RESENHA
Cuentos Jasidicos del Holocausto, autora: Yaffa Eliach, Buenos Aires, Editorial NER, 2007. Procurava este livro desde ter lido uma citação dele numa das obras do teólogo suíço von Balthasar. Na verdade, Balthasar narra um dos contos presentes neste livro. Fascinado com a leitura desse pequeno conto, comecei a procura pelo livro. Finalmente, após tempos procurando em vão, o achei perdido no meio da riqueza da literatura judaica, na Bienal do Livro de 2007 de Buenos Aires, no stand da comunidade judaica Argentina.
A temática do holocausto não é novidade na literatura. Porém é inesgotável porque inesgotáveis são os questionamentos que dela sobrevém. Este interessantíssimo livro aborda o tema de uma forma diferente, inédita, ao apresentar uma aproximação quase desconhecida: as experiencias dos rabinos hassídicos nos momentos mais atrozes do holocausto. Não se trata de uma horrenda serie de descrições das barbáries cometidas nos campos de concentração, mas de relatos e histórias de onde emergem emocionantes atos de fé, amor ao criador e ao próximo num cenário quase impossível que isso emerja.
A riqueza deste livro é deixar o leitor frente a uma característica já conhecida deste povo que sobreviveu a milênios de história.: sua fé e o sentido de presença do transcendente em sua história. É um documento real de histórias em que essa fé enfrenta a barbárie, o ódio em sua forma mais atroz, mas, inusitadamente, faz brotar dessas experiencias, o oposto ao que estavam sofrendo; uma inaudita forma de rebelar-se ao compartilhar comida com o outro apesar da fome que os consumia, ou enfrentar a morte com dignidade. “Cumprir com os preceitos em Auschwitz foi um ato de resistência incrível que fortaleceu a resistência judia”.
CONTOS JASIDICOS DO HOLOCAUSTO é uma excelente coleção de histórias verídicas do holocausto. Em suas pouco mais de 360 páginas o leitor encontra uma mistura de prosa e poesia; lágrimas e turbulência numa coletânea de histórias de pessoas que viveram experiencias durante o holocausto, um dos piores momentos da humanidade. São histórias e relatos cativantes de um povo que foi despojado de tudo, de suas riquezas, de suas roupas, de seus nomes, de sua humanidade…. O único que os manteve ligado no meio desse caos era seu sentido de eternidade, na percepção de um Deus presente no meio deles, como em todos os momentos de sua história. Um documento único, testemunhal no qual esse povo enfrenta a barbárie, no que ela teve de pior em toda a história contemporânea.
Cada conto, cada página lida, nos defronta com o absurdo desse momento histórico que a humanidade jamais se esquecerá. Mas por detrás dessas histórias se desvela a maior característica desse povo: sua fortaleza espiritual interior, que sempre foi a essência de sua existência. Esse povo sempre colocou a totalidade da vida, incluindo suas práticas civis e domésticas sob a autoridade de Deus. As histórias contadas em suas páginas, todas verídicas, constituem um olhar emotivo dentro da alma daqueles que sofreram nas mãos dos nazistas e, sobrevivendo, utilizaram esse ódio como matéria prima para renovar suas vidas.
Para o leitor cristão, vale uma leitura ao conto “Judeu, volta a tua tumba!”, na página 103 da edição aqui comentada. Um momento arrepiante que confronta a consciência e a vivencia cristã atual com a práxis muitas vezes adotada.
Ao leitor menos familiarizado com termos judaicos, a escritora dispôs de um pequeno e eficiente glossário no final do livro que em muito ajuda, na compreensão dos contos.
Sobre o Hassidismo:
O hassidismo (jasidismo, em espanhol) é um movimento revitalizador e pietista surgido no interior do judaísmo ortodoxo, que promove a espiritualidade. O uso do termo “hassidismo” é o resultado de uma tendência surgida na primeira metade do século XVIII, com o rabino Israel Ben Eliezer em reação ao judaísmo legalista, mais intelectualizado, ao perceber a necessidade de novos modelos de vida, liderança e literatura para revitalizar a comunidade judia da Europa Oriental. Sua falta de cultura era substituída pelo fervor religioso, a despreocupação com a erudição e a adoção de um tipo de oração, união mística com Deus, com inspiração no canto e na alegria, que fazia os ensinamentos serem mais simples e diretos. A literatura hassidica contém histórias simples e pequenas, espirituais, e que tem como meta libertar o ser humano dos reveses da vida terrena. Esse movimento, nascido na Europa Oriental, espalhou-se pelos Estados Unidos e Israel após a Segunda Guerra Mundial.
Sobre a autora:
Yaffa Eliach é fundadora do Centro de Estudos e Documentação do Holocausto nos EUA. É professora de literatura e história Judaica do Departamento de Estudos Judaicos do Brooklyn College. Especialista em História da Europa Oriental do Holocausto e do Jasidismo. Ministra vários cursos e conferencias e é uma personalidade muito conhecida e presente nos meios acadêmicos e na televisão americana.
Prezado Professor Sérgio, confirmo suas palavras neste texto, onde fé, amor, compaixão, partilha,, Criador são verdadeiramente ressaltados nas histórias dos campos de concentração. Acabo de ler A Bailarina de Auschwitz , escrita por Edith Eva Eger! . Uma história vivida com momentos de superação que impressionam.
Parabéns, Professor Sérgio!
Excelentes observações, Profa. Mali. Muito obrigado. Participações como as suas, somadas aos artigos do Prof. Sérgio Ribaric’ enriquecem os conteúdos educacionais e culturais propostos pela nova Diretoria da UNESER, que por sua vez está na expectativa de outras tantas colaborações de pessoas como ambos os professores. Rogamos a Santo Afonso e à Beata Celeste Crostarosa que os abençoem sempre!
Muito obrigada, Pedro Luiz!
Igualmente, desejo que Santo Afonso e a Beata Celeste Crostarosa o abençõem pelo excelente trabalho que , como Editor, realiza neste Portal!