Domingo de Ramos.
Enfim chegamos a primeira etapa de nossa caminhada. Quarenta dias se passaram até aqui. Embasados na experiência primeira do povo hebreu, se libertando da escravidão do faraó no Egito, fazemos também a nossa caminhada de fé, nos libertando das amarras cotidianas que nos afastam do projeto libertador de Deus. Quaresma nada mais é do que uma preparação para o grande acontecimento salvífico que se dará calvário com a Paixão, Morte e Ressurreição do Filho de Deus. Nele e por Ele, fazemos sintonia com o Deus da vida que veio morar definitivamente no meio de nós. Uma semana cheia nos aguarda.
Hosana ao Filho de Davi! O profeta da paz. Bendito o Rei que veio em nome do senhor! Um rei pobre com os pobres e para os pobres. Jesus o profeta de Nazaré da Galileia. O Nazareno sendo acolhido pelos simples, humildes e pobres: “Enquanto caminhavam, as pessoas estendiam os próprios mantos pelo caminho”. (Lc 19,36) “De maneira simples e espontânea, Jesus é aclamado como Rei-Messias. Despojado dos tradicionais aparatos dos reis, ele se apresenta de modo humilde e pacífico. Traz consigo a inversão de um sistema que se apóia na violência e na força das armas, e que defende os privilegiados. Por isso, as autoridades tentam calar aqueles que aclamam Jesus como o Rei que traz a verdadeira justiça”.
A semana está apenas começando. Ao longo dela iremos mergulhar profundamente no mistério da mesma caminhada feita por Jesus, rumo ao seu calvário. Ao aclamar Jesus neste dia, acolhemos o projeto de Deus que Ele veio trazer para o meio de nós, inaugurando na história humana, novos horizontes de vida para os pobres. Como o profeta Zacarias havia predito, ele que viveu em Jerusalém logo após o retorno dos judeus de seu exílio na Babilônia entre os anos de 520 e 518 a.C.: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta”. (Zac 9,9)
Jesus o profeta da esperança! O esperançar de Deus para os pobres que ansiavam pela sua libertação. O projeto de Deus personificado em Jesus não será realizado mediante o poder opressor e a força enganosa do poderio militar, mas através da ação do Messias, cuja característica fundamental é a implantação da justiça e da solidariedade com os pobres. Ele traz consigo a bandeira irreverente da paz. O Messias construirá a paz, isto é, a vida plena para todas as pessoas, chamadas que são a fazer parte do povo de Deus. Jesus e sua paz inquieta e revolucionária, confrontando-se com o centro da sociedade judaica, simbolizada por Jerusalém e pelo Templo, sede do poder econômico, político, ideológico e religioso. Ele entra na cidade, não como rei guerreiro, mas como simples homem, humilde e pacífico. Ele traz consigo a inversão de um sistema de sociedade apoiado na violência da força militar, que defende os interesses dos grandes e privilegiados. O povo pobre o aclama como aquele que traz o Reino da verdadeira justiça.
Jesus sendo aclamado pelos pobres. Estes mesmos pobres que, dias mais tarde, se juntarão às autoridades, ajudando-as a condenar o inocente, assassinando Jesus. Gente contraditória que ainda hoje continuam condenando Jesus na pessoa dos mais pobres. Gente que louva a Deus nos templos sagrados das religiões, mas incapazes de ver Jesus perambulando pelas ruas das nossas cidades, sem teto, trabalho e comida. Comungam o corpo do Filho de Deus crucificado/ressuscitado, mas não comungam das causas em favor dos mais pobres, ajudando-os a se libertarem das injustiças flagrantes de nossa sociedade. Em situações como estas Jesus mesmo nos alerta: “Se você for até o altar para levar a sua oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe a oferta aí e vá primeiro fazer as pazes com seu irmão; depois, volte para apresentar a oferta (Mt 5,23-24)
Não basta aclamar Jesus Rei-Messias. Dizer que Jesus é o nosso Rei requer mais do que palavras evasivas, mas gestos concretos, atitudes e jeito de ser também com os pequenos que padecem nas cruzes da história. É preciso estar do mesmo lado de Jesus nas grandes questões que defende, em relação aos pequenos e marginalizados. Parafraseando nosso bispo Pedro poderíamos assim dizer: com Jesus, nossas causas valem mais que as nossas vidas. Ter Jesus como Rei-Messias é abandonar o barco furado dos “messias” triunfalistas de ontem e de hoje, que falam em nome de Deus, mas arquitetam a morte dos pequenos a conta gotas. Que não caiamos na mesma contradição denunciada pelo profeta Isaías: “Esse povo se aproxima de mim só com palavras, e somente com os lábios me glorifica, enquanto o seu coração está longe de mim. O culto que me prestam é tradição humana e rotina”. (Is 29,13) Viva Cristo-Rei!
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