Terça feira da vigésima quarta semana do tempo comum.
E assim vamos nós sob os acordes da primavera que se prenuncia. A vida brota dos brotos e deles a flor. Deus se fazendo vida na transformação da natureza com amor. Da flor surge a semente, sinal da vida que vai acontecendo sob a lógica do bem viver. De esperança em esperança! De saudade em saudade dos bons e velhos tempos de outrora, que o sorriso brotava faceiro no rosto das crianças. Sob o domínio do bem viver, sigamos o conselho de Maomé que dizia: “Quem quiser plantar saudade, trate de escaldar a semente. Plante no solo bem duro, onde o Sol seja mais quente. Pois se plantar no molhado, ela cresce e mata a gente”.
Mais um dia de festa para a Igreja Católica. No dia de hoje ela celebra a solenidade de São João Crisóstomo (309-407), bispo e doutor da Igreja. Nascido em Constantinopla, apesar de ser um homem simples, tornou-se um dos mais importantes patronos do cristianismo primitivo. Dada a sua capacidade à oratória, recebeu o título de “Boca de Ouro”. Ao contrário de alguns membros do episcopado, que ficam contemporizando e fazendo o jogo de uma elite perversa, João Crisóstomo fez o enfrentamento dos poderosos, o que lhe custou, perseguição, exílio e a morte. Fez a opção evangélica radical de dar a sua vida pelos pobres. Uma de suas frases tem muito a ver com os dias atuais: “Nada provoca mais dano do que a hipocrisia. O mal oculto sob a aparência do bem é muito mais eficiente”.
Os dias que correm são sombrios, tenebrosos. Uma das notícias veiculadas no dia de ontem chamou a nossa atenção pelo lado negativo. O Brasil bateu novo recorde na compra de armas no exterior. Este tipo de negócio cresceu 39% nos primeiros seis meses de 2022, se comparado ao mesmo período do ano passado. Um aumento de R$ 42 milhões (US$ 7,9 mi) segundo o registro do Sistema Integrado de Comércio Exterior. Nunca se comprou tantas armas de fogo como nestes últimos tempos. Nossa população está armada. Em todos os sentidos é nítido este armamentismo belicoso, seja nas palavras, ou mesmo no jeito de lidar com o diferente, que não é mais um adversário, mas um inimigo a ser combatido. Vale o pensamento do filósofo holandês Baruch Spinoza (1632-1677): “Não é pelas armas, mas pelo amor e pela generosidade que se vencem as almas”.
Somos ou deveríamos ser da cultura de paz. A paz precisa ser perseguida a qualquer custo. Paz que é fruto da justiça, diz a Doutrina Social da Igreja (DSI). “O fruto da justiça será a paz”. (Is 32,17) Justiça e paz se abraçarão e delas nascerá a esperança de vida plena para todos. Objeto da esperança é um mundo novo onde reine a justiça e o direito que geram paz e a prosperidade. Não se constrói uma sociedade onde a força das armas se sobreponha ao direito e a justiça para todos. A não violência era o dístico principal do projeto messiânico de Jesus. A não violência deve ser também a nossa plataforma de ação. Até porque, como dizia Mahatma Gandhi (1869-1948): “A força gerada pela não violência é infinitamente maior do que a força de todas as armas inventadas pela engenhosidade do homem”. Quem usa da força das armas, prova antes a sua incompetência em gerir os conflitos.
Jesus é o Príncipe da paz! (Is 9,6). O mensageiro da Boa Nova da libertação para os pequenos. Jesus que ia onde as pessoas mais necessitadas estavam, como o vemos hoje no Evangelho de Lucas. Se ontem o vimos em Cafarnaum, hoje Ele está na cidade de Naim, uma pequenina cidade na região da Galileia, situada 8 quilômetros do monte Tabor, lugar da transfiguração de Jesus. O Mestre diante de uma situação inusitada: “Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único; e sua mãe era viúva. (Lc 7,12) Uma pobre mãe viuvá num cortejo fúnebre para enterrar o seu filho único. Quer dor maior que esta? Mas Jesus, cheio de compaixão, vê a situação, aproxima-se, toca e ordena: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” (Lc 7, 14) Compartir é viver! Quem age movido pela compaixão, age pela vida e gera vida. Compartir é sentir a dor do outro em si. Gesto nobre de quem abre as vísceras do coração para trazer em si a dor de quem sofre. Compartir para viver. Compaixão como virtude. Em Jesus, com sua atividade libertadora, Deus vem visitar o seu povo. Essa visita é a manifestação da amorosidade e da ternura compassiva, que atende aos mais pobres e necessitados. A morte não tem a última palavra, pois a vida triunfou. Ficamos com as palavras de São João Crisóstomo: “O ócio mata o corpo, a indiferença mata a alma, no entanto o exercício das virtudes embeleza tanto um como outro”.
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