Quarta feira da Terceira Semana do Advento. Cada dia que chega, damos um passo em direção à gruta de Belém. Simbolicamente, no Natal, celebramos a Festa do Nascimento do Filho de Deus. Esta festa nos permite renovar a nossa fé no Deus da vida, que vem fazer morada definitiva em nossa história. Um menino da periferia, que vem renovar todas as coisas no centro da nossa fé, inaugurando a grande família humana.
Uma quarta feira nostálgica, em função da chuva que cai desde a madrugada, afugentando o forte calor. Neste clima, recordamos que no dia 20 de dezembro, celebramos o Dia Internacional da Solidariedade Humana. Tal data objetiva destacar a importância das ações coletivas para superar os problemas da humanidade. Foi pensado pela Organização das Nações Unidas (ONU), a partir do ano de 2005. Construir um mundo mais humano, fraterno e igual, é o objetivo de todos que acreditamos noutro mundo possível.
Um mundo de paz, justiça, pleno de amor, como Deus quer. Um mundo humanizado, em que a vida seja plena de todas as realizações. Neste sentido, a liturgia desta quarta feira contribui para a nossa reflexão, com uma das páginas mais conhecidas de todo o Novo Testamento: a visita do anjo Gabriel a uma jovem mulher da periferia de Nazaré, na Galileia. Um lugar de onde nada se podia esperar, Deus lá vai estar.
Já estamos dentro do clima de Natal. Os textos bíblicos que a liturgia nos oferece para reflexão, remete-nos à grande festa. Se ontem, meditamos e rezamos com a visita do anjo ao casal Isabel e Zacarias, hoje é vez de Maria passar pelo processo teofânico, Deus se manifestando aos seres humanos. Deus adentrando e divinizando a história
Como ser humano que era, humilde e simples, Maria fica inicialmente perturbada com a saudação do anjo. E não é para menos. Qualquer um de nós teria a mesma reação, afinal é Deus comunicando aos seus o seu Projeto Libertador, passando pelas coordenadas humanas.
Surpresa e perturbada, Maria faz o processo de discernimento acerca da vontade de Deus e, como ela ficaria em toda aquela história. Ela toma a decisão favorável ao Projeto de Deus depois de ter todo o entendimento do que significaria tudo aquilo em sua vida. A sua decisão é, portanto, consciente e sem sombra de dúvida.
“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Uma decisão corajosa para aquela mulher simples. Entrega-se totalmente nas mãos de Deus, confiante de que Ele conduziria todo o processo até a sua consumação. É preciso ter muita fé para fazer o enfrentamento de uma sociedade machista, patriarcal, sendo protagonista de vez e voz feminina, diante de uma estrutura tão pesada e forte. Deus agindo na história pelo protagonismo feminino.
Com o seu jeito feminino de ser, Maria se torna a digna representante da comunidade dos pobres que ansiavam pela libertação. Dela vai nascer Jesus Messias, o Filho de Deus. Será exaltada grandemente, como assim nos referimos a ela em uma de nossas orações: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres, bendito é o fruto em Vosso ventre, Jesus”.
Em Maria, do ventre materno de nossa Mãe, vai nascer Aquele que iniciará a nova história, surgindo dentro da história de maneira totalmente nova, com a participação humana. O divino de Deus se fazendo humano, divinizando a nossa história. Santo Agostinho soube definir muito bem o que pensamos de Maria: “Tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus.”
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