Sábado da Primeira Semana do Advento. Findando a primeira etapa de preparação para o Natal do Senhor. Como estivemos nesta semana, bebendo no poço da esperança, aprendemos que ela se faz no processo do esperançar, de quem corre atrás, e não de quem fica esperando acontecer. É desta forma que o sonho de Deus alcança o nosso coração, como testemunhas fiéis que devemos ser. Sonhar juntos o sonho de Deus para construirmos um mundo mais irmão, onde a igualdade na irmandade se faça como prerrogativa da justiça e da paz de uma nova sociedade.
“Ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama até as últimas consequências”. É desta forma que o nosso bispo Pedro tinha o seu projeto de vida, na procura do Reino, como testemunha fiel do Ressuscitado. Viveu na intensidade da radicalidade evangélica as causas que assumiu como suas, no profetismo que a ocasião pedia, nestas terras dominadas pelo medo e ambição do capital latifundiário, tocando o terror. É por isso que Pedro é o nosso profeta de todas as horas. Seu legado nos ensina que devemos seguir em frente “sem deixar cair a profecia”, como queria Dom Hélder Câmara. “De esperança em esperança”, como Dom Paulo Evaristo Arns falava aos quatro cantos.
Rezei nesta manhã rodeado de pessoas amigas, indo na mesma direção que eu. Entre um solavanco e outro do ônibus, fui driblando na tela do celular, o meu eterno adversário corretor. A viagem seguindo tranquila e, como a gente é bastante conhecida, afinal já se vão 32 anos de convivência e de estrada, sempre aparece alguém, desejoso de um dedinho de prosa, com esse reles matuto, inserido no meio indígena. E os causos vão acontecendo no corrimão da memória. Lembranças trazidas do passado, se fazendo presentes em meio às gargalhadas. Tudo isso reforçando a ideia do filósofo Aristóteles sobre a amizade, já que para ele, “um amigo é a mesma coisa que uma alma habitando dois corpos”.
Foi neste ritmo e contexto, que rabisquei nesta manhã, trazendo presente comigo o texto de Mateus que a liturgia nos apresenta para o dia de hoje. “Jesus percorrendo todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade”. (Mt 9, 35) É importante salientar que o Mestre não tinha a preocupação apenas de anunciar a Boa Nova do Reino, mas também fazer acontecer os sinais concretos e visíveis do projeto libertador de Deus para os seus. Palavra e ação sendo conjugadas no mesmo verbo de libertação.
Nesta perícope de hoje, Mateus nos apresenta um resumo de toda a atividade messiânica de Jesus. A raiz de toda a ação do Jesus histórico está fundamentada na sua visão crítica da realidade à sua volta. Diante desta realidade, Ele se compadece e busca soluções que respondam aos anseios daquela realidade. O trabalho é grande e árduo, mas Jesus não quer agir sozinho, necessitando que mais pessoas assumam o compromisso de trabalhar pelo Reino, dando continuidade a sua missão divina.
Os que seguem os passos de Jesus recebem o poder nas atividades missionárias. Para tanto, é necessário que estes abram mão dos projetos pessoais, da luta pelo poder e do prestígio; do carreirísmo eclesiástico, do clericalismo, que endeusa a pessoa do sacerdote e do bispo. A missão que cabe aos que seguem a Jesus é reunir o povo para segui-lo, o novo Pastor. Tal missão se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação que concretiza os sinais da presença do Reino. A missão se desenvolve em clima de gratuidade, pobreza e confiança, e comunica o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana.
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