Sábado da Vigésima Nona Semana do Tempo Comum. O último final de semana do mês das Missões, cruzando o nosso caminho. A missão continua e necessita de quem esteja disposto e disposta, a dar continuidade às ações de Jesus. O mês termina, mas a missão é contínua, até o dia do nosso encontro com o Deus da misericórdia. Cada dia é uma página que se abre e temos a chance de escrever a história de nossas vidas. A cada manhã, uma página em branco aparece diante de nós para que possamos assim registrar o passo a passo da história. História de vida rezando com o salmista: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Sl 90,12)
Nossa vida caminhante segue rumo às nossas realizações. Somos seres inacabados que a cada dia vamos edificando o nosso ser, a nossa personalidade. Cada passo dado nos coloca em direção daquilo que buscamos. Vamo-nos assim construindo o nosso ser interior, para que corresponda às expectativas que vamos criando. Uma imensa surpresa nos espera mais além como nos dizia o psicanalista, educador e teólogo Rubem Alves (1933-2014): Ao final de nossas longas andanças, chegamos finalmente ao lugar. E o vemos então pela primeira vez. Para isso caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos. E, quando chegamos, é surpresa. É como se nunca o tivéssemos visto”.
Caminhada que fiz exaustivamente no dia de ontem, percorrendo várias aldeias Xavante. Como é bem estar de volta às aldeias e ver cada rosto indígena, refletindo a esperança da ancestralidade. Saberes tradicionais acolhendo a chegada de quem está caminhando com eles há mais de trinta anos. A alegria indisfarçável de quem se abre num sorriso largo, acolhendo um coração saltitante em meu peito, pulsando de satisfação por todos os poros de meu corpo. Como sou feliz estando no meio deles! Que me perdoem os demais, com quem convivo na minha faina diária, mas eles me completam metafisicamente.
Desta vez, foi difícil chegar. Uma maratona. A chuva que caiu por estes dias, fez as estradas de chão ficarem intransitáveis. Vários atoleiros e centenas de caminhões paralisados na rodovia federal (158). Só pude estar presente em apenas quatro delas, antes que o astro rei se recolhesse para dormir o seu sono profundo. Voltei pra casa já bem tarde, com a sensação de que ficou faltando algo e poderia ter feito mais. Fui dormir com o corpo exausto, mas extremamente feliz e com o coração em festa. Ser com e para os indígenas é o meu propósito de vida. Tem coisas na vida que não tem preço, mas um inestimável valor.
Acordei nesta manhã com o coração ainda em festa. Muitos sonhos visitavam as esquinas de meu pensamento. Rezei agradecido a Deus pelo dom da vida, e por fazer parte deste universo cosmológico. Nasci no momento certo da história e vivi as maiores experiências da vida ao lado dos Povos Originários. Ainda bem que nosso bispo Pedro me indicou este caminho de felicidade, com as suas palavras ainda ressoando em minhas entranhas: “não se esqueça de que lá, você não chega como padre, mas um com eles nas causas e lutas deles. Quando muito, ‘desevangelizar’ e ‘descolonizar’”. Lição aprendida, missão sendo cumprida a risca.
Em memória dos apóstolos São Simão e São Judas Tadeu que hoje celebramos, rezei trazendo presente comigo os primeiros convidados para fazer parte do grupo de Jesus: “Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos”. (Lc 6,13) A palavra “apóstolo” traduz o grego “apóstolos”, que significa “mensageiro” ou “enviado”. O grego “apóstolos” deriva do verbo “apostellein”, que significa “enviar”, “remeter”, ou num sentido mais específico, enviar com propósito particular. Teologicamente, o apóstolo representa aquele que o envia, (Jesus) e é investido de autoridade para tal missão.
Jesus rezava sempre! Apesar da sua sintonia fina com o Pai, abria espaço em sua “agenda” para momentos de oração. Vários dos relatos do Novo Testamento apresentam Jesus, que reservava alguns instantes de sua vida para estar a sós com Deus. O texto de hoje começa exatamente assim: “Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus”. (Lc 6,12) Sempre que iria tomar qualquer decisão mais importante, o fazia após estes momentos de oração. Isto quer nos dizer que também nós, precisamos destes momentos mais íntimos de oração, num diálogo franco, aberto e sincero com Deus. Somos parte desta Igreja iniciante e temos por missão dar continuidade às ações de Jesus. Que a nossa oração nos mostre o caminho a seguir, e que tenhamos disposição suficiente para sermos apóstolos e apóstolas do Reino!
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