Segunda feira da Sétima Semana do Tempo Pascal. Entramos na última semana que antecede a Solenidade de Pentecostes. Caminhando passo a passo, fizemos uma trajetória até aqui. Conosco caminha o Cristo Ressuscitado. Ainda trazemos em nós as festividades do dia de ontem, neste mês em que a Mãe de Jesus é contemplada, por ter sido escolhida, para ser pessoa importantíssima no projeto de Deus: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e Ele será chamado de Emanuel, que significa Deus conosco”. (Mt 1,23) Em Jesus, continua e chega ao ápice toda a história de Israel.
Nesta manha, o silêncio cantou uma canção de paz, através do vento assobiando em meu quintal. O outono continua despindo as árvores, depositando suas folhagens pelo chão. O calor segue predominando, neste que está sendo um dos outonos mais quentes que temos por aqui. Ao contrário do sul do país, as chuvas deram uma trégua, fazendo com que o Araguaia diminua sensivelmente seu volume d’água. Com tantas transformações ocorridas na Mãe Natureza, estamos colhendo os frutos de nossa insensatez gananciosa. Precisamos repensar urgentemente o nosso ser neste mundo, se quisermos ter vida neste planeta. Como diria Ailton Krenak: “Envenenam a Terra por não acreditar que ela é um organismo vital”.
No dia 13 de maio, a farsa histórica colonial, divulga a ideia que neste dia, em 1888, a princesa Isabel assinou a lei que aboliu a escravidão de nosso país. Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888. 136 anos se passaram, e a tal lei nunca contribuiu para que tivéssemos um país menos escravocrata e racista que temos nos tempos atuais. Herdamos uma herança colonial perversa, que não foi capaz de dar dignidade ao povo negro, ainda que somos segunda maior população negra do mundo. Basta ver o que ocorre nas periferias dos grandes centros urbanos, com os moradores que ali forçosamente residem. As “balas perdidas”, por exemplo, só encontram os corpos negros.
Celebrando o dia de hoje, a liturgia nos proporciona refletir sobre a linguagem de Jesus no seu diálogo com os discípulos. Muitas coisas Ele falou e ensinou, mas nem tudo os discípulos entenderam como devia. Hoje, ouvimos os discípulos entusiasmados dizerem a Jesus: “agora falas claramente e não usas mais figuras. Agora sabemos que conheces tudo…” (Jo 16,29-30) Todavia, Jesus lhes faz compreender que a fé deles ainda é fraca e incompleta para enfrentar as provações pelas quais eles deverão passar. Somente com coragem, convicção e ousadia, eles alcançarão êxito na missão de testemunhar o Ressuscitado, sendo seus continuadores.
O versículo que conclui o capítulo 16 do Evangelho Joanino de hoje, traz a palavra chave para todos aqueles que fizerem a sua adesão ao projeto libertador de Jesus: “No mundo, tereis tribulações. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33) A palavra chave é “coragem”. Sem ela, não vamos a lugar algum. Coragem para ousar e resistir às forças do mal que insistem em nos querer fazer desistir e sucumbir. Coragem para conhecer a palavra e vivê-la na intensidade que o Evangelho nos provoca. Alimentar a esperança com a teimosia corajosa, como nos dizia nosso bispo Pedro: “A esperança é sempre um ato de rebeldia”.
Como os discípulos de Jesus, nós também não estamos plenamente convencidos ainda de ter a compreensão daquilo que Jesus disse e ensinou. É preciso compreender Jesus e sua mensagem, mas a nossa fé ainda é muito frágil, diminuta e, por este motivo, precisamos da presença do Espírito Santo em nós. É o Espírito Santo, que fará com que sejamos uma nova criação. Aí sim, poderemos acreditar plenamente e compreender toda a verdade que Jesus revelou para nós.
É importante saber que Jesus não engana os seus seguidores. Quem realmente deseja fazer parte do grupo d’Ele, sabe que o futuro é tempo de testemunho em meio a lutas e perseguições. Ter coragem é imprescindível para quem assume o testemunho profético de Jesus. Tempos de provações, mas também de confiança e paz, pois podemos contar com o amor incondicional do Pai por nós. E desde já podemos estar certos da vitória, pois Jesus e está vivo no meio de nós. Para quem acredita em Jesus, o mundo se transforma numa realidade de missão, em que devemos testemunhar a verdade, falando às claras, como Jesus mesmo falou aos seus discípulos. Que o Espírito Santo nos faça conhecer cada vez mais a pessoa de Jesus de Nazaré e sua mensagem, para que assim possamos ser um com Ele, com coragem e ousadia do discipulado! Em si tratando de Jesus, até onde vai a sua coragem mesmo?
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