AMIGO PÉ DE VALSA, UM VIOLEIRO INCANSÁVEL QUE CASOU BEM CEDO

Era mais do que uma viola encantada que se transformava em bandolim, pandeiro e reco-reco nas mãos de “caduco” feliz, que se lembrava de seu tempo de forrozeiro.
Tocava todos instrumentos que apareciam naquelas bandas, no seu tempo de jovem, quando começou a namorar, com todo o respeito, a sua linda filha do patrão, que completava 13 anos. Disse-me: “O pai dela ficava entre nós dois enquanto namorávamos”. O meu amigo foi dizendo que, se o padre passasse no ano seguinte, na Fazenda “Boi Manso”, faria o casamento, porque o pai dela já tinha consentido.
Naquela longa espera, mesmo sendo músico e cozinheiro da patroa, trabalhava com seus companheiros de segunda a sexta-feira para o patrão, que seria seu futuro sogro. Era um homem trabalhador, de confiança da família da noiva, pois tinha toda a permissão de levar a jovenzinha para a festa das redondezas da fazenda.

Selava seu cavalo com pele de ovelha e zarpava com a noiva perfumada para a festa. Todos dançavam com todos, só não homem com homem. “Muitas famílias, naquele sertão, viviam sem ciúmes, viviam num paraíso de muito trabalho, dança e comilança”.
O trabalho era pesado e suado, mas sempre se molhavam nas bicas para descansar nas horas de sombra ou no fim da tarde das sextas-feiras. Os maridos, inclusive o patrão, combinavam para a valsa do “morangotango”, cujo nome surgira quando um novato, também festeiro, trouxe umas mudas de morango para plantar na fazenda.
Naquele tempo, não se bebia cachaça de engenho, mas começou-se a fazer uma mistura fina da “moreninha” de alambique com morango, o que deu o nome da valsa benfazeja e bem alegre”.
Contavam os antigos do lugar que aparecera, muitos anos antes, um homem mau que diziam ter parte com o “diabo”, de tão mau que era. Daí, o padre velho disse que se rezassem para o “diabo dos infernos”, este mesmo ia expulsar o homem do meio deles, porque não admitia ninguém fosse mais mau do que ele no mundo. Nesse caso, depois se descobriu que o homem não era mau, apenas sofria da doença da danada da cachaça e ficava valente. O padre deu um banho de água benta tão forte que o homem se tornou manso, que nem coelho cego.

Meu amigo contou que, deste dia em diante, não entrou mais cachaça nas festas, mas o nome da valsa ficou famoso naquelas beiradas do Rio Jequitinhonha, bem ao norte de Minas. A valsa dos finais de semana prosseguiu sem interrupção, até o dia em que o padre voltou para o casamento da moça faceira com o meu amigo respeitador. O porco foi assado no rolete, tinha cocada e doce de leite, alegrando a noite com valsa do morango+tango argentino, mas sem cachaça, apenas vinho de buriti.
Lembrei que Jesus atendeu sua mãe nas festas que participava com seus escolhidos para segui-Lo. Certa vez, faltara vinho e a festa ia acabar para a tristeza de todos. Sabe-se que Jesus aproveitou o momento para anunciar que sua hora estava perto e deu seu jeito, transformando água em vinho.
O grande recado que a mãe de Jesus deu para os festeiros foi que fizessem o que Jesus mandara. “Fazei o que Ele mandar”. Pois bem, meu amigo “Pé de Valsa”, declarou: “Meus amigos e eu já vivíamos unidos e trabalhando para conservar as fontes de água e afastando aqueles que chegaram para tirar minério dos morros e envenenar os rios”

Eu, escutador de histórias, tive a tristeza de dizer que, atualmente, nas terras das Minas Gerais, já aconteceram desastres ecológicos devido à mineração, onde muitos morreram sem ter a vida festejada entre amigos de fé e de trabalho. Lembrei que na Bíblia, no começo do mundo, Deus criou tudo muito bom para a alegria de todos e a festa não ter fim.
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