Sábado da Oitava Semana do Tempo Comum. O mês de maio dobrou a esquina, depois de entregar o bastão ao mês de junho. Assim como maio, Junho é também um mês especial para a Igreja. Além de ser dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, é o mês das nossas festas juninas mais populares, como Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro e São Paulo (29). As festas juninas chegaram ao Brasil, trazidas pelos portugueses no período colonial, no século XVI. Talvez sejam elas as festas dos santos mais populares do Brasil. Que o digam os nossos irmãos nordestinos.

No dia 1º de junho, a Igreja nos traz a memória de São Justino (103-164). Um santo do início do segundo século, nascido em meio aos pagãos. Não chegou a conhecer o Jesus terreno. Um homem que buscou a verdade acima de tudo, tornando-se um grande filósofo cristão, dedicando ao estudo sistemático do pensamento de Platão. Ele foi educado e se formou nas melhores escolas do seu tempo. Foi por seu apego à verdade que acabou sendo martirizado. Foi flagelado e decapitado, afirmando a sua convicção de fé: “Um homem de bem não abandona a fé”.

Como estamos no Tempo Litúrgico do Ano B, seguimos com a nossa reflexão do Evangelho de Marcos. No dia de hoje foi-nos reservado o final do capitulo 11 deste evangelista. Nele, vemos as autoridades religiosas, os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos, questionando Jesus, acerca de sua autoridade messiânica: “Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?” (Mc 11,28). Lembrando que Jesus está com os seus discípulos no Templo de Jerusalém. Poucas vezes vemos relatos nos Evangelhos de Jesus estando no Templo. Ali, somente estas autoridades citadas acima, tinham o domínio e o poder sobre aquele espaço religioso “sagrado”. Faziam e aconteciam em nome de Deus.

As autoridades não aceitavam, em hipótese alguma, que Jesus pudesse falar e fazer as coisas em nome de Deus. Somente elas, as autoridades religiosas, podiam falar em nome de Deus, Jamais um pobre coitado, nascido na periferia de Nazaré, filho de Maria e José. “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo 1,46) Ou seja, para as autoridades, Jesus não era reconhecido como o Messias enviado pelo Pai, o Verbo de Deus encarnado. Mesmo assim, sentiam-se ameaçados com a presença d’Ele ali no meio deles. Por este motivo, arranjam um jeito de desmascará-lo diante da opinião pública, agindo de má fé.

O Mestre Galileu, percebeu que as autoridades estavam agindo com malandragem com Ele. Assim, Jesus utiliza das mesmas artimanhas deles. Além de não responder a indagação deles, devolve-lhes a pergunta, trazendo para a cena do diálogo a pessoa de João Batista: “O batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me”. (Mc 11,30) As autoridades tentam fazer uma armadilha para desmoralizar a autoridade de Jesus diante do povo. Mas Jesus usa o mesmo truque: se as autoridades responderem, elas é que ficarão desmoralizadas.

A atitude de Jesus no Templo inquietou os poderosos. Eles ficaram sem respostas, não querendo se indispor com o povo, que via João Batista como um profeta importante e respeitado. A resposta de Jesus, à pergunta que lhe fizeram, era o mesmo que declarar-se Messias, pois só o Messias tem autoridade para tomar tais atitudes. Jesus mostra toda a sua habilidade pedagógica, respondendo com outra pergunta, deixando seus adversários em profunda confusão. Como as autoridades não tiveram coragem para responder, dizendo apenas: “não sabemos” e, diante do embarace deles, Jesus despediu-os com uma expressão clara e objetiva: “Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas”. (Mc 11,33).

Jesus fala com absoluta autoridade que vem de Deus. “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”. (Mt 28,18) Ele fala com a autoridade em sintonia de unicidade com Deus: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30). Ele é a única autoridade entre Deus e os homens. Fazer o que fizeram as autoridades de Jerusalém, é usar da autoridade em benefício próprio, colocando-se no lugar de Deus. É pura usurpação de poder. É falar em nome próprio, ignorando por completo que o centro de toda a verdade está na pessoa de Jesus, que veio a mando do Pai, anunciando o Reino de Deus.

Autoridade ou autoritarismo? Este é uma dos textos que mais nos ensinam sobre estas duas palavras completamente distintas. Ter autoridade para falar em nome de Deus, exige conhecer a pessoa de Jesus e seu projeto de amor do Reino, para que assim, possamos anunciar a Palavra com a vida e os gestos concretos que vamos construindo este Reino entre nós. Já o autoritarismo é colocar a pessoa que anuncia em primeiro plano, esquecendo-se que o mais importante não é aquele que anuncia, mas o anunciado: Jesus de Nazaré. Quem sabe alguns dos nossos padres e bispos consigam entender esta mensagem e possam constituir-se como verdadeiras autoridades falando d’Ele? “Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar grandes os pequenos”. (Augusto Cury)