Sábado da Décima Semana do Tempo C0mum. Mais um final de semana aproximando, nos possibilitando viver à vida em sua totalidade. Cada dia que temos pela frente é sinal de que Deus continua apostando em nós, e que seremos capazes de dar o melhor que podemos ser. Não contentar com o mínimo já é o primeiro passo para quem deseja viver intensamente, sabendo que a nossa vida é dom e dádiva do Deus que muito nos ama. Que a página deste nosso dia de hoje, seja escrita com a caneta da verdade, e que nela possam estar todas as nossas ações inspiradas nos princípios do Evangelho, Boa Nova do Reino.
Um sábado diferente para mim. Como estou fazendo a leitura do livro “Jesus, aproximação histórica”, do teólogo espanhol José Antônio Pagola, acordei nesta manhã influenciado pelo seu pensamento, acerca de Jesus, e rezei agradecido a Deus por esta produção tão eloquente e importante para o nosso maior conhecimento da vida de Jesus. Agradeci a Deus pelo dom da vida com as palavras do referido teólogo: “De tanto nos queixarmos de trabalhos, sofrimento e penas em nossa vida diária corremos o risco de esquecer que a vida é uma dádiva, o grande dom que recebemos de Deus. Se não tivéssemos nascido, ninguém sentiria nossa falta. Ninguém teria notado nossa ausência”. Aos que ora me leem, recomendo a leitura deste livro. Indispensável. Garanto que não se arrependerão.
A nossa vida vai se delineando na história. Por mais que não tenhamos a consciência de que fazemos parte da família universal, estamos todos interligados, ao ponto de que a minha vida não teria sentido sem a convivência com todos aqueles que estão ao meu lado. Os indígenas, com quem trabalho há pelo menos 32 anos, sabem disso que estou falando. Eles não se veem como pessoas individualizadas, mas como pertença de unidade para com a sua etnia. Todos são um e um são todos. Um sentimento de pertença que vai além da cultura, perpassando a ancestralidade e integrando com a natureza, num sentimento de unicidade cósmica. Nada de individualismos. Eles nos ensinam que, quanto mais individualistas nos tornamos, mais o mundo e as nossas relações precisam de socorro. “Tudo está interligado”, reiterou o Papa Francisco com a sua Laudato Si.
Foi o que fez Jesus, quando escolhe um grupo de pessoas e as preparam para a missão de serem continuadoras de sua atividade libertadora. Neste sábado, estamos vendo o Mestre Galileu passando mais informações aos seus escolhidos. Mais do que ensinamentos teóricos, recheados de elucubrações filosóficas, são orientações práticas de como devem agir e comportar os seus, na sua missão de evangelizar os povos. A ação que antecipa a intenção. Entre uma e outra, Jesus vai dizer que há um abismo colossal, para que os discípulos se atentassem para as possíveis contradições, as quais poderiam eles sucumbirem.
Os ensinamentos de Jesus neste texto de hoje estão fundamentados no segundo e oitavo mandamentos: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”. (EX 20,7); “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. (Ex 20,16) Lembrando que, na sociedade judaica, era comum abusar do juramento. Como não se podia pronunciar o nome divino, faziam o malabarismo, referindo-se ao céu, à terra, a Jerusalém, à própria cabeça. A necessidade de juramentos é sinal de que a mentira e a desconfiança pervertem as relações humanas. Jesus exige que na nova sociedade os relacionamentos entre as pessoas sejam verdadeiros e responsáveis.
“Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno”. (Mt 5,37) Os discípulos e também nós, somos orientados a vivermos relações onde a verdade seja a norma geral. Ele pede aos seus seguidores para não fugirem desta norma geral, esforçando-nos para sermos verdadeiros nas nossas ações. Não deixarmos que as intenções falem mais alto que as nossas ações. Como podemos ver, no Evangelho de hoje, Jesus ensina a seriedade que deve haver em nossas palavras, e como o nosso falar não deve ser medido pelos nossos juramentos, mas sim por nossa integridade. Uma pessoa de caráter e honesta por essência, não precisa usar de juramentos para provar suas atitudes ou palavras, uma vez que a sua ação já diz por si mesma. Sermos verdadeiros, eis o nosso maior desafio, se bem que, “nem todas as verdades são para todos os ouvidos”, já nos dizia o escritor e filósofo italiano Umberto Eco (1932-2016). Deus sabe tudo de nós: das nossas ações e também das nossas intenções.
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