Na vida de seminário, a missa diária abria a perspectiva de sermos missionários itinerantes, o que na intenção inaugural de Afonso , não seria apenas a troca de paróquias, mas de andanças e de presença nas searas distantes para que os frutos do Reino anunciado por Jesus, como a oração, a fraternidade e a ação transformadora fossem mais copiosas.
Então, nos seminários, a abundância de missas previa uma ação redentora no meio do povo pobre e distante.
Os anos se passaram e alguns de nós se enfastiaram com tanta missa, adquirindo um crédito que dispensa, hoje, a gratuidade da missa semanal em suas vidas de ex-seminaristas.
Assim brincam!
Lembro-me que certa vez, um dos nossos chegou com um padre professor, questionando com transparência. “A gente reza muita missa, somos misseiros”. O padre respondeu: “O que você queria rezar? A missa dá fogo e força nas pernas” .
Resposta bem dada no horizonte de uma “Igreja em Saída”, como tinha começado Santo Afonso.
Aconteceu que, para alguns padres, o costume da missa parece que trouxe uma adicção como fuga da Missão que movimenta pernas e inova com pastorais sociais e incidem impactos de transformação da
realidade. Padres ordenados ou leigos devotos, ex-seminaristas ou não, se conformam com a piedade intimista que uma missa pode estar promovendo, sem implicar a vida num compromisso social mais vigoroso.
Por que estou escrevendo isso?
Vai minha pequena experiência de presença de terço e Novena numa Capela anexa a um Shoppjng que, de propósito , ponderei não incentivar a celebração de Missas, todas as vezes que sugeriam. Afinal, nossa experiência não era tirar os cristãos de sua paróquia de origem, mas de oportunizá-los na criação de gestos missionários para os frequentadores da feira e das beiradas pobres do igarapé do Mindu que é próximo.
O caminho para calibrar o ser “misseiro” com o ser “missioneiro“ é grande.
Vamos devagar até no pensamento. Afinal, o campo de missão do leigo é a partir de sua família e do mundo do trabalho ou do desemprego. Internalizar essas realidades como espaços privilegiados da construção do Reino não podem ser idealizadas, nem centradas egoisticamente e sem considerar a interdependência de todos os humanos, próximos e distantes, no complexo sistema de preservação da vida em sociedade e na natureza.
Jesus percebeu a necessidade de expandir seu relacionamento para além de sua parentela e para além da oficina de José.
Sabemos que Jesus deixa sua casa quando jovem e começa a percorrer a Galileia. A pesquisa histórica nos dá informações de que a fome e a doença eram grandes em quase toda a Judeia. Jesus se sentia chamado e enviado pelo Pai para percorrer os caminhos, curando e confirmando por onde passava: “O Reino de Deus está no meio de vós”.
Nós, discípulos de Jesus, devemos transitar pelos caminhos, levando a cura, em forma de presença, interesse despojado de grandeza. Isto é gesto missionário para mostrar, montar e tornar-se família de Jesus.
Como estamos inseridos numa confraria de Santo Afonso, com renovação mensal, na primeira terça ou quarta de cada mês, os ex-seminaristas e devotos de Maria, que se reúnem para o terço e novena de NSPS, estão aprendendo a acolher o mandado de Jesus. Vamos encontrar desafios, resistências e o escândalo da Cruz.
Em Lc 11,10 “Depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e enviou-os à sua frente, dois a dois, a todas as localidades, vilas e aldeias que tencionava visitar mais tarde”.
As recomendações de Jesus são detalhadas, pedem pressa e são restritivas. Pode-se dizer que, quando foi escrito , o clima da espera da volta de Jesus estava condicionada ao avanço do anúncio. O ambiente literário era apocalíptico devido às perseguições do Império Romano. Só mais tarde, com a decepção da demora da volta de Jesus, que os seguidores vão entender tudo na perspectiva da esperança do final feliz dos tempos, mas que exigia a confiança de que Ele já estava fazendo crescer como o grão de mostarda no meio do povo e vivendo sua Memória, não sendo suficiente apenas a celebração ritual da Missa.
Para ultrapassar essa dinâmica da Missa precisavam se tornar MISSIONEIROS.
E nós, quando vamos sair e percorrer as ruas e becos das margens do Mindu?
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