Terça feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. A vida não para! Cada um vivendo o seu itinerário, em busca da felicidade e das realizações. Cada passo dado, aproximando da vida em plenitude, que foi com esta intenção que Deus nos criou. Viver sempre preparado para enfrentar os desafios, contando com a presença de Deus em nós, com as nossas forças e acreditando que não estamos sozinhos nesta longa jornada. Viver um dia de cada vez acreditando nas palavras ditas pelo monge tibetano Dalai Lama: “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”. Hoje é o dia de ser, quem queremos ser.
Viver um dia de cada vez é encontrar alegria nas pequenas coisas do dia a dia, valorizando cada momento como único. Pensando que, eu sou quem sou, e como sou, porque fui pensado e planejado por Deus para viver toda a plenitude do meu existir. O horizonte está à nossa frente e, devemos encará-lo como mais uma chance dada por Deus, para que possamos fazer a nossa parte na feitura do Reino. Feliz foi o mineiro Chico Xavier (1910-2002), que fez da sua vida um poema de amor, escrito no livro de sua vida: “Cada dia que amanhece assemelha-se a uma página em branco, na qual gravamos os nossos pensamentos, ações e atitudes. Na essência, cada dia é a preparação de nosso próprio amanhã”.
Com estes pensamentos positivos, estamos mais uma vez diante do texto escrito pelo evangelista São Lucas. Fazendo parte dos evangelhos Sinóticos, Lucas é por excelência aquele que descreve para nós o “caminho de Jesus”, realizando na história. Deus se fazendo homem (natureza humana) no filho do carpinteiro, Jesus de Nazaré. O Ser Divino de Deus se fazendo realidade dentro da história humana, projetando a salvação de Deus, conforme a promessa feita no Antigo Testamento: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo. Fez aparecer uma força de salvação na casa de Davi, seu servo; conforme tinha anunciado desde outrora pela boca de seus santos profetas”. (Lc 1,68-70) Deus é misericordioso e realiza, através de Jesus, a visita aos pobres.
Antes de adentrarmos a proposta litúrgica deste dia de hoje, é bom lembrarmos que o dia 5 de setembro foi escolhido para celebrarmos o “Dia da Amazônia”. De quebra, também hoje é lembrado como o “Dia Internacional da Mulher Indígena”. A Amazônia e as mulheres indígenas como “peças” importantes de nossa história desde antes da chegada do colonizador. O que seriamos de nós sem a Amazônia? Sua flora e fauna, sua biodiversidade, como fonte de matérias-primas de alimentos e medicamentos, seus “rios voadores”, fornecendo chuva para várias regiões do Brasil? O que seríamos nós sem as comunidades indígenas, sobretudo as mulheres guerreiras, que cuidam da floresta como sua mãe, sendo a geradora de vida para nós humanos e animais? Amazônia feminina, sintetizada neste belo poema de Auritha Tabajara: “Nós, mulheres indígenas. Somos raiz deste chão. Somos fortes para parir. Cuidar e dar educação. O homem é só semente. Que fecunda e nasce gente. E mulher, terra pra criação”.
No dia de hoje a liturgia traz para nós os primeiros passos do caminho de Jesus. Caminho de Libertação. O texto de hoje é a sequência do dia anterior. Se ontem, Jesus atribui a si as palavras ditas pelo profeta Isaías, hoje Ele inicia o processo de libertação, realizando uma nova história, onde os pobres e oprimidos são libertos para usufruírem a vida dentro de novas relações entre as pessoas. O projeto salvador de Jesus e o seu programa de ação libertadora é apresentado no seu discurso na sinagoga de Cafarnaum. Os pobres ganhando vida, através do primeiro sinal (milagre) realizado pelo Mestre de Nazaré, libertando um homem de seus entraves interiores.
Jesus está em Cafarnaum, localizada na margem norte do Mar da Galileia, a 185 km de Jerusalém e a 50 km de Nazaré. Ensinando e promovendo a vida. Ensinamento com autoridade e prática concreta de libertação. Jesus, libertando um homem de seus demônios interiores. A história sendo construída pelos pobres. “Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo”. (Lc 7,16) A ação demoníaca escraviza e aliena as pessoas, impedindo-as de pensar e de agir por si mesmas. Jesus que anuncia e pratica aquilo que fala. O Reino acontecendo em cada gesto de libertação, psicossocial, econômica, ideológica, estruturais e sistêmicas. O primeiro milagre de Jesus é fazer aquele pobre homem voltar à consciência e à liberdade. Só assim ele pode segui os mesmo passos de Jesus.
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