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Ancestralidade anciã (Chico Machado)

Sexta feira da Décima Sexta Semana do Tempo Comum. Julho vai dando o seu adeus. Poucos dias mais, e daremos entrada no mês dedicado às vocações. E por falar em vocação, no dia de hoje a Igreja celebra a Festividade de Ana e Joaquim, que segundo a tradição cristã, são os avós de Maria de Nazaré. É por este motivo também que neste dia 26, comemoramos o Dia dos Avós, uma data para relembrar a importância das pessoas que geralmente são as mais queridas e respeitadas dentro das famílias. Os avós exercem papel importante em nossas vidas, devido à experiência e sabedoria que acumulam ao longo dos anos. Eles são um pedacinho do céu na terra, transmitindo sabedoria, amor e ternura em forma de gestos acolhedores. Quem não se lembra com saudades dos seus?

Ana e Joaquim, dois personagens da história bíblica. Pouco sabemos deles. Os relatos dos evangelhos canônicos, não nos trazem muitas informações sobre eles. Todavia, segundo o Evangelho Apócrifo de São Tiago, escrito por volta do século II da era cristã, relata que Joaquim era um sacerdote idoso, do Templo de Jerusalém, casado com Ana, uma mulher estéril e também avançada na idade. Por obra e graça de Deus, esta mulher ficou grávida e deu a luz àquela que se tornaria a Mãe de Jesus e da humanidade. Joaquim e Ana foram canonizados no século XVI pelo papa Gregório VIII, por serem os avós de Jesus de Nazaré. A escolha de 26 de Julho para celebrar os avós de Jesus foi instituída por Paulo VI, 262º, Papa da Igreja Católica, que teve o seu pontificado entre os anos de 1963 a 1978, fazendo inclusive a conclusão do Concílio Vaticano II (!962-1965).

Rezei nesta manhã na companhia dos enormes macacos bugios, em sua cerimônia nupcial de acasalamento, na copa das árvores de meu quintal. Vários deles ficam em volta da fêmea, emitindo sons guturais, uma espécie de grunhido, para impressiona-la, e ser ele o escolhido por ela, para a cópula. É ela quem decide. Influenciado pelos vários anos de formação que tive o privilégio de ter com o CEBI – Centro de Estudos Bíblicos, fiz a leitura orante do texto do Evangelho de hoje, tentando extrair o máximo dos dois versículos propostos (Mt 13,16-17). Rezar com os olhos, com os ouvidos e com o coração, tendo os pés fincados no chão. Sentir Deus falando pela sua palavra e também pela natureza se manifestando em volta de mim. A natureza é cheia de magia e mistério, mas somente percebe quem está em sintonia com ela.

Ancestralidade anciã: sabedoria, amorosidade e experiências acumuladas. Saberes que são acumulados e repassados em forma de oralidade, como fazem os povos originários. Cada ancião é uma biblioteca viva e por este motivo, são extremamente respeitados e valorizados por todos. Eles falam e os demais se calam e ouvem atentamente. Como os indígenas são povos originariamente ágrafos, terminologia que vem do grego e quer dizer “sem escrita”, “sem o domínio da escrita”, todos os saberes tradicionais, são repassados através da oralidade, seja na conversa simples do dia a dia, ou mesmo nos momentos de vivência dos rituais sagrados. Pena que a nossa sociedade perdeu esta rica convivência com os avós, que são “depositados” nos asilos, ou “casas de anciãos”, longe da família que eles constituíram.

Ver com os olhos, ouvir com os ouvidos e sentir com/no coração. Esta é a sabedoria que Jesus procura transmitir aos seus discípulos: “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem”. (Mt 13, 16). O texto de hoje faz parte da continuação da “parábola do semeador”, que tivemos oportunidade de refletir na quarta feira passada (24). Primeiro, o Mestre contava a parábola para as multidões e depois Ele mesmo explicava para o grupo dos seus. Os discípulos tiveram a sorte de ouvir a palavra d’ele e ver a realização das promessas, já anunciadas pelos profetas antigos. Eles não tiveram a mesma sorte dos discípulos porque, ainda que não tenham visto nem ouvido o que os discípulos veem e ouvem, esperançaram, acreditaram e apostaram a sua vida, baseando-se na Palavra da Aliança. Os discípulos são o último elo da geração herdeira das promessas e o primeiro da que deve transmitir o testemunho fiel da sua realização. “muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”. (Mt 13,17)

Os mistérios do Reino de Deus (Céus, segundo Mateus), só serão conhecidos por aqueles e aquelas que já tiverem acolhido Jesus como o Messias, Filho de Deus enviado. Ser discípulo e discípula de Jesus é apostar neste Projeto de Deus, fazer a adesão à Jesus como o Messias, principalmente diante dos obstáculos, dificuldades e até dos nossos fracassos. O Reino é obra de Deus que se realiza pelas nossas ações no fazer cotidiano, incorporando em nós o sonho de Deus para a humanidade. Como bem nos disse o pastor e escritor batista estadunidense Walter Rauschenbusch (1861-1918): “O Reino de Deus não é uma questão de levar indivíduos para o céu, mas de transformar a vida na terra na harmonia do céu”. Copiou!?

Luiz Cassio

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