Sábado da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. No dia de hoje, a Igreja celebra a memória de São Lourenço, Diácono e Mártir do século II. Espanhol de nascimento, o diácono Lourenço sofreu o martírio no dia 10 de agosto de 258 d.C., após ser publicado um decreto do imperador Valeriano, que ordenava que todos os bispos, presbíteros e diáconos deveriam ser condenados à morte. Sua morte aconteceu com requintes de crueldade, já que foi queimado vivo numa grelha. São Lourenço é o padroeiro dos Diáconos. O terceiro santo padroeiro da cidade de Roma depois dos santos Pedro e Paulo. Para ele, os pobres eram as estrelas e o tesouro da Igreja.

O dia 10 a agosto é também um marco da Igreja latino americana. Neste dia, morria na França, Frei Tito de Alencar Lima OP (1945-1974) Frade cearense Dominicano, Frei Tito morreu aos 28 anos, não conseguindo conviver com o trauma das sevícias sofridas nas mãos da ditadura militar. Talvez tenha cometido o suicídio por não suportar as sequelas físicas e psicológicas das longas e constantes sessões de tortura a que foi submetido, entre novembro de 1969 e janeiro de 1971, período em que esteve preso pelas forças do regime ditatorial que comandava o Brasil. “A cada descarga elétrica, eu estremecia todo, como se o organismo fosse decompor”, afirmou ele em um de seus escritos.

Neste dia de hoje também fazemos o registro aqui bem próximo de nós, da morte da indígena, Tuíre Kayapó Mẽbêngôkre, aos 54 anos, por complicações decorrentes de um câncer no útero. Tuíre ficou conhecida no final da década de 1980, aos 19 anos, quando ela encostou a lâmina do facão no rosto de um engenheiro da Eletronorte, em uma audiência realizada em Altamira, no Pará, para discutir a construção de um complexo de hidrelétricas no rio Xingu, então batizado de Kararaô. A foto do momento converteu-se em um símbolo, mostrando que os indígenas não aceitariam a destruição da floresta e do rio. “O gesto forte desta guerreira da etnia Kayapó, ficou para a história.

Sementes de vidas semeadas, na construção da vida no Reino. O martírio está presente na história da Igreja, e marca profundamente a caminhada daqueles e daquelas que deram suas vidas pelo Reino e suas causas. Engravidar a semente da esperança de novas lutas e conquistas, daqueles e daquelas que se dão pela construção de outro mundo possível, em que as coordenadas do amor, da justiça, da igualdade e fraternidade, brotam como frutos no esperançar de Deus, que nos criou para a plenitude da vida. Bem que o filósofo e teólogo francês, Blaise Pascal (1623-1662), já nos alertara: “O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram”.

A “Diaconia” a serviço dos mais pobres é a graça maior dos seguidores seguidoras de Jesus de Nazaré. Diaconia é uma palavra de origem grega, utilizada cerca de dezenas de vezes no Novo Testamento. Esta expressão aparece com o substantivo “diakonos” (aquele/a que serve), “diakonia” (serviço) e como verbo “diakoneo” (servir). Assim, o termo pode ser utilizado tanto para referir-se ao serviço mútuo entre as pessoas, quanto para o ministério de Jesus no mundo, como Ele mesmo se auto proclama: “Porque o Filho do Homem não veio para “diaconado” (ser servido). Ele veio para “diaconar” (servir) e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. Para Jesus, a autoridade não é exercício de poder, mas a qualificação para serviço que se exprime na entrega de si mesmo para o bem comum de todos e todas.

No texto que a liturgia escolheu para este sábado, Jesus nos ensina e convida-nos a semear sempre com generosidade, sem escolhermos ou excluirmos o chão sobre o qual cairá a semente semeada. Trata-se de uma perícope joanina que relata os últimos acontecimentos das atividades públicas de Jesus, antes d’Ele celebrar com os seus discípulos a Última Ceia. Quem faz a sua adesão ao Projeto Libertador de Jesus, sabe que terá que se transformar num semeador de esperança e vida nova, do sonho de Deus. Engravida a semente através das suas ações no mundo, colocando-se na mesma dinâmica de Jesus, do amor ternural sem limites, em sintonia com o Pai, que é vida para todos. Servir a Jesus, e como Ele, é associar-nos a Ele na obra libertadora do Pai. O amor incondicional de Jesus pelo Pai e pelas pessoas mais empobrecidas, levaram-no a entregar-se até à morte, até ao dom total da própria vida, para que todos tivéssemos vida. O grão de trigo, quando morre na terra, gera vida e torna-se fecundo. O discípulo, a discípula de Jesus, somos chamados a viver o mesmo mistério de morte para gerar a vida e ser fecundos em favor dos nossos irmãos e irmãs.