Sábado da Sétima Semana do Tempo Comum. O mês de março chegou até nós. Um mês cheio de comemorações importantes pela frente, para a nossa vida religiosa ou mesmo em sociedade. Março é lembrado por ser o mês que valoriza e homenageia as mulheres. A data, comemorada no dia 8 de março, é conhecida como o Dia Internacional da Mulher. Depois vem São José, sendo que no dia 19 de março a gente comemora a figura do pai adotivo, como aquele que dá suporte à sagrada família: Jesus, Maria e José. Outras datas importantes são o Dia Internacional das Florestas (21); Dia Mundial da Água (22); e o Dia Mundial de Meteorologia (23). Março é também o mês em que perdi aquela que me gestou, minha sagrada progenitora, que foi para os braços do Pai com apenas 41 anos. Que saudades sinto daquela que me fez ser quem sou!
Amanhecer é sinônimo de agradecer! Gratidão é sinal de reconhecimento! Cada dia que amanhece, é Deus mesmo apostando em nós, de que seremos capazes de despertar para fazer a diferença a cada dia. A mesmice não faz parte do “Kairós”, do tempo oportuno de Deus. Como cada dia traz em si a unicidade, como seres agraciados, deveríamos agradecer a Deus por cada dia de vida que Ele nos concede, já que cada novo amanhecer é um tempo oportuno para viver, amar, perdoar, evoluindo cada vez mais em direção ao projeto de amor que Deus nos revelou através de seu Filho único: Jesus de Nazaré. Deus, com sua amorosidade, cuida de cada uma das suas criaturas, e se faz presente de forma Teofânica em cada amanhecer. De forma gratuita, sua assinatura está presente em cada uma destas manifestações, mesmo que não as reconheçamos.
Março inicia com a liturgia nos trazendo uma perícope especial para a nossa reflexão. No centro do texto de hoje, do evangelista Marcos, estão às crianças. Elas que, ao lado das mulheres, figuravam como seres amaldiçoados, “pessoas consideradas impuras” e, tocar nelas, significava contrair a impureza que estava presente nelas. Esta era a concepção da sociedade no tempo de Jesus. A tradição religiosa se ocupava em fazer a divisão social: de um lado estavam os considerados justos, abençoados por Deus, piedosos e puros, “pessoas de bem” e, de outro, os publicanos, pecadores, ímpios e impuros. É neste último grupo que aquela sociedade encaixava as mulheres e, sobretudo as crianças. Esta era a ideologia presente no judaísmo religioso, e que influenciava toda a sociedade, inclusive os discípulos de Jesus.
“Deixem vir a mim as crianças (os pequeninos) porque delas é o Reino de Deus”. Este é o grito libertador de Jesus, registrado pelos três Evangelhos Sinóticos: (Mt 19,14; Mc 10,14; Lc 18,16). Ao contrário do farisaísmo podre da tradição religiosa, cheio da amorosidade de Deus, Jesus, acolhe, toca, beija, acaricia e abraça, incluindo aqueles marginalizados, os fazendo partícipes diretos e incondicionais do Reino de Deus, afirmando que o Reino de Deus pertence a elas. Ao incluir as crianças, Jesus assume publicamente a causa das mulheres e das crianças, sem se importar de que estava correndo o risco de ser considerado como um impuro pelos fariseus ali presentes. Inúmeras vezes os evangelhos narram os encontros de Jesus com as mulheres e também com as crianças, como no texto de Marcos de hoje: (Mc 10,13-16)
“traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam”. (Mc 10,13) A atitude dos discípulos, diante daquelas crianças, repercute a compreensão que aquela sociedade tinha em relação a elas. Na verdade, eles estavam reproduzindo a discriminação e o forte preconceito em relação àqueles seres inocentes e indefesos. Eles tentam afastar as crianças de Jesus, não porque elas incomodavam o seu Mestre, mas porque, como as mulheres, representavam quase nada e, portanto, o Reino não era para elas, mas para as pessoas adultas, ou seja, para aqueles que eram capazes de fazer opções conscientes, de obras correspondentes, adquirindo assim o mérito de pertencimento do Reino de Deus.
Para Jesus, o Reino é um dom gratuito de Deus. Neste sentido, as crianças são as pessoas mais disponíveis para acolher os dons, porque são pequenos e pobres, sem seguranças a defender ou privilégios a reclamar. É desta forma que os discípulos devem agir e comportar-se. As crianças aqui servem de exemplo, não pela sua inocência apenas, ou pela sua perfeição moral, ética. Ela é o símbolo perfeito do ser fraco, sem grandes pretensões sociais. As crianças são simples, não tem poder nem ambições. Se para aquela sociedade do tempo de Jesus, a criança não era valorizada, não tinha nenhuma significação social, para Jesus ela era tudo, pois eram as destinatárias primeiras do Reino de Deus. Como bem definiu nosso grande educador Rubem Alves: “São as crianças, que sem falar, nos ensinam as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida”.
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