Segunda feira da 34ª Semana do Tempo Comum. Mais uma semana se abrindo no horizonte de nossas esperanças. Estamos percorrendo os últimos dias deste tempo litúrgico. A vida segue o seu trajeto natural, dando-nos a oportunidade de viver conforme os desígnios de Deus, que nos criou para a plenitude. A maturidade na fé nos faz ver, que estamos desenvolvendo uma caminhada em direção à busca constante pelas nossas realizações. Nestas horas, servem-nos de consolo as palavras do apóstolo Paulo: “Que o Deus da esperança encha-nos de completa alegria e paz na fé, para que transbordemos de esperança, pela força do Espírito Santo”. (Rom 15,13) A esperança não decepciona nunca!

Neste 330º dia em curso deste ano, vivemos uma data muito triste de nossa história humana: Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. O objetivo primeiro deste dia é o de alertar para a violência física, psicológica, sexual e social, que atinge as mulheres, sobretudo em nosso país. Lembrando que a violência contra as mulheres continua sendo uma das mais flagrantes violações dos direitos humanos mais frequentes e generalizadas em todo o mundo. No Brasil, a violência contra a mulher cresceu em 2023. Dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apontam que o número de feminicídios subiu 0,8% em relação ao ano anterior.

No Brasil, nossas mulheres são assassinadas, pelo fato de serem mulheres. Foram 1.467 mulheres mortas por razões de gênero, o maior registro desde a publicação da lei que tipifica o crime, em 2015. Também foram verificados aumentos nas taxas de registros de agressões em contexto de violência doméstica (9,8%), ameaças (16,5%), perseguição (34,5%), violência psicológica (33,8%) e estupro (6,5%). O feminicídio está presente na realidade brasileira. A palavra feminicídio ganhou destaque no Brasil quando a Lei nº 13.104/2015 foi aprovada, sendo incluída no rol dos crimes de homicídio qualificando o feminicídio como crime hediondo, inafiançável e insuscetível de graça, indulto ou anistia, fiança e liberdade provisória.

“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre”, assim afirmava uma das maiores lideranças feministas, a escritora, intelectual, filósofa existencialista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) Jesus que também tinha um grande apreço pelas mulheres, tendo algumas delas como parte integrante de seu grupo, como discípulas suas. Um número expressivo delas seguia a Jesus, com destaque para algumas delas: Maria Madalena, Joana, Suzana, Salomé, Maria, a mãe de Tiago e José. Mulheres firmes e corajosas que superaram a discriminação e o preconceito da época, e se tornaram protagonistas do processo de libertação, trazido por Jesus.

O Evangelho de Lucas, escolhido pela liturgia para o dia de hoje, nos faz refletir sobre a participação de uma destas mulheres no itinerário messiânico formativo de Jesus: a viúva pobre. Ela que vai ao templo, levando consigo a sua humilde oferta: duas pequenas moedas. Enquanto os ricos e poderosos, depositavam suas ofertas mais generosas, aquela pobre mulher deu tudo de si. Tudo o que tinha. Lembrando que no tempo de Jesus, a viuvez, principalmente no caso das mulheres, era uma situação muito difícil para elas. Sua condição econômica e social mudava radicalmente após a morte de seu esposo. A mulher perdia a proteção legal do esposo, deixando-a numa situação de pobreza e penúria. Tal situação se complicava ainda mais se o marido tivesse deixado dívidas, era obrigada a pagá-las, implicando, às vezes, na venda dos bens, e até da entrega dos filhos à servidão, por parte dos credores.

Mais uma vez, Jesus está sendo pedagógico. Usa os mecanismos da pedagogia da libertação, da exploração e opressão dos poderosos, sobre os pequenos, pobres e marginalizados. Ele aproveita do ensejo para desmascarar a estrutura daquela sociedade, sustentada, inclusive pelas lideranças religiosas no interior do templo. Enquanto os doutores da Lei exploram as viúvas e roubam suas casas, uma viúva pobre deposita no Tesouro do Templo tudo o que possui para viver. Ela dá tudo de si mesma. Dá o que tem de melhor. Como a Mãe de Jesus que se fez “totus tuus” (Toda Tua) Ao elogiar a atitude daquela pobre viúva, Jesus mostra que na “Nova Sociedade” (Reino), que acredita em Deus, as relações econômicas não são baseadas no supérfluo, mas são relações de doação total, que não se prendem a seguranças pessoais. Portanto, dentro das suas possibilidades, dê o melhor de si mesmo.