Terça feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum (Ano B). O mês de setembro vai sobrevivendo em meio ao calor e a fumaça que paira no ar. Impossível avistar a Ilha do Bananal da margem de cá do Araguaia. Está coberta de fumaça. A maior ilha fluvial do mundo, com os seus 20 mil km2, com a riqueza de sua biodiversidade, no encontro da Floresta Amazônica e o Cerrado, sendo literalmente consumida pelo fogo criminoso assassino. Ainda bem que estamos com a Lua na fase Nova, embora 0% visível para nós, traz a perspectiva de possibilidade das chuvas, para amenizar um pouco a nossa via crucis. Respirar é preciso!

Assim como nós, setembro vai resistindo como pode. Estamos em contagem regressiva para a chegada da primavera. A nova estação, que vem ao nosso encontro, inicia-se em 22 de setembro, precisamente às 9h44, e termina após 90 dias, em 21 de dezembro, às 6h19, quando dará espaço ao verão aqui no Hemisfério Sul. Se já estamos vivendo agora um calor saárico, fico imaginando como será o verão propriamente. A estação do inverno que ora vivemos foi completamente atípica. Ela que sucede o outono e antecede a primavera era para ter apresentado as menores temperaturas do ano. Tanto que nessa época, é comum a migração de espécies de animais para regiões em que as temperaturas estão mais elevadas. Mas o desequilíbrio ambiental, causado pela ação humana, tem mudado este jeito natural de ser.

Terça feira, dia 3 de setembro. Nesta data, a Igreja Católica celebra a memória de São Gregório Magno (540-604), bispo e doutor da Igreja. Cidadão romano, Gregório formado em Direito, seguiu a carreira política sendo, inclusive, prefeito de Roma. De politico, passou à vida monástica, dedicando-se ao estudo das Sagradas Escrituras e dos Padres da Igreja. De político a monge; de monge a Papa. Com a morte do Papa Pelágio II, no ano 590, foi eleito seu Sucessor, sendo o 64º Papa da história da Igreja. Foi ele que reformou a celebração da Missa, tornando-a mais simples; promoveu o canto litúrgico. Umas de suas frases nos ajudam a pensar ainda hoje: “Muitos ensinam o que adquiriram com o estudo, não com a conduta, e assim o que pregam com a palavra destroem com o seu modo de vida”.

Nesta terça feira a liturgia também nos faz pensar nos ensinamentos de Jesus. Ensinamentos com autoridade que vem de Deus. Autoridade que é bem diferente de autoritarismo. O texto sugerido pela liturgia, oportuniza a nossa reflexão de um Jesus que está em Cafarnaum, uma das cidades da Galileia. A distância entre Nazaré e Cafarnaúm é relativamente curta. Em dia de sábado, como de costume, está ensinando na Sinagoga. É bom que se diga que, conforme os Evangelhos de Mateus e Marcos, Cafarnaum, localizada na margem norte do Mar da Galileia, foi o centro do ministério de Jesus na Galileia (Mt 9,1-2; Mc 2,1-5). O texto de hoje inicia afirmando que: “As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade”. (Lc 4,32) O texto faz questão de frisar que Jesus ensinava com autoridade, não como as autoridades religiosas do Templo.

Este texto de (Lc 4,31-37), tem o seu paralelo em (Mc 1,21-28). Entretanto, nem Lucas nem Marcos nos diz qual era o ensinamento de Jesus; todavia, como a fala vem junto com uma ação de cura, fica claro que, o ensinamento com autoridade, está baseado numa prática concreta de libertação. Jesus que não tinha apenas a preocupação de falar e ensinar, mas promover ações de libertação, sobretudo para as pessoas mais simples e pobres. Aquilo que, doutores da Lei, escribas e fariseus não faziam concretamente, pois a sua preocupação estava bem distante da realidade de sofrimento do povo.

Jesus fala e faz! Anuncia a palavra e faz acontecer o gesto concreto de libertação. Palavras e gestos são os elementos que ligam a palavra à vida. Por isso Jesus fala ao coração das pessoas e, ao mesmo tempo cura as feridas do corpo. É uma intervenção libertadora que revela a eficácia da palavra e da ação de Jesus. O texto de hoje nos apresenta também um pobre doente que é libertado de um espírito maligno. A ação demoníaca escraviza e aliena a pessoa, impedindo-a de pensar e de agir por si mesma. Ali, naquele contexto, Jesus realiza o seu primeiro sinal (milagre), possibilitando um homem, voltar à consciência e à liberdade. Só assim, aquele pobre homem, pode segui-lo, andando com suas próprias pernas. É exatamente isto que falta a um setor da nossa Igreja hoje. Bispos, padres (midiáticos) que anunciam Palavra de Deus, dissociada da prática concreta das pessoas, principalmente dos pobres e marginalizados. Este setor da nossa Igreja precisa estudar e aprender com o Jesus do texto de hoje: anunciar a palavra, mas também promover ações de libertação do povo que sofre nas periferias sociais, existenciais e geográficas. Como nos diz o santo do dia: “Da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir”. (São Gregório Magno)