Terceiro Domingo da Quaresma. O primeiro do mês de março, que ainda estamos sob as coordenadas do verão, de um calor imenso. Mais dois domingos e encerraremos o ciclo da quaresma, quando, através do Domingo de Ramos, damos entrada em mais uma Semana Santa, momento em que estaremos celebrando mais intensamente a Paixão Morte e Ressurreição de Jesus, culminando em sua Páscoa. A vida vencendo a morte, porque Deus é amor! Deus é vida! Vida plena para todos! Estamos assim, atravessando o deserto da nossa conversão. Mudar para viver, sob a perspectiva de Deus que se revela na pessoa do Filho. “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz” (Mc 9,7)
O dia 3 de março é bastante significativo para todos nós aqui da Prelazia de São Félix do Araguaia. Há 52 anos (1972), acontecia na cidade de Santa Terezinha/MT, a grande conquista dos posseiros, na luta pela terra. Eles que vinham sendo ameaçados pela Companhia de Desenvolvimento do Araguaia (CODEARA). Este conflito, vinha se arrastando desde 1967. Apesar de toda intimidação perseguição e até mortes, os pioneiros moradores resistiram, fixando ali suas moradias, dando origem ao munícipio de Santa Terezinha. Uma grande conquista, graças ao apoio sistemático da Prelazia de São Félix do Araguaia, nas pessoas do padre Francisco Jentel e também de nosso bispo Pedro Casaldáliga e os Agentes de Pastoral. Os moradores conseguiram vencer a pressão da fazenda e obter a posse legítima da terra. Viva a luta dos posseiros do Araguaia!
O dia 3 de março também marca um momento importante para a história mundial. Comemoramos hoje, o Dia Internacional da Vida Selvagem. Esta data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), dando destaque especial para a flora e a fauna do planeta. O objetivo principal da criação desta data foi, exatamente, alertar para os perigos do vergonhoso tráfico de espécies selvagens animais. Um comércio lucrativo. Segundo estimativas da ONU, o tráfico de animais e a caça ilegal esportiva, chegam a valer cerca de 215 milhões de dólares por ano. Já nos dizia o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804): “Podemos julgar o coração de um homem pela forma como ele trata os animais”.
Neste tempo da quaresma somos convidados a buscar a nossa conversão: “conversão, justiça, comunhão e alegria do cristão, é missão de cada dia!” Converter-nos a partir dos textos bíblicos que nos são propostos pela liturgia católica. Hoje estamos diante a literatura joanina. Como no Ano litúrgico B, lemos e aprofundamos o Evangelho de Marcos, neste domingo e nos outros dois mais que teremos pela frente (10 e 17), abriremos uma exceção para refletirmos com o quarto evangelho: (Jo 2,13-25); (Jo 3,14-21); (Jo 12,20-33). Despois, voltaremos ao evangelista São Marcos, no Domingo de Ramos.
O texto de hoje é bastante conhecido de todos nós. Trata-se da cena de Jesus, com um chicote nas mãos, expulsando veementemente os vendedores e cambistas do Templo. É importante salientar que, por se tratar de um acontecimento importante, ele aparece descrito nos quatro Evangelhos, a saber: Mt 21, 12-14; Mc 11,11.15-17; Lc 19,45-47 e o de hoje Jo 2,13,21. Ao contrário dos demais evangelistas, João coloca este acontecimento no início da atividade messiânica de Jesus. Uma atitude de revolta por parte de Jesus, já que o Templo, havia se transformado em casa de comércio e não em casa de oração.
Para a comunidade judaica, o Templo era considerado o lugar privilegiado de encontro com Deus. Ali se colocavam as ofertas e sacrifícios levados pelos judeus do mundo inteiro, formando assim um verdadeiro tesouro, administrado pelos sacerdotes. Desta forma, a casa de oração se tornara em lugar de comércio e poder, disfarçados em culto religioso. O templo era o “oikós”, palavra de origem grega que pode ser traduzida por “casa”. Seria assim a “Casa de Deus!”. Este termo grego “oikos”, também pode ser utilizado como um prefixo que dá a origem etimológica da palavra ecologia “Ökologie”, em que “oikos” significa “casa” e “logos” quer dizer “estudo”, ou a “casa de todos”. O Papa Francisco aproveitou desta definição, para nos alertar sobre o cuidado que temos que ter com a “Casa Comum”: “cuidar da nossa casa comum, mesmo sem considerar os efeitos das mudanças climáticas, não é simplesmente um esforço utilitário, mas uma obrigação moral para todos os homens e mulheres como filhos de Deus”.
Jesus teria muito trabalho também nos dias de hoje, já que o “espaço do sagrado” se transformou em lugar de comércio, em benefício de uns poucos, padres, bispos e pastores. Ao expulsar os comerciantes, Jesus denuncia a opressão e a exploração dos pobres pelas autoridades religiosas de ontem e de hoje. Ele não quis “purificar” o Templo, como algumas traduções assim o dizem, até porque, na sua concepção o verdadeiro Templo é o seu corpo, que se “corporifica” nos corpos de todos aqueles e aquelas que o seguirem, como o apóstolo Paulo entendeu muito bem ao dizer em uma de suas cartas: “Ou vocês não sabem que o seu corpo é templo do Espírito Santo, que está em vocês e lhes foi dado por Deus?” (1Cor 6,19)
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