Quinto Domingo do Tempo Comum. Neste domingo, retomamos o Evangelho de Lucas, de forma sequencial, já que este evangelista é específico do Ano C litúrgico. Embora tenha sido utilizado no domingo passado, mas não de forma sequenciada, já que celebramos a Apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém, e a liturgia recorreu ao texto lucano que trata da infância de Jesus (Lc 2,22-40). Neste domingo, então, somos desafiados a dar continuidade ao evangelho escolhido para este ciclo do ano litúrgico. Lembrando que toda esta sequência litúrgica passou a vigorar a partir da Reforma Litúrgica ocorrida com a Constituição “Sacrosanctum Concilium”, aprovada em 4 de dezembro de 1963 onde, pela primeira vez, um Concílio Geral da Igreja Católica promulgou um documento sobre a Liturgia do rito romano. A reforma da liturgia fazia parte do assim chamado “aggiornamento” do Concílio Vaticano II (1962-1965).

Um domingo em que o forte calor deu lugar à volta da chuva, aqui pelas bandas do Araguaia. Apesar das muitas e florescentes estrelas da noite anterior, o céu amanheceu carrancudo, quando as densas nuvens escuras impediram o astro rei de mostrar a sua cara imponente. Para os que gostam de estender um pouco mais a sua estada no leito, encontraram um dia muito apropriado para tal finalidade. Como o meu relógio biológico, impreterivelmente não falha, as cinco da matina, já estava de pé, pronto para mais uma jornada, que começou com a celebração junto à comunidade Santo Agostinho, na periferia de São Félix. Sempre me lembro de todos aqueles, pelos quais diuturnamente rezo, próximos ou distantes. Como dizia a nossa Santa Teresa de Calcutá (1910-1997): “A oração torna nossos corações transparentes e só um coração transparente pode escutar a Deus”.

Gosto sempre de começar os meus dias em clima de oração. Sempre agradecendo a Deus pelo dom maior da vida que temos. A vida é uma dádiva do Criador e, ser grato por isto, é o principio fundante de nossa fé cristã, que temos um Deus que nos ama infinitamente e nos trata como criaturas privilegiadas suas. Este estado de espirito de hoje me fez recordar de uma das passagens, de que gosto muito, escrita pelo apóstolo Paulo, em uma de suas cartas: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus”. (Fp 4,6-7)

“Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus”. (Lc 5, 11) Este é o versículo que encerra o texto do Evangelho de hoje, e que nos serve como uma das chaves de leitura. Lembrando que, no contexto de hoje, Jesus está com os seus discípulos na margem do lago de Genesaré. Aliás, grande parte do ministério de Jesus ocorreu nas margens deste lago. Contextualizando um pouco mais, devemos nos lembrar, que o mar da Galileia é mencionado em várias passagens bíblicas. Ele é designado por este nome, especialmente no Novo Testamento. Todavia, esse lago também é citado com outros nomes na Bíblia. Ele é chamado de lago de Genesaré (Lc 5,1) e mar de Tiberíades (Jo 6,1).

Jesus está diante de um contexto em que pescadores, homens experientes neste ofício, tinham pescado a noite inteira e nada haviam recolhido em suas redes. Uma decepção geral tomava conta deles, que ouvem de Jesus uma proposta inusitada: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca”. (Lc 5,4) Porém, quem estava falando com eles era “o cara!” Sendo assim, prontamente eles atendem aquela ordem e se surpreendem com o resultado: “apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam”. (Lc 5,6)

“Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”. (Lc 5,10) Este foi o indicativo de Jesus a Pedro e a todos aqueles homens ali assustados diante de seu Mestre. Um verdadeiro mistério estava acontecendo ali diante de seus olhos incrédulos. Simples pescadores passando pela experiência “mistagógica” com Jesus: Mist+agogia (Myst + agagein) – mistério. Ou seja, há toda uma rica simbologia nesta cena do Evangelho de Lucas. Jesus chama seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão que está reservada a eles: fazer com que as pessoas participem da libertação trazida por Ele, e que só pode ser realizada no seguimento d’Ele, mediante a adesão com Ele e sua missão. Este convite ao seguimento é feito a todos nós e é muito exigente: é preciso “deixar tudo”, para que nada nos impeça de anunciar a Boa Notícia do Reino, no aqui e agora de nossa história. E aí, estamos dispostos a “largar tudo”? Se bem que nem tudo é calmaria, mas estando com Jesus, devemos sempre confiar, pois: Neste mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem; eu venci o mundo”. (Jo 16,33)