Sexta feira da Nona Semana do Tempo Comum. Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. No mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, as primeiras sextas feiras de cada mês também são dedicadas à esta solenidade. Oportunidade para vivermos de forma mais profunda a espiritualidade desta festa, não como uma devoção ao coração de Jesus, como órgão do corpo d’Ele, mas é a festa do amor divino de um Deus que tanto amou o mundo que enviou o seu único Filho, Jesus Cristo, que deu a sua vida por amor a humanidade. “Vosso Coração, Jesus, foi ferido, para que na ferida visível contemplássemos a ferida invisível de vosso grande amor”. (Santo Agostinho)
Voltando às fontes bíblicas desta grande festa cristã, quis eu rezar nesta manhã na companhia sepulcral de Pedro. Ele que sempre nos alertava, para que tivéssemos sempre uma espiritualidade encarnada, quando deparássemos com o Sagrado Coração de Jesus. Isto para que não tivéssemos uma devoção vazia de sentido e significado, mas unidos ao amor de Jesus de Nazaré, amando-O e unindo-nos ao seu amor ao Pai, para que o culto do Coração de Jesus também nos levasse a amar os irmãos e irmãs, particularmente os pequenos e pobres, abrindo-nos à solidariedade fraterna.
Devemos estabelecer uma relação de amorosidade e amizade profunda com Jesus. É esta relação de amor profundo que nos sustentará ao longo da vida. Sim, porque é no/e através do coração de Jesus, que encontraremos a força e a energia necessárias, que sustentarão a nossa vida. Sim, porque Jesus quer ter uma relação de amor e amizade conosco: “Já não vos chamo de servos, mas de amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (Jo 15,15). Ele quer saber tudo de nós, quer saber de nossas alegrias, das nossas conquistas, e também dos nossos problemas, nossas dores, nossos fracassos. Ele quer participar de tudo o que é nosso. Ele é o nosso conforto, o nosso sustento, o nosso amigo mais íntimo e fiel escudeiro.
A Solenidade do Sagrado Coração de Jesus é uma festa especial para a Igreja Católica. Liturgicamente, a ênfase maior é dada pelo relato do Evangelho de João, que narra a cena triste do calvário, em que são cortadas as pernas dos crucificados juntos de Jesus. Como Ele já estava morto, um dos soldados transpassa o seu coração com uma lança. De seu coração aberto, jorra sangue e água. O sangue simboliza a morte; a água simboliza o Espírito que dá a vida. O evangelista nos mostra que, com sua morte, Jesus trouxe-nos a vida. Testemunhar este sinal é questão decisiva para todos os que creem, pois só através d’Ele, a história humana vai encontrar a possibilidade de chegar à sua plenitude, dando lugar a uma sociedade livre, igualitária e fraterna. É acreditando na vida de Jesus que continuamos a obra libertadora por Ele iniciada.
“Nisto conhecemos o amor: Ele deu a vida por nós. Também nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 3,16). A fé em Jesus nos leva a assumir um compromisso que produz vida nova. Essa vida não se dá apenas por um conhecimento acerca d’Ele, mas pela prática do mandamento do amor, que não significa apenas amar com sentimento e com afeto, mas através de ações concretas, promovendo a vida e a liberdade dos irmãos e irmãs. A prática do amor não tem limites, pois devemos amar como Jesus amou: assim como ele foi até o fim dando sua vida por nós, também nós devemos dar a vida pelos irmãos. Amar sem limites e até as últimas consequências.
Segundo a Bíblia, o coração recolhe em si a plenitude da vida espiritual, que abraça o ser humano por inteiro com todas as suas potencialidades. Na concepção semítica do povo da Bíblia, no “coração” se alojam dois aspectos complementares, um ligado à interioridade do ser humano (vida afetiva, intelectual, moral e religiosa) e outro ligado à sede da inteligência e da sabedoria. Todavia, na sua compreensão antropológica, o coração do homem é a própria fonte da sua personalidade consciente, inteligente e livre. É ali que está o centro das suas opções decisivas, da lei não escrita e da ação misteriosa de Deus. Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, o coração é o lugar onde o homem encontra Deus, encontro este que se torna plenamente ativo no coração humano do Filho de Deus.
Devotar a nossa fé no coração misterioso de Jesus é fazer da nossa vida o centro deste coração que está pleno do amor divinal de Deus. O Pai e o Filho são movidos pelo amor incondicional e infinito pela humanidade. Diante do coração de Jesus, vemos pulsar o coração de Deus, cheio de ternura e misericórdia para com todos os seus. A sintonia que nos une a este coração, inflado de amor de Jesus, deve fazer de cada um de nós, pessoas livres para amar. Sem limites para amar. Do coração aberto de Jesus, vemos brotar o sangue derramado pela nossa libertação e a água cristalina do batismo que nos faz irmãos e irmãs na mesma caminhada com Ele. “Tomai sobre vós o meu jugo e de mim aprendei que sou de manso e humilde coração”. (Mt 11,29)
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