Segunda feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. Iniciando a semana e também o mês de julho. Para os adeptos da filosofia cabalística da numerologia, hoje é um dia especial. Estamos atravessando o 183º dia. Faltam exatos outros 183 dias para atracar o nosso barco no ano de 2025. Lembrando que a Numerologia é um ramo do esoterismo que recorre à toda uma simbologia dos números, com o intuito de estabelecer uma relação oculta entre números, seres vivos e as forças físicas, paranormais, para predizer as características da personalidade e mesmo o destino das pessoas. Diante do exposto, o que posso dizer é que sou movido mais pelo racionalismo e pelas coordenadas da amorosidade do coração.

Coração meu que está em festa. Depois de um final de semana especial, com todas as festividades celebrativas, com a posse de nosso novo bispo, Dom Lucio Nicoletto, nossa experiência eclesial falou mais alto. Iniciar a celebração ao lado do túmulo do profeta do Araguaia foi tudo de bom. Começou ali e deu continuidade no Centro Comunitário Tia Irene. Não tinha como não sentir a energia da mística que exalava daquele espaço. É como se Pedro estivesse vivo ao nosso lado, com cada um dos presentes, sentindo-o dentro de si. Fiz uma viagem no tempo, relembrando fatos do passado da caminhada desta Igreja. Confesso que o novo bispo não poderia ter escolhido melhor lugar para dar os seus primeiros passos conosco nesta Igreja: Pé/fé na caminhada.

A cada momento, o nome de Pedro era citado, numa necessidade grande que os presentes sentiam de ver acontecer no hoje da história o legado deste nosso eterno pastor. Ficou nítido que a Prelazia de São Félix precisa retomar a mística profética de Pedro e se fazer unida aos Mártires da Caminhada. Não podemos e nem devemos deixar cair à profecia e a identificação desta Igreja com as causas dos indígenas, mulheres, ribeirinhos, pescadores, e da luta pela terra partilhada com aqueles que precisam de um pedaço de chão para produzir os alimentos de que necessitamos. Uma Igreja que assuma pra valer a proposta sinodal de nosso Papa Francisco, sendo uma Igreja da Amazônia em Saída, no cuidado de nossa Casa Comum.

Muitas pessoas vieram de fora para testemunhar conosco este momento tão importante de nossa Igreja local. Pedro estava feliz, não tenho dúvida disso, assim como as pessoas de mais idade, a quem chamamos de “enfrentantes”. Os e as prelazias históricos/as como eu, lavamos e enxaguamos a nossa alma, nas águas do profetismo, da resistência e teimosia esperançosa de Pedro. Cada um dos que aqui participaram destes momentos, puderam levar consigo, um pouco de nossa mística, como sinal de que, “maior que as nossas vidas, são as nossas causas”, como Pedro mesmo nos faziam acreditar pelo testemunho de sua vida no meio de nós.

Como a liturgia deste dia nos desafia, somos convidados por Jesus a passar para a outra margem. Há muitas outras margens, às quais precisamos ir e nos fazermos presenças vivas ali. Sair da nossa zona de conforto, e ir além-fronteiras do nosso comodismo, da nossa indiferença, para seguirmos os mesmos passos de Jesus. Queremos segui-lo, por onde quer que Ele vá, mas ainda estamos por demais apegados aos nossos comodismos, às nossas estruturas institucionais e não queremos sujar os nossos pés com a poeira da estrada por onde trafegam os pobres e marginalizados. Para seguir a Jesus, precisamos estar dispostos a duas coisas que Ele mesmo nos diz no texto de Mateus hoje: correr o risco da insegurança sobre o futuro, e estarmos prontos para não adiar o compromisso: “As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. (Mt 8,20)

Seguir a Jesus é comprometer-nos com Ele e o seu Projeto do Reino. Ter uma fé coerente é exigente. Devemos estar dispostos a aceitar os sofrimentos, as adversidades, os desafios como parte inerente à caminhada. Ao aceitar o compromisso de trazer até nós o Reino de Deus, Jesus escolheu a pobreza como sua parte integrante de sua vida. Desde o seu nascimento e toda a sua vida, Ele experimentou o “desnudamento”. O Filho de Deus e Filho de David, gestado no ventre da Mãe, é rejeitado por todos em Belém, e nasce num curral, como o mais pobre dos pobres. “Não é este um carpinteiro e o filho de um carpinteiro?” Viveu seus primeiros anos exilado no Egito, passando todas as necessidades possíveis e imagináveis, junto à sua família de Nazaré. Jesus, pela sua palavra e pelo seu exemplo, convida-nos à radicalidade do desapego de tudo, mas também à alegria que haveremos de ter, em possuir o tesouro, a pérola, que é o Reino, que é Ele mesmo.