Sábado da 26ª Semana do Tempo Comum. O primeiro final de semana do mês missionário veio até nós. Ainda experimentamos a presença viva de São Francisco de Assis, um dos santos mais queridos da humanidade, por tudo aquilo que ele representa na defesa dos animais, da natureza, enfim. Como ele mesmo gostava de dizer, nesta manhã, “o irmão sol, com a irmã luz trouxe-nos o dia pela mão”. Lembro-me também de uma das falas de um pajé indígena que me disse certa feita, “é o sol que vai buscar o dia. Se ele não vai, o dia não vem”. Sintonia perfeita de pensamento dos povos originários com o pensamento do “Poverello de Assis”. Certo é que, nesta manhã, o Astro-Rei veio de forma absoluta, irradiando luz e calor logo cedo.

Ainda predomina em nós no dia de hoje o carisma de São Francisco de Assis. Sou suspeito de falar sobre a vida deste homem de Deus. Apesar de ter passado 20 anos de minha vida, ligado umbilicalmente aos Redentoristas, dentro de mim uma voz ressoava dizendo que eu deveria experimentar outra realidade mais próxima dos franciscanos. Entretanto, era feliz onde estava, e sou eternamente grato aos Redentoristas pela formação que me oportunizaram, embora o ser franciscano morasse em meu interior. Fui ter a certeza disso quando adentrei a floresta, e tive o meu primeiro contato com os povos indígenas. Ai sim, o ser franciscano aflorou de vez dentro de mim, me identificando plenamente com aquela realidade que adotei como minha.

O dia de ontem foi de São Francisco de Assis, mas hoje é a vez de outro franciscano: São Benedito, comemorado anualmente nesta data, aqui no Brasil. Aliás, o Brasil é o único país que celebra o Dia de São Benedito em 5 de outubro, graças a uma determinação Canônica concedida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pelo Vaticano, em 1983. São Francisco é o padroeiro dos afro-descendentes, cozinheiros e donas de casa. Nasceu em 1526, na ilha da Sicília, na Itália, numa família de escravizados africanos. Por ser negro, sofreu muito preconceito durante toda sua infância. Benedito era conhecido pela sua humildade e desapego aos bens materiais, vivendo uma vida simples. Morreu em 4 de abril de 1589, como um simples frade franciscano na cozinha do convento, onde trabalhava. Foi canonizado em 1807 pelo papa Pio VII. Por causa de sua ancestralidade afrodescendente, tanto na umbanda como no candomblé, São Benedito é o orixá Ossain, da cura.

“Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado”. (Lc 10,21) Este é o versículo síntese de toda a revelação de Deus na pessoa de seu Filho Unigênito Jesus. Não é aos poderosos, aos inteligentes e alto suficientes, a quem Deus se faz revelar por inteiro. São aos pequeninos. Eles, não somente são os destinatários primeiros do Reino, mas, são é a estes a quem Deus revela a Si mesmo e o seu Reino de amor infindo. Os considerados sábios e inteligentes não são capazes de perceber em Jesus a presença do Reino. Só os desfavorecidos e empobrecidos conseguem penetrar o sentido mais amplo da atividade de Jesus e continuá-la.

Como fizeram os setenta e dois discípulos, que o texto de Lucas hoje narra, voltando da sua primeira expedição como enviados do Senhor. Eles voltaram alegres e felizes por verem que aquilo que Jesus lhes dissera, de fato, aconteceu. Jesus, porém alerta-os que o mais importante é que o nome de cada um deles estava escrito no coração de Deus, por aceitarem dar continuidade à missão d’Ele. Para Jesus, a verdadeira alegria dos discípulos é saber que a novidade do Reino está surgindo, e que eles estão participando dela como continuadores da Boa Nova do Reino.

“Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que produzais fruto, e o vosso fruto permaneça”. (Jo 15,16) A missão dos escolhidos e enviados é realizar tudo aquilo que Jesus veio trazer para nós. Se os milagres realizados são motivo de alegria para os discípulos que retornam, fazendo um balanço ao Mestre, Jesus lhes mostra que aqueles são apenas os sinais de uma libertação muito mais ampla e completa que há de vir, se o seu discipulado permanecer fiel até o fim. Também nós, podemos colocar-nos nesta mesa ótica, se fizermos a nossa adesão ao projeto de Jesus. Ele nos chama e envia em missão, para sermos os continuadores de sua missão. Cabe a nós, mantermos esta fidelidade até o fim, acreditando nas palavras ditas por São Paulo, em uma de suas cartas: “nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rom 8,39)