Quinta feira da Segunda Semana da Quaresma. Dois terços do mês de março já se foram e estamos entrando na última parte dele. A meta é que nos ocupemos em desenvolver em nós o processo de conversão, tendo em vista os desafios que a fé nos coloca, principalmente estando em sintonia com as diretrizes da Igreja, na pessoa do Papa Francisco e, sobretudo nos encaminhamentos que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nos apresenta para este ano, com a Campanha da Fraternidade. Converter-nos à Ecologia Integral é preciso, urgente e necessário, como o tema mesmo nos provoca: Fraternidade e Ecologia Integral e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Nesta perspectiva de Deus, somos chamados a conviver e a transformar o universo, participando responsavelmente da obra da criação, como coparticipantes da obra criacional de Deus.
Uma quinta feira em que o Papa Francisco segue se recuperando satisfatoriamente a sua saúde. Pelo menos é o que diz as últimas notícias vindas de Roma. Segundo o boletim médico, “o Papa Francisco apresentou melhorias significativas. Ele conseguiu suspender a ventilação mecânica não invasiva e reduziu a necessidade de oxigenoterapia de alto fluxo. Além disso, o pontífice tem avançado na fisioterapia motora e respiratória, o que é um sinal positivo em sua recuperação”. Continuemos com as nossas orações pela plena recuperação de nosso pontífice, que tem ainda muito que nos ensinar. Um homem simples, cuja humildade, revolucionou os meandros estruturais da Igreja. Como bem disse o cantor e compositor britânico Elton John: “Francisco é um milagre da humildade na era da vaidade”.
“Vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”. (Ecle 1,2) Vaidade que custa caro para quem realmente deseja fazer a sua adesão ao projeto libertador de Jesus de Nazaré. No ambiente do discipulado, não há espaço para quem busca uma vida regada a vaidade, ganância, sucesso e autopromoção. “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos, aquele que serve a todos!” (Mc, 9,35) Jesus foi muito claro e objetivo nesta sua fala aos discípulos. O maior, na sua concepção, não é aquele que acumula para si todos os tipos de benevolências. Quem é o maior? Para Ele a grandeza da nova sociedade não se baseia na riqueza (acumular), no poder, no prestígio, na fama, mas no serviço gratuito, sem pretensões e interesses, visando apenas o objetivo comum de todos.
O texto do Evangelho desta quinta feira é bastante significativo a este respeito e nos serve como parâmetro para repensar a nossa fé no cotidiano da vida. Repensar as opções de cada dia. Sim, porque a vida é feita de escolhas e cada uma delas tem as suas consequências. Somos as opões que vamos fazendo na vida. Um dia seremos cobrados pelas opções, escolhas que fomos fazendo ao longo de nossa jornada, como caminhantes nesta estrada chamada vida. Como bem sintetizou a escritora gaúcha Lya Luft (1938-2021): “Somos as escolhas que fazemos e as que omitimos, a audácia que tivemos e os fantasmas aos quais sacrificamos a possível alegria e até pessoas a quem amamos; a vida que abraçamos e a que desperdiçamos. Em suma, fazemos a escritura da nossa complicada história”. Ou seja, somos as escolhas que fazemos e também aquelas que deixamos de fazer.
Voltamos mais uma vez a refletir com o texto do evangelista São Lucas. Desta vez, Jesus está dirigindo a sua palavra diretamente aos fariseus. Lembrando que ao longo do capitulo 16 deste evangelista, ele nos apresenta uma vasta narrativa acerca das riquezas e a forma como devemos encará-las, se quisermos assim sermos fieis ao projeto do Reino de Deus. Para ficar mais fácil o entendimento de seu ensinamento, Jesus, mais uma vez, faz uso da linguagem metafórica das parábolas. Na de hoje, Ele quer ensinar os fariseus a considerarem a sua condição naquele contexto, à luz da perspectiva escatológica da salvação eterna. O bem bom deles hoje, pode se inverter quando no acertar as contas com Deus. Esta é a lógica presente na parábola do homem rico e o pobre Lázaro. Quem hoje acha que está por cima, há de chorar amargamente no acerto de contas com Deus na glória futura. Chegará o dia da morte, da qual nenhum de nós escapa e a situação se inverte.
Uma parábola cheia de nuanças e de significados. Jesus aproveita da situação para fazer uma severa crítica à sociedade classista e desigual, da Palestina de seu tempo, onde o rico vive na abundância, no luxo e nos prazeres diversos, enquanto o pobre, os “Lázaros da vida”, morrem na miséria. O problema maior é a estratificação social, o isolamento e afastamento em que vive o rico, mantendo um abismo de separação que o pobre não consegue transpor, mesmo que trabalhe a vida inteira. Para quebrar esse isolamento, o rico precisa se converter (quase que impossível). Nada o levará a essa conversão, se ele não for capaz de abrir a mente e o coração para a palavra de Deus, o que o leva a voltar-se para o pobre. Assim, mais do que explicação da vida no além, a parábola é exigência de profunda e urgente transformação social, para criar uma sociedade onde haja partilha de bens entre todos. Neste texto de hoje cabe uma das falas de Paulo Freire quando diz que: “a melhor forma de amar o opressor é fazer com que nunca mais ele seja opressor”. Fácil? Claro que não! Que o diga o homem rico da parábola.
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