Quarta feira da Vigésima Oitava Semana do Tempo Comum. Estamos dentro da última quinzena do mês das missões. Reunidos como uma comunidade de fé, tratamos este como um período especial, em que dedicamos nossa atenção e nossas orações à missão evangelizadora da Igreja em todo o mundo. Igreja em Saída. Assim, somos convidados a refletir sobre o chamado que todos nós temos de ser discípulos e discípulas missionários/as de Jesus de Nazaré e a nos unir em solidariedade com aqueles que levam a mensagem do Evangelho aos lugares mais distantes e desafiadores. Como bem salientou nosso Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”.
O mês dedicado às Missões é uma oportunidade para lembrar que a missão da Igreja não se limita às paredes do templo, nas comunidades locais. Ao contrário, a missão se estende a todos os cantos da Terra, alcançando, principalmente, aqueles que ainda não ouviram a Boa Nova de Jesus. Como seguidora de Jesus, a Igreja é chamada a ser uma luz para o mundo, a levar a esperança e o amor pleno de misericórdia deste mesmo Jesus, a todos os povos e nações. A inspiração para vivenciar esta missão vem das palavras de Jesus, que nos instruiu a “fazer discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o que [Ele] ordenou” (Mt 28,19-20). Desta forma, Jesus é a única autoridade entre Deus e as pessoas. Todos e todas, somos chamados a participar de uma nova comunidade (batismo), que se compromete a viver de acordo com o que Jesus ensinou: praticar a justiça em favor dos pobres e marginalizados.
Igreja em Saída que vai às esquinas periféricas existenciais da humanidade. Como fez São Lucas, que hoje celebramos o seu dia. Também comemoramos nesta data o Dia do Médico, uma vez que Lucas, além de médico, é o santo protetor dos médicos. É ele o evangelista, que, segundo a tradição, nasceu em Antioquia, na Turquia, filho de uma família pagã. Segundo esta mesma tradição, foi ele o autor do Evangelho e também dos Atos dos Apóstolos. Graças a seu Evangelho, temos uma maior descrição da vida de Maria e da infância de Jesus. Também foi ele o evangelista que dedicou uma particular atenção aos pobres e às vítimas das injustiças da sociedade daquela época. São Lucas encerra o Evangelho com Jesus em Jerusalém e no Templo, como havia começado. Daí os apóstolos (72) partirão para a missão “até os confins da terra” (At 1,8).
Missão: anunciar a Boa Notícia! Vindo de Deus e encarnando em nossa realidade humana, Jesus não quis realizar sozinho a sua missão. Ele conta com todos aqueles e aquelas que aceitam caminhar pelos mesmos caminhos que os seus. É desta forma que a liturgia de hoje nos apresenta esta forma didático-pedagógica de Jesus ao escolher alguns dos seus, para darem continuidade à sua missão: “O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir”. (Lc 10,1-2) Depois de instruídos, preparados com os ensinamentos de Jesus, os discípulos se transformam em apóstolos para anunciarem a Boa Notícia no caminho, e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino.
Porque 72 apóstolos e não setenta vezes sete? Há toda uma simbologia contida nesta numerologia. Ao escolher 72 pessoas, Jesus indica a totalidade, a universalidade dos que anunciam a Boa Nova do Reino. Totalidade esta que nos inclui a todos nós, que aceitamos e fazemos a nossa adesão ao Projeto do Reino. Aqueles e aquelas que se dispuserem a fazer parte deste grupo sabem que se requer deles e delas, uma doação total do amor de si mesmos, como gesto generoso e gratuito de anunciar o Reino com a própria vida pelo testemunho. A mensagem a ser anunciada não é fruto da vontade pessoal de quem anuncia, mas o anúncio da missão como culto de amor pleno da nova e definitiva criação do homem, com Deus fazendo parte da vida dele.
Assim, todos e todas somos chamados/as para fazer parte desta totalidade de apóstolos do Senhor. Somos portadores da Boa Nova e devemos anuncia-la onde quer que estejamos. Jesus não engana nenhum dos seus, mas adverte: aqueles que não quiserem aderir à Boa Notícia ficarão fora da nova história: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos”. (Lc 10,2) Assim, devemos rezar para que o Senhor nos envie cada vez mais operários. Operários pra valer, e não como alguns que temos no meio de nós, que se preocupam mais com os seus egos inflados, suas regalias e privilégios carreiristas, suas vestes clericais suntuosas, sua vida burguesa de mesa farta, enquanto os pobres, ao seu redor, passam fome. Venha teu Reino, Senhor! Que as recomendações de Jesus sejam respeitadas e acolhidas por todos os apóstolos e apóstolas! “Esteja sobre nós o teu amor, Senhor, como está em ti a nossa esperança!” (Sl 33,22).
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