Sexta feira da Sétima Semana do Tempo Comum. Fevereiro encerrando a sua jornada sextando e em clima de folia. Isto porque, para alguns de nós, o carnaval já começou. Segura a criança! Como não sou adepto da folia, quando muito, me contento em assistir os lindos desfiles de algumas escolas, sobretudo aquelas que trazem uma temática social. Mas, o importante mesmo é não adotar para si alguns exageros: ver o carnaval pela ótica moralista de algumas religiões, e nem ultrapassar os limites do consumo exagerado, mas adotar uma forma saudável de viver os dias de festa. O carnaval faz parte da cultura brasileira, tanto que alguns saudosos compositores contribuíram com seus talentos na composição de algumas canções, tais como Lamartine Babo, Ary Barroso, Noel Rosa, dentre outros mais.
A Lua Nova, iniciada ontem, mais precisamente às 21h46, trouxe-se nos uma chuva mansa que caiu madrugada adentro, aqui pelo Araguaia, afugentado por hora o calor, tornando a nossa noite mais agradável para um sono reparador. Veio a calhar, possibilitando assim o sono do justo. É sempre bom dormir uma boa noite de sono e de sonhos fartos. Que o digam os meus anfitriões de sempre, que acordaram bem cedo, entoando os seus hinos, saudando o novo dia, que nem sequer tinha nascido ainda. Eles são mais agradecidos que nós que, quase sempre, vemos a beleza do amanhecer como se fosse a coisa mais normal. Cada amanhecer desperta a minha sensibilidade humana, me fazendo tão pequeno diante de tamanha grandeza do Universo, feito para nós pelo dedo do Deus Criador de tudo e de todos.
“Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o fruto de vocês permaneça”. (Jo 15,16)”. Somos parte integrante de um todo da criação de Deus. Junto de nós está o Universo criado, com cada uma das espécies criadas, com uma razão de ser, compondo o todo. Infeliz do homem que se acha o dono e senhor de tudo, baseado apenas naquilo que ele acha que possui. Mal sabe ele e ignora, que toda a sua riqueza acumulada, não o acompanhará na viagem que todos faremos um dia, cumprindo assim os desígnios de Deus: “do pó viestes e ao pó voltarás”. (Gn 3,19) Ledo engano, achar que a ganância, a prepotência autossuficiente e o muito acumular, lhe dará o passaporte para uma vida diferenciada dos demais, quando este apresentar-se frente a frente com o Deus Criador. Ali, certamente ouvirá pianinho: “Eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram”. (Mt 25,35)
Como discípulos e discípulas de Jesus, devemos estar sempre prontos a aprender com Ele, pois o nosso desafio é levar adiante a mesma missão d’Ele: anunciar e construir o Reino de Deus no aqui e agora. Para tanto, hoje aprendemos mais um pouco de seus ensinamentos com o texto que o Lecionário Litúrgico nos reservou para esta sexta feira: Marcos 10,1-12. Jesus está seguindo o seu roteiro decidido rumo à Jerusalém, centro do poder econômico, religioso e político. Atravessou o rio Jordão e está no território da Judeia, distante cerca de 40 km de Jerusalém. Como de costume, uma grande multidão o cercava e Ele aproveitava para desenvolver a sua prática pedagógica de ensinar. Desta vez, provocado pelos fariseus, que trouxeram a Jesus a temática do divorcio.
Como a sociedade rabínica era constituída pelo pensamento machista e patriarcal, eles seguiam a risca aquilo que determinava o Livro do Deuteronômio: “Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade”. (Dt 24,1) A prerrogativa da decisão e a escrita deste documento ficava restrita única e exclusivamente ao homem, deixando a mulher numa situação de bastante dificuldade para sobreviver. O texto é resultado de uma mentalidade patriarcal: o homem é que toma todas as decisões, e quem fica contaminada é a mulher. Jesus anula completamente essa lei, libertando o matrimônio de uma visão legalista.
A questão fundamental dos fariseus nem era uma preocupação em defesa das mulheres injustiçadas, diante daquele contexto, mas colocar Jesus numa situação embaraçosa frente à Lei de Moisés. Como Jesus não fica em cima do muro, Ele toma a defesa do casamento originário, voltando à fonte inicial, de quando foi pensado por Deus. Ele se recusa a ver o matrimônio a partir de permissões ou restrições legalistas patriarcais. Estrategicamente, Ele reconduz o matrimônio ao seu sentido fundamental: aliança de amor e, como tal, abençoada por Deus e com vocação de eternidade. Diante desse princípio fundamental, marido e mulher são igualmente responsáveis por uma união que deve crescer sempre, e os dois se equiparam quanto aos direitos e deveres. Nesta perspectiva o casal, na sua relação de amor, experimenta em si a amorosidade inerente de Deus para com todos os seus seres criados: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante”. (Gen 2,18) Tudo pensado e planejado para que, numa relação de amor profundo com Deus, ambos participem do poder criador de Deus como co-criadores do Reino.
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