Ascensão do amor, por Chico Machado.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Domingo da Solenidade da Ascensão do Senhor.
Um domingo prá lá de especial. Festa esta que é celebrada desde o século IV, 40 dias após a Festa da Páscoa. Todavia, para facilitar a participação das comunidades cristas, a liturgia trouxe esta festa para o sétimo domingo da Páscoa. Jesus que cumpre a sua missão como Verbo Encarnado e volta para o Pai. O Divino que vem fazer parte da nossa realidade histórica humana, possibilitando que também nós façamos parte da Divindade de Deus. Um Deus que faz questão de estar no meio de nós, sempre! Ascendendo à Deus, Jesus o traz para dentro do nosso ser neste mundo: “Quando eu for elevado na terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32)

Jesus que vem até nós e nos ensina o jeito materno de amar de Deus. Um Deus que sobra em amorosidade e misericórdia. Estando conosco, mostrou-nos o caminho que leva à Deus, e assim possamos também fazer presença em sua presença. Celebrar a Festa da Ascensão de Jesus significa, antes de tudo tomar pé da nossa realidade e saber que a missão que foi confiada a cada um de nós é a de sermos responsáveis pela presença do “Reino” na vida das pessoas no hoje da nossa história. Festa esta que nos faz cônscios de que a Igreja – a comunidade daqueles e daquelas que seguem os mesmos passos de Jesus, é a presença libertadora e salvadora de Jesus no meio das pessoas. De testemunho em testemunho do Reino: em casa, no trabalho, na escola, na cidade, no bairro e, sobretudo, no meio dos mais necessitados.

Jesus, o Filho do amor, se fez amor por inteiro e gratuito a nós. Amor sem medida e em todas as tonalidades. O amor se tornou o grande ensinamento de Jesus. Amor como dádiva, no sentido mais amplo da palavra. Não apenas como um mero sentimento interior, mas como atitude perante a vida e as pessoas que nos circundam. Amar para fazer a diferença num mundo marcado pelo seu oposto. O verbo “amar” passou a ser substituído pelo verbo “armar”. Armar com o sentimento contrário do amor. Para alguns, o verbo odiar passou a ser conjugado com todas as ferramentas beligerantes da morte.

Amor que não se manifesta somente com palavras, mas que se faz com o nosso jeito de ser no mundo. Ser para o outro aquilo que sou. Quem ama não se arma com as armas do ódio, mas com as armas do dom de servir sempre. Amar é estar sempre pronto e disposto à servir. Há muitas maneiras de armar para amar. Quem se coloca na mesma estrada com Jesus, não pode ser partidário das armas de morte de nossa sociedade que provoca: a fome, o desemprego, a desigualdade social, a falta de moradia, a falta de escola para todos, a falta de atendimento à saúde adequadamente… O amor de Deus é incomparável, ilimitado e têm o poder de quebrar toda e qualquer barreira. “Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. (1 Jo 4,7-8)

Amor que não se mede como Jesus nos manifestou. Neste domingo da Festa da Ascensão, a liturgia nos traz o texto do Evangelho de Lucas. É o final da narrativa lucana, como se fosse uma conclusão. “Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu”. (Lc 24, 51) Uma ausência que se faz presença. Não se trata de um distanciamento físico, mas de uma presença imanente e, ao mesmo tempo transcendente. O Mistério de Deus se fazendo presente na ausência momentânea de Jesus que se encaminha para o Pai. O mundo material privado da presença física de Jesus de Nazaré, que se faz transcendente, ultrapassando toda a realidade histórica e se fazendo Um com Deus. A força vem do alto. A vida no amor supõem percorrer este mesmo caminho de Jesus na própria vida e nos caminhos da história. Na alegria de saber que toda a missão será iluminada pela ação do Espírito do Pai e de Jesus.
https://www.youtube.com/watch?v=R55fSm6Ymms

Como Igreja de Jesus, temos o compromisso inadiável de trazer presente entre nós a Pessoas de Jesus de Nazaré. Ser presença de Jesus em nossas vidas e enxergar este mesmo Jesus em cada uma das pessoas, principalmente naquelas mais sofridas do meio de nós. Não fazer das nossas comunidades, espaços de segregação das pessoas, sobretudo das marginalizadas da sociedade. Sejamos uma Igreja peregrina no caminhar com Jesus, partidário dos mais pobres. Sejamos esta mesma “Ascensão” de um Jesus que está em Deus, mas que é presença viva de Deus em nós. Como bem disse o nosso pontífice Francisco: “Quem se aproxima da Igreja deve encontrar portas abertas e não fiscais da fé!” Amar e ser amado! Amar sem se armar para destruir o que quer que seja. Ser Igreja que saiba ser instrumento do amor, como nosso bispo Pedro assim manifestou em um de seus poemas: “Não ter nada. Não levar nada. Não poder nada. Não pedir nada. E, de passagem, não matar nada; não calar nada”. (Pobreza Evangélica – Pedro Casaldáliga)

Pedro Dias

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