Terça feira da vigésima segunda semana do tempo comum.
Penúltimo dia do mês de agosto. Setembro já vem dando o ar da graça. Isso fica evidente na natureza que, apesar dos maus tratos, se reveste de verde, prenunciando a chegada dela, a primavera. A natureza, sábia como é, nos ensinando a viver, já que tudo nela se dá através da harmonia e do equilíbrio. Nela, tudo tem a sua razão de ser. Basta um pouco mais de observação, para aprender com ela, como fazem os povos indígenas, com a sua relação de respeito e reverência, àquela que cuida da sua subsistência. Sabedoria e ensinamento que caminham lado a lado.
Aprender e ensinar fazem parte do nosso ser no mundo. A vida inteira se constitui num aprendizado permanente. Infeliz daquele que acha que não precisa aprender mais nada. Melhor seria que se despedisse deste plano, já que está fazendo “hora extra” nesta vida. Toda a nossa caminhada neste mundo se faz pelo processo educacional. Aprende-se na caminhada, uma vez que sábio não é quem tudo sabe, mas aquele que não perdeu a capacidade de aprender. Educação como aprendizagem, provocando a sabedoria. Educação que se dá na amorosidade no ato de aprender. Talvez por isso Paulo Freire tenha insistido tanto quando afirma: “A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”.
Bem que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tentou nos ajudar quando escolheu para este ano de 2022, como tema para a Campanha da Fraternidade: “Educação e Fraternidade”. E ainda recorreu a um dos livros sapienciais, apresentando-nos o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Todavia, esta campanha se tornou letra morta, pois raramente se vê nas igrejas as lideranças ao menos comentando a temática proposta. Isto reflete a dissintonia que há entre as diretrizes dos bispos e as comunidades católicas espalhadas pelo Brasil afora. De duas uma: ou não se acredita na educação como possibilidade de transformação, ou aquilo que propõe a CNBB, não é levado a sério.
Educação, conhecimento, sabedoria salvam vidas. Educação liberta e desaliena. Educação bem feita ensina a pensar e a decidir sobre o melhor projeto de sociedade que queremos. Educação que não pode ser vista como gasto nos planos de governo dos gestores. Educação tem que ser vista como “investimento na pessoa humana”. Por este motivo , a educação tem que ser vista sempre pela ótica do amor. É impossível ensinar sem amor. A educação e o amor, de mãos dadas, formando as pessoas na perspectiva da integridade, da solidariedade e do bem comum. Educação de qualidade revoluciona o mundo com a rebeldia do pensar e agir.
Jesus o pedagogo do amor. O Mestre de Nazaré também ensinava com amor. É o que vemos no texto do Evangelho Lucano, apresentado pela liturgia desta terça feira: “Jesus desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e aí ensinava-os aos sábados. As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade”. (Lc 4, 31-32) O homem da Palavra certa. Ensinava com amor e autoridade. Não com a mesma autoridade dos dirigentes religiosos da sinagoga e nem como a autoridade de alguns de nossos representantes, religiosos ou políticos. O ensinamento de Jesus vinha sempre acompanhado de uma prática libertadora, uma ação de cura, configurando uma prática concreta de libertação, como no caso de hoje de um homem possuído por um espírito impuro que o atormentava. Jesus que falava, ensinava e ao mesmo tempo fazia acontecer a transformação. Ensinamento para a libertação.
Como nos dizia o “Patrono da Educação Brasileira”, nós também somos os “ensinantes” e “aprendentes”: “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende , ensina ao aprender”. Uma prática dialética de uma via de mão dupla. Ensinar e aprender são dois verbos que são conjugados em todos os tempos verbais do processo de ensino-aprendizagem. A escola deve ser o espaço de produção do pensamento libertário. Mais do que transmitir conteúdos, a escola tem que ser espaço de leitura do mundo através do livre pensar e interpretar. E a vida é a grande escola que nos ajuda a alcançar a sabedoria do bem viver. Aprendendo e ensinando como Jesus para transformar o mundo pela nossa ação libertadora com amor. Vivendo e aprendendo e, quiçá ensinando, já que “ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. (Paulo Freire)
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