Comunicação Não-Violenta e a Força da Conexão Humana, por MARINA CAMPOS

O que são sentimentos? O que são necessidades? O que é violência? Qual é a relação disso tudo com a comunicação? Como deve acontecer a comunicação para que seja chamada de comunicação não-violenta? De que forma isso impacta na conexão humana?

Trazendo de uma forma simples para algumas reflexões, podemos definir sentimento como a interpretação de uma emoção, que envolve tanto a ação de hormônios e neurotransmissores liberados no organismo de cada indivíduo, como também o repertório de vida de cada ser humano. As necessidades podem ser entendidas como aquilo que os seres vivos precisam. A violência pode ser interpretada de diversas formas, mas aqui, para o contexto desta abordagem, vamos defini-la como uma necessidade que não está sendo atendida, quando ocorre um processo de desconexão entre o que as pessoas querem.

Dentro deste contexto, comunicação não-violenta (CNV), não é o que falamos, é o que pensamos, é o que sentimos. A CNV não é, portanto, um modelo de linguagem, é um modelo de pensamento, onde a ênfase está na conexão humana. A CNV não foi criada para convencer o outro, e sim para entender o outro. Tudo aquilo que promove a desconexão, pode aqui, ser chamado de violência. A comunicação não violenta teve seu início em meados dos anos 60, com o psicólogo humanista, norte-americano, Marshall Rosenberg.

As sociedades humanas, infelizmente, não estão estruturadas para suprirem as necessidades e sim para valorização do poder, da competição. A desconexão ocorre quando não entendemos e não nos importamos com as necessidades do outro e isso pode acontecer por diversos motivos sendo, um deles, por estarmos no piloto automático, sem nos darmos conta daquilo que está acontecendo conosco e também com o outro.

A verdadeira relação de conexão com as outras pessoas não deve envolver julgamento, culpa, vitimismo ou mesmo, dependência. Muitas vezes assumimos esses papéis de forma inconsciente, sem nos darmos conta. Isso pode acontecer, por exemplo, pela forma com que interpretamos as nossas emoções, por uma falta de identificação com o nosso sentimento e, por uma enorme desconexão conosco.

A conexão é, portanto, fundamental! Deve acontecer, primeiramente conosco, para que depois, aconteça com o outro. O primeiro passo para que haja uma boa comunicação e uma conexão entre as pessoas, é o processo profundo e verdadeiro de autoconhecimento, de identificação de sentimentos e necessidades. Aí sim, o próximo passo, é o olhar atento para os sentimentos e necessidades do outro.

Quando encontro estratégias para atender as minhas necessidades, quando estabeleço limites internos, os conflitos tendem a diminuir. Quando nossa mente está mais tranquila e nosso coração mais aberto, pedimos menos para o mundo. Poder “ser dono” do nosso estado interno e encontrar espaços, de conforto e segurança em nós mesmos, traz mais leveza nas relações, facilita a comunicação e consequentemente, a conexão.

Quando entendemos as necessidades do outro e isso importa e, quando o outro entende e se importa com as nossas necessidades, podemos dizer que uma conexão foi estabelecida. Isso permite que sejam criadas estratégias diversas que sejam satisfatórias para ambos.

A conexão conosco e com os outros acontece naturalmente. Mas é um processo muito difícil pois, normalmente, não encontramos espaço para esse encontro conosco e muito menos com o outro. Se eu me encontro comigo mesmo, eu me permito me encontrar com o outro. Se eu me responsabilizo por mim mesmo, eu abro espaço para o outro.

Por isso, no momento atual em que estamos vivendo, a CNV vem ganhando tamanha importância pois, quando aplicada em empresas, por exemplo, traz um enorme benefício, não apenas em termos de gestão e produtividade, mas principalmente num contexto humano e social.

A CNV é composta por 4 etapas ou pilares:

– Observar a situação sem julgar,

– Nomear os sentimentos,

– Identificar as necessidades,

– Fazer corretamente o pedido.

Este processo envolve deixarmos de ser amáveis e passarmos a ser autênticos. Isso gera conexão, pois quando nos permitimos olhar para os nossos sentimentos e atender às nossas necessidades, permitimos também ao outro que o faça. Com isso, nos tornamos menos reativos, diminuímos a ativação emocional e passamos a ter mais respostas e escolhas conscientes, nos conectando de maneira mais saudável e sustentável conosco e com as outras pessoas.

Somos seres sociais e como tais, precisamos interagir com outras pessoas para sobrevivermos. Precisamos colaborar, precisamos nos conectar. Esta atitude, dentre outros benefícios, ativa o sistema mamífero de cuidado, que permite, ao nosso organismo, a liberação de ocitocina, que irá ativar um sistema de afiliação, que aceita vínculos e fortalece o ciclo de conexão, confiança e coragem. A ocitocina é chamada, por alguns pesquisadores da área, de molécula da confiança, e atribuem a ela, o sucesso de empresas, de cidades e de nações.

Vale a pena refletirmos que, talvez, o próximo grande salto da humanidade, seja descobrir que cooperar é melhor que competir. A conexão com o outro é o que nos torna livres! É possível!

Dra. Marina Campos – Formação em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Humano. Autora do livro “É Possível? Cultive a vida em Alta Performance”. Biomédica – Mestre e Doutora em Análises Clínicas – USP Professora da Universidade de Mogi das Cruzes. Sócia do Sancet Medicina Diagnóstica. Instagram: @marinacampos.mc

 

coneki

View Comments

  • Mto Bom Marina.
    Creio que por isso temos tantas doenças. E se calarmos perante qualquer tipo de violência, ficamos doentes. Mto bom trabalhar a mente e entender… e reagir…. E aceitar mtas das coisas q tb faz parte de apenas aceitarmos. ?????

  • Para este momento em que vivemos… muito apropriado o texto.

    “Mude seus pensamentos e você mudará *seu* mundo “
    Norman Vincent Peale

  • Muito bom esse texto, que a Marina escreveu!!
    Sim!!! Sem dúvida quando as pessoas entenderem que é melhor cooperar que competir, esse mundo vai melhorar muito!!!
    Parabéns Marina!!!

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