2º Domingo do Tempo Comum. A primeira dezena do mês de novembro vai sendo cumprida. A tarefa de viver, nos leva à busca incessante pela felicidade. Neste 315º dia do ano, temos o desafio de dar de nós mesmos, o melhor que podemos ser. Como observa um dos livros sapienciais, “O Senhor deu aos seres humanos inteligência e consciência, ninguém pode se esconder de si mesmo”. (Prov 20,27) Fomos criados por Deus para alcançar a plenitude da vida e não descansaremos enquanto não provar desta vontade do criador. Dar o melhor de nós mesmos sem restrições, eis a nossa tarefa! A gratidão de quem verdadeiramente ama não tem limites para expressar a sua ternura generosa.

Rezei nesta manhã no clima de esperança. Esperança pela chuva que veio, irrigando nossas vidas. No clima de esperançamento de um domingo em que o Sol se escondeu de nós, permanecendo por mais tempo em seus aposentos. Esperança de mais um dia de vida que temos para dar o melhor de nós, esperançando. É a esperança que move os corações daqueles que amam de verdade. E a esperança não decepciona, como Paulo mesmo descreveu em uma de suas cartas: “a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. (Rom 5,5) Esperança que deve ser vivida em meio a uma luta perseverante, fundamentada na certeza, garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Celebrei nesta manhã com a comunidade Santo Agostinho, periferia da pequena cidade de São Félix do Araguaia. Povo simples, humilde. Comunidade esta que passa por dificuldades, mas não desanimamos. É sabido que ninguém gosta de passar por dificuldades. Mantemos em nós o espirito paulino: “Por isso não desanimamos, nem perdemos a coragem. Pelo contrário, embora exteriormente estejamos desgastados, interiormente estamos sendo renovados a cada dia”. (2Cor 4,16). É Deus mesmo que nos renova, com a sua presença viva em nós. Deus leva o nosso ser à vida plena, por isso, seguimos construindo a nossa história, cujo fim será a comunhão e participação na própria vida divina.

“A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. (Heb 11,1) A gente até pensa em desanimar, mas em meio às tentações e provas, a perseverança cristã nos mostra que o caminhar na fé não é uma simples fidelidade ao passado, mas um impulso corajoso e decisivo em direção ao futuro, para Deus. É bem isto que Jesus está tentando ensinar para aquela grande multidão que o acompanhava. O Mestre Galileu, mostrando as contradições latentes na vida dos religiosos de seu tempo. Gente que se ocupava em levar adiante uma religião opressora dos pobres, tudo em nome de Deus: “gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. (Mc 12 38-40)

A vida daqueles religiosos não servia de exemplo de conduta para as pessoas pobres que frequentavam o Templo. Pelo contrário, suas atitudes, depunham contra eles mesmos, pois usavam da religião para oprimir os pequenos, pobres e marginalizados, promovendo uma organização de sociedade de exploração e exclusão. Por denunciar este tipo de conduta, Jesus vai ser perseguido pelos escribas e fariseus que, inclusive vão tramar a sua morte. Por outro lado, Jesus resume a essência e o espírito da vida humana num ato único com duas faces inseparáveis: amar a Deus com entrega total de si mesmo, porque o Deus verdadeiro e absoluto é um só e, entregando-se a Deus, a pessoa sai de si mesma e se dá por inteira.

O grande ensinamento de Jesus neste texto de Marcos hoje, é que o dinamismo da vida de fé, de quem segue os passos d’Ele, está no amor de quem dar-se por inteiro e, consequentemente, tece novas relações entre as pessoas, levando à construção de uma nova sociedade, mais justa, fraterna, solidária, aproximando-nos com o Reino de Deus que já está no meio de nós. Deus é fiel sempre! Sua misericórdia se faz presente na relação que Ele estabelece com o ser criado, como fica evidente num dos recortes do Antigo Testamento: “O amor do Senhor não acaba jamais e sua compaixão não tem fim. Pelo contrário, renovam-se a cada manhã. Como é grande a tua fidelidade!” (Lam 3,22-23) Como fica evidente na experiência da viúva do contexto de hoje: “Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”. (Mc 12,44)

Luiz Cassio

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