Primeiro Domingo da Quaresma. Serão ao todo seis domingos, até chegarmos ao cerimonial da Páscoa. Quarenta dias de um percurso didático, catequético e eclesial, que faremos em preparação para celebrar a Ressurreição de Jesus. A referência maior destes quarentas dias é o período em que Jesus de Nazaré esteve no deserto. Iremos assim até a quarta feira santa, já que na quinta feira, dá-se o início ao Tríduo Pascal, que compreende a Sexta feira Santa, o Sábado da Aleluia e o Domingo de Páscoa. Quaresma, portanto, é tempo de preparar o corpo/mente e o espírito para entrarmos em sintonia com o Projeto de Deus revelado por Jesus, o Verbo Encarnado.
Sintonizar com o projeto de Deus sem perder de vista a realidade que ora vivemos. Neste dia 18 de fevereiro, por exemplo, a sociedade brasileira faz referência ao Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. Dia para promover uma sensibilização da população sobre os malefícios do consumo excessivo de álcool, promovendo também formas de tratamento àquelas pessoas que lutam contra a dependência química do álcool. Dados revelam que tem crescido assustadoramente o consumo do álcool, sobretudo nas populações mais jovens. Estimativas dizem que cerca de 12 milhões dos adultos consomem bebidas alcoólicas uma vez por semana ou mais. O alcoolismo é uma doença grave, pena que a pessoa é a única que não consegue ver-se doente.
O domingo iniciou em clima de paz e serenidade aqui pelas bandas do Araguaia. Depois do turbilhão de água que caiu na tarde deste sábado, o calor deu uma trégua, trazendo-nos uma noite de relaxante frescor. O amanhecer de domingo acompanhou esta serenidade, com o sol escondendo-se entre nuvens, demorando em anunciar o dia que veio a passos lentos. Rezei na calmaria de meu quintal, com os meus anfitriões estendendo um pouco mais a sua noite de sono, nos seus berços naturais. Rezei em sintonia com o Livro das Lamentações, refletindo um de seus belos poemas de amor: “o amor do Senhor não acaba jamais e sua compaixão não tem fim. Pelo contrário, renovam-se a cada manhã: Como é grande a tua fidelidade!” (Lm 3,22-23)
O ciclo litúrgico que estamos vivendo neste ano de 2024 é o do Ano B. Neste ano, o Evangelho escolhido é sempre o de Marcos, o primeiro dos sinóticos. A comunidade de Marcos tem o proposito de nos dizer quem é Jesus, não através de uma doutrina catequética, mas narrando as atividades messiânicas dele, para que cada um de nós cheguemos à conclusão por nós mesmos quem é o Messias, afinal? Vindo fazer-se presente em nossa realidade humana, Ele dará continuidade à história de Israel, afinal é um descendente direto de Davi e Abraão. Assim, como filho de Davi, Jesus é o Rei-Messias que vai instaurar o Reino prometido. Como filho de Abraão, Ele estenderá o Reino a todas as pessoas, através da presença e ação daqueles que fizerem a sua adesão a seu projeto de amor.
Marcos inicia o texto de hoje dizendo-nos que Jesus fora conduzido ao deserto pelo Espírito e lá foi tentado. Permaneceu ali por quarenta dias. Um dado importante que precisarmos saber, para melhor entender o contexto, é que este deserto, mais do que um espaço geográfico histórico, é antes de tudo, um lugar teológico. Lugar de provação. Na Bíblia, o deserto simboliza a hostilidade, em que Deus põe a prova o seu povo, a fim de prepara-lo. O deserto também funciona como o lugar de ver/sentir a presença protetora de Deus sobre o seu povo e de louva-lo pelo seu grande poder soberano. Quarenta anos foi o tempo que o povo de Israel esteve no deserto, após sair do Egito, esperando o momento de tomar posse da terra prometida, chamada Canaã. Esta história está relatada no Livro de Êxodo.
São as primeiras palavras ditas por Jesus, imediatamente após ser batizado por João Batista no Rio Jordão, e ao saber da prisão do precursor. Trata-se da palavra chave para interpretar toda a sua atividade messiânica. A tentação no deserto resume os conflitos que Jesus vai experimentar em toda a sua vida. Deverá enfrentar o representante das forças do mal que escravizam as pessoas. O que ocorrera com o Batista é o prenúncio daquilo que o aguardava mais a frente, vindo de Jerusalém. Todos nós também, de alguma maneira, somos tentados a aderir ao projeto do mal, das coisas fáceis, e também de tornarmos opressores, aliados das forças do mal. Nem sempre estamos firmes e, às vezes, sucumbimos diante das propostas dos opressores. Todos/as teremos os nossos desertos para atravessar: lugar de provação, de angústia, de tentação, mas também da certeza de que conosco, Ele sempre vai estar! Crer para converter! Converter para crer! Que saiamos fortes e decididos dos nossos desertos!
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