática das crianças que são capazes, de tudo receber com simplicidade, humildade e pobreza, e se abandonarem confiadamente nos braços dos pais, ou de quem delas cuidam. Coisas que os discípulos não entenderam ainda, muito menos as consequências que a ação de Jesus vai provocar, pois ainda estão pensando numa sociedade onde existem diferenças de grandeza. Quem é o maior? Jesus mostra que a grandeza da nova sociedade não se baseia na riqueza e no poder, mas no serviço gratuito, sem pretensões e interesses.