Em 1954, janeiro, viemos morar em São Paulo.
Minha mãe não via futuro em Macaubal. Meu pai veio na frente pra alugar casa.
Alugou .
Viemos depois.
Fiz sete anos aqui.
Minha avó materna resolveu que deveria vir ajudar.
E veio.
Lembro dela sentada na beira da cama rezando o terço todas as tardes.
Minha mãe na cozinha fazendo” a janta”…
Rádio ligado:Pedro Geraldo Costa puxava a Ave Maria.
Ao final padre Donizete dava a bênção…
Era o fim do dia,minha mãe chegava do trabalho e me recolhia…
Banho, terço com a avó e jantar…
Mas o que eu queria mesmo era ficar na rua!
O Nori ficava…
Meu irmão,os mais velhos ficavam…
Mas a mãe era inflexível!
Criança tem que dormir cedo pra crescer sadia.
Era a fala dela !
A avó me ensinou a rezar o terço…as ave Maria não tinham fim…
O Nori ficava por ali…
Não participava da oração.
Ele era de Saravá…
Mas aceitava o prato de comida que a mãe lhe estendia.
Meu pai chegava,sempre cansado…
O dia era mais curto, não existia televisão…
Uma rádio novela…
A cidade dormia cedo.
As aulas começavam às sete…então o dia era curto!
Depois inventaram a TV.
Na TV tinha novela.
A sala do seu Garcia era ponto de encontro da molecada.
Todos sentados no chão.
A padaria Marli tinha TV.
Os homens bebiam cerveja e assistiam TV…
E interpretavam o mundo com o repórter Esso…
O mundo era menor!
Pra mim tinha dois quarteirões…os dois da Aquilino Vidal…
A venda do português, onde se reunia o mundo…
O campinho de futebol…
Precisava mais?
Boa tarde/noite gente amiga querida.
Que as bênçãos sejam abundantes.
O inverno recomeçou.
Bom pra canja e uma taça de merlot chileno.
Hoje passei ,de novo, na Aquilino Vidal, o sobrado do espanhol tem uma placa :
” aluga se”…
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