O rapaz se chama Henrique e há dois anos vive em situação de rua.
Antes, trabalhava com poda de árvores e, nesse ofício, conheceu e passou a conviver com uma viúva, residindo numa rua elegante da cidade.
Mas se desentenderam e (segundo ele) ficou sem lar desde então, deixando com a mulher a filha do casal, que hoje tem 8 anos de idade. Como “morador de rua” com alguma instrução, frequenta o Centro Pop da cidade, onde se cadastrou e consegue o café da manhã e a marmita do almoço, além da higiene pessoal.
No mais, carregando às costas uma mochila surrada que contém dois cobertores e papelão dobrado, perambula por pontos diversos da cidade, inclusive a Igreja do meu Bairro, onde o conheci ontem à noite, ao deixar a igreja ao final da missa.
Ele pedia ajuda a quem saia da igreja, que estava lotada. Fiquei à distância observando. Ele arrecadou uma única moeda de 0,50 centavos. Notei que alguns fiéis se desviavam para a outra calçada. Bem -acheguei-me e convidei-o a uma lanchonete ali ao lado.
Disse-me bem-humorado que uma coca seria bem-vinda e um X Salada seria uma dádiva preciosa, mas não queria forçar a amizade. Ofereci-lhe uma cervejinha pequena e a gratidão que ele mostrou no olhar me fez pedir-lhe outras cinco. Ficamos quase uma hora no local e ele me contou as agruras por que passam as pessoas na sua condição.
Indiquei locais onde ele podia se abrigar e pessoas e entidades que podia procurar para conseguir um emprego na sua área: podador de árvore. Perguntou-me se eu fazia isso usualmente.
Tergiversei um pouco e lhe falei do grupo de ex-seminarista, que me tem motivado a tanto. Henrique agradeceu e então se foi rumo ao centro da cidade – nas costas a desajeitada mochila dos cobertores dos “moradores de rua”.
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