Sexta feira da 24ª Semana do Tempo Comum. Chegamos ao penúltimo final de semana do mês dedicado à Bíblia. Como o livro indicado para nossa reflexão este ano é o de Ezequiel, talvez seja interessante refletir sobre a nossa missão e a responsabilidade na evangelização neste mundo de hoje, inspirando-nos em um dos versículos deste profeta que assim diz: “Criatura humana, estou colocando você como sentinela para a casa de Israel. É da minha boca que você ouvirá a mensagem. E o que aprender de mim, você vai lhes ensinar”. (Ez 3,17) O profeta nos diz que somos os mensageiros da justiça de Deus. E a justiça de Deus quer que todos tenhamos a chance de perceber o erro e de nos convertermos para a vida. Não devemos nos calar nunca, pois quem se cala, é conivente com a injustiça e sofre dela as mesmas consequências.
“O compromisso com o pobre não pode evitar a denúncia das causas da pobreza”, afirma o teólogo peruano e sacerdote dominicano Gustavo Gutierrez, fundador e considerado o “Pai da Teologia da Libertação”. Num mundo marcado pelas desigualdades sociais e pela injustiça, ser cristão exige muito mais do que do que ser um simples cumpridor de preceitos, normas e dogmas. Requer um compromisso sério com a transformação desta sociedade, que não está de acordo com a proposta e os desígnios de Deus para os seus. Fomos criados para viver na plenitude. Enquanto tiver alguém sofrendo, Deus está sofrendo nele. Abraçá-lo nas suas causas, é abraçar o Deus vivo que nele está.
Uma sexta feira em que somos provocados a refletir com o Evangelho de Lucas. Nestes três versículos relatados pelo evangelista, vemos as “mulheres de Jesus”. Ele e elas. Sim, elas também o acompanhavam, e faziam parte do grupo do discipulado, muito embora os Evangelhos não lhes deem voz e vez, como aos homens, como era próprio daquela cultura judaica, patriarcal e machista. O texto de Lucas relata que algumas mulheres seguiam-no, e eram acolhidas por Jesus. Aliás, esta perícope é exclusiva de Lucas que, inclusive, dá nome a tais mulheres: “Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana…” (Lc 8,2-3).
Numa cultura marcada pelo preconceito contra as mulheres, Jesus segue na contra mão, trazendo-as para o centro, fazendo-as protagonistas também da missão de anunciar o Reino de Deus. Elas eram parte integrante do discipulado, caminhando com Ele e servindo nas causas do Reino. De excluídas, marginalizadas e diminuídas pela sociedade da época, elas passam a ser protagonistas do ministério messiânico de Jesus. Certamente, até mesmo os discípulos, assim como as autoridades religiosas, não viam com bons olhos está atitude de Jesus, de andar lado a lado com elas, já que não gozavam de nenhum prestígio. A vida das mulheres não era nada fácil nas comunidades judaicas no tempo de Jesus. e Ele subverte esta lógica.
Jesus quebra todos os paradigmas da cultura judaica, ao contar em seu grupo mulheres com marginalizadas. Foi assim na sua vida pública na Galileia, e foi assim também na Ressurreição. Não nos esqueçamos de que, foi à uma mulher marginalizada que Ele fez questão de fazer a sua primeira aparição como Ressuscitado: “Depois de ressuscitar na madrugada do primeiro dia após o sábado, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual havia expulsado sete demônios”. (Mc 16,9) As mulheres não eram apenas ouvintes da Palavra de Jesus, ou destinatárias dos seus sinais (milagres), mas participavam também do processo d’Ele, apoiando o seu ministério e sendo continuadoras da missão.
Jesus soube valorizar a presença e a participação feminina no serviço de evangelização durante a sua vida pública. Pena que a nossa Igreja não aprendeu quase nada a respeito desta pedagogia de Jesus de fazer a inclusão das mulheres na missão de evangelizar a partir de suas próprias vidas de marginalizadas. Nos dias de hoje, as mulheres são presença expressiva nas nossas comunidades, e são elas que seguem fieis à Jesus, levando adiante a missão de evangelização. Contudo estão completamente alijadas do processo decisório na nossa Igreja, uma vez que, esta prerrogativa, é reservada aos homens, que decidem, fazem e acontecem, sem que as mulheres participem deste processo. Ao contrário da dinâmica libertadora e inclusiva de Jesus, Nossa Igreja segue com o seu clericalismo patriarcal, dominado pelo pensamento machista medieval de padres e bispos. “O clericalismo é uma praga”, afirmou o Papa Francisco em uma de suas audiências.
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