Quarta feira da Sétima Semana do Tempo Comum. No dia vinte e dois de maio, estamos atravessando o 143º dia deste ano bissexto. Mais outros 223 dias, e estaremos navegando no ano vindouro. Uma matemática cronológica, que não nos impede de viver um dia de cada vez, na intensidade maior que a vida nos pede. Viver por inteiro e não pela metade, como Deus plasmou em nossa essência, com o selo da criação. Quem assim não vive e pensa, corre o risco de não contribuir com o projeto criacional de Deus para a humanidade, que Ele quer ver feliz e realizada.

Vinte e dois de maio é uma data importante para os amantes da natureza. Dia Internacional da Biodiversidade. Este data foi instituída pelas Nações Unidas para celebrar a adoção da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CBD) no dia 22 de maio de 1992. O tema escolhido para este ano é “Faça parte do plano”, conclamando-nos a todos para dar a nossa parcela de contribuição de modo a conscientizar e nos educarmos sobre a biodiversidade que queremos viva, para também nos trazer a vida. Somos assim chamados a reexaminar a nossa relação com o mundo natural, pois apesar de todos os avanços tecnológicos, continuamos a ser dependentes de ecossistemas saudáveis e vivos para obter água, alimentos, remédios, roupas, combustível e energia.

Vinte e dois de maio é dia de também lembrarmo-nos de Santa Rita de Cássia. Mulher e mãe de vida muito difícil, Rita tornou-se monja Agostiniana. A santa intercessora da família e também das causas impossíveis. A devoção popular fez desta mulher uma grande aliada das causas da vida. Talvez pelo histórico sofrido de sua vida, que a fez repensar a sua trajetória, nos apresentando esta frase de sua autoria e que poderíamos adotar como lema para a nossa vida: “Nunca é tarde demais para mudar a direção da sua vida. Sempre haverá uma nova rota ou uma nova chance de recomeço”.

A liturgia desta quarta feira segue nos propondo a reflexão do Evangelho de Marcos. Este evangelista que escreveu o seu Evangelho com a finalidade precisa de responder à pergunta: “Quem é Jesus afina?”. Todavia, ele não responde a tal pergunta com teorias ou discursos evasivos de Jesus. Marcos dedica-se a relatar a prática, ou seja, a atividade messiânica de Jesus, possibilitando que nós, seus leitores, cheguemos por nós mesmos à conclusão que Jesus é o Messias, o Filho de Deus “E vocês, quem dizem que eu sou? Pedro respondeu: Tu és o Messias”. (Mc 8,29) Os discípulos bem que demoraram para entender esta lógica de Marcos, apossando do direito de achar que as outras pessoas não possam ser seguidoras de d’Ele como eles.

Muitos de nós ainda hoje temos este mesmo comportamento excludente e preconceituoso dos discípulos de Jesus. “Somente nós haveremos de salvar”. “A nossa Igreja é a única certa”. “Somente nós é que seguimos Jesus”. Quando assim pensamos, nesta hora sobressai enormemente a intolerância religiosa e o desrespeito ao direito das pessoas de manterem as suas crenças religiosas. É o que estamos vendo, por exemplo, com as religiões de Matriz Africana, quando católicos e evangélicos ultraconservadores, se sentem no direito de destruir os Terreiros de Umbanda.

“Quem não é contra nós é a nosso favor”. (Mc 9,40) Jesus sendo categórico e resumindo toda a missão daqueles e daquelas que fizerem a sua adesão pelo Projeto do Reino. O texto de hoje reflete toda a teologia e eclesiologia da missão para nós, nos dias de hoje. Precisamos acabar com esta mania de grandeza dos discípulos de ontem e de hoje, que se orgulham diante daqueles que “não pertencem ao grupo”. Parece que somente estes têm capacidade de realizar ações correspondentes aos ensinamentos de Jesus. É como se mantivessem o monopólio absoluto sobre Jesus e seus ensinamentos.

A missão vai muito além do que pensamos ou achamos que podemos fazer. Mas o Mestre mostra-lhes que a sua missão e os seus ensinamentos não podem ser encerrados atrás de portas ou de muros. “O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito”. (Jo 3,7-15) Jesus não exclui ninguém. Os discípulos não podem pretender um monopólio absoluto sobre Jesus. A comunidade dos crentes, seguidores de Jesus, deve estar aberta àqueles que não lhe pertencem. “Igreja em Saída”, como deseja o Papa Francisco. Com certeza, Jesus não quer que o grupo daqueles que o seguem se torne uma comunidade fechada e monopolizadora da sua missão. Toda e qualquer ação que desaliena as pessoas de modo geral, é parte integrante da mesma missão de Jesus.