Domingo de Páscoa.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Domingo da Ressurreição. O Senhor está vivo e presente no meio de nós. Alegremos e n’Ele exultemos! Depois de uma longa caminhada de quarenta dias, chegamos enfim ao tão esperado grande dia. O Verbo encarnado em nossa realidade humana, depois de ser rejeitado pelos poderosos, passou pela experiência do sofrimento e da dor da cruz, mas Deus interveio e deu-lhe o lugar mais alto como nos descreve São Paulo na Carta aos Filipenses: “Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome. (Fl 2,9).

“A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”. (Sl 118,22) Para o Cristianismo primitivo, a Pedra Angular é simbolicamente representada pela pessoa de Jesus de Nazaré, o filho de Deus. A rejeição e morte do Filho trazem a sentença: o povo de Deus, irmanado em torno de Jesus (pedra), passa a outros seguidores seus, que devem estar sempre prontos a servir, como foi descrito pela comunidade Joanina, no início do Tríduo Pascal: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.” (Jo 13,14)

Todos os anos por ocasião do Domingo de Páscoa, a liturgia católica recorre ao texto do evangelista São João (Jo 20,1-9). Por incrível que pareça, o evangelista não narra a Ressurreição de Jesus propriamente. Ao contrario, fala que Maria Madalena vai ao túmulo de Jesus na penumbra da noite, quando ainda estava escuro e encontra o sepulcro vazio. Segundo alguns exegetas o contexto de escuridão, trata-se de um lugar teológico, uma vez que a humanidade ainda não havia se deparado com a Nova Criação que nasce da pessoa do Cristo. Ainda se encontra as escuras. Além do que, falar de Ressurreição é algo indescritível, por se tratar de um mistério insondável, que cabe apenas ao Deus Criador. Por mais que as palavras se aproximem desta experiência profunda, não a abarcará com toda a sua intensidade.

A Ressurreição é o princípio fundante da experiência de fé dos cristãos. Sem ela, inexiste o cristianismo, como o próprio São Paulo assim o atesta: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm”. (1 Cor 15,14). Ressurreição entendida em toda a sua profundidade. Ao ressurgir, a pessoa não regressa à vida como a mesma pessoa, mas significa fazer a experiência de uma vida nova em Cristo. Neste sentido, não existe argumentação científica que possa explicar este mistério insondável. Somente através da fé, podemos adentrar este mistério, abraçando a nova vida que renasce com a Ressurreição de Jesus. “Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24,5)

Ao ressuscitar Jesus, Deus nos mostra que a escuridão da morte não tem a última palavra. A última palavra é a vida. A morte não é o fim, por mais obscura que seja a nossa compreensão dela. A vida prevalece, uma vez que ela é a vitória de Deus sobre aqueles que a planejam. A vida triunfou e nos traz a esperança de que também nós a experimentaremos na mesma caminhada com Jesus. Seria muito triste o nosso existir se deparássemos com a morte sendo o fim para a nossa vida terrestre. Mais do que uma passagem, a morte é o momento do nosso encontro íntimo com a amorosidade de um Deus que é especialista em amar, amar e amar. Santa Madre Teresa de Calcutá fala sobre a morte desta maneira: “No momento da morte, não seremos julgados pela quantidade de trabalho que temos feito, mas pelo tanto de amor que colocamos em nossos trabalhos”.

É Páscoa! É vida nova! É Deus se fazendo vivo e presente em nossa história humana. É Jesus, o Cristo que vem nos trazer a Nova Criação. Deus se fazendo tudo em todos. Jesus está vivo, mas já não se manifesta como o Jesus histórico, como o Mestre durante a sua vida terrena na Palestina. Daqui por diante, ele está presente no mistério da vida de Deus, e torna-se presente e atuante através do anúncio e testemunho feito por aqueles e aquelas que nele acreditam. Ressurreição é o tempo das relações da Nova Aliança, da Nova Criação: Deus é Pai/Mãe, e as pessoas são filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs de Jesus. Pelo amor e por amor, a morte foi vencida pela vida. Mais do que um coelhinho espalhando ovos de chocolate (simbologia do paganismo e do mercado), é Jesus que está vivo, e vive nas nossas vidas hoje e sempre. Feliz e abençoada Vida Nova na Páscoa d’Ele!

https://www.youtube.com/watch?v=9QRDhEJemXg