O inverno de chuvas, desde janeiro de 2022, foi abundantemente forte no despejo das águas das nuvens, no ciclo vital da natureza climática da Amazônia. Completaria se lavasse o vírus que, de tão cruel, fez as chuvas saírem dos olhos e ferir os corações de saudades! Há Ressurreição, depois dessas precipitações que escancararam os céus para se converterem em águas batismais!
Afogamentos e inundações, quebra de barrancos nos rios, em uma região, desmoronamento de serras, mais adiante, arrastando casa e enterrando as vítimas debaixo de toneladas de lamas e pedras.
É muito triste conferir essas tragédias e perceber que os transtornos climáticos se aceleram cada vez mais e se aproximam da gente.
Explicar essas forças torna-se tarefa difícil de revelar fora do mundo da ciência. Mais fácil de entender como demandas de amor fraterno.
A religião não explica, mas mostra que, se o cuidado respeitoso com a natureza não existir, ficaremos sempre jogados na turbulência das práticas predatórias do sistema que tem dificuldade de priorizar a vida, curar as doenças e anunciar um mundo novo, após o dilúvio arrasador.
Até agora, como nunca, as escolhas decisivas ficam em favor de mais lucro, com as leis do mercado, e não com a sustentabilidade dos sistemas de vida, que como vingança mortal fica vulnerável às leis da natureza, cada vez mais indomável.
Apesar de tudo, a Quaresma traz o sofrer penitente com tanta fome no mundo, vai se reeditando com a oração de Jesus no jardim regado de angústia, onde participamos para vencer o jardim do Éden que pervertemos.
Da Redenção em Jesus Cristo nada escapa. O alcance da cruz vencedora revela-se penetrante em toda a realidade onde abundou o pecado, sobretudo nas estruturas nas quais já não podemos identificar a responsabilidade individual ou a culpa imediata.
Aqui estamos a situar o pecado das origens, voltando e nos envolvendo nas ondas acumulativas da soma de equívocos com os quais afundamos nossa humanidade.
Quando João Batista aponta Jesus e diz que ele “tira o pecado do mundo”, está falando, exatamente, como aquele que, com o anúncio do Reino, seria capaz de nos introduzir na nova experiência do amor solidário do viver em comunidade.
Agora, chegamos a falar no Estado de Graça, tornando cada gesto bom, uma ponta integrada na Redenção trazida por Jesus e aceita pelos seus seguidores.
A Páscoa, ao ser celebrada nos tempos mais distantes do seguimento de Jesus, acontecia em pequenas comunidades e era o momento magno das águas copiosas do Batismo, do afogamento das desgraças do mundo que as estruturas de opressão tinham atingido. Emergia uma nova criatura, decidida a aceitar a proposta de Jesus para inserir-se como seguidor.
A Quaresma tinha sido a temporada de descoberta de Jesus e de deixar as malvadezes que o dilúvio apagara.
Com a Ressurreição de Jesus, o bem triunfará como vitória definitiva. Todo o bem que praticarmos, gastando a vida pelos irmãos, será o começo de um novo Céu e uma nova Terra.
(NP)
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