Sexta feira da 7ª semana do período pascal.
Sextou na primeira semana de junho. Já vislumbramos Pentecostes que aponta na esquina do nosso pensamento. O amor sem medidas vem trazendo-nos a força libertária do Espírito que renova tudo em todos a partir da nossa essência. Espírito que revoluciona o nosso jeito de amar para seguir e seguir para amar. Jesus é o modelo do amor incondicional. Tanto amou que deu a sua vida em favor de muitos. Como diria a filósofa existencialista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986): “O ideal do amor e da verdadeira generosidade é dar tudo de si, mas sempre sentir como se isso não houvesse lhe custado nada”.
O verbo amar se colocando no nosso itinerário de vida como condição de buscar a realização plena existencial. Vida como “Dom maior de Deus”. A grande temática do dia de hoje é o amor. Amor, mais do que um sentimento, é algo que trazemos dentro de nós e que se expressa em gestos de manifestação concreta do nosso jeito de amar. Amor que, enquanto caminhamos, vamos semeando na beira da estrada de nossas vidas. Semeando ao estilo da poetisa goiana Cora Coralina (1889-1985): “Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”
Decidir pela vida e pelo amor incondicional. Amar sem medida como Jesus amou. Amor que na liturgia desta sexta feira colocou o rude “pescador” numa grande encruzilhada, quando foi perguntado pela terceira vez consecutiva: “Simão, filho de João, tu me amas?” (Jo 21,17) Isto nos mostra que, quase sempre, não temos a certeza e a dimensão exata que amamos de verdade. O jeito de amar vai se constituindo a cada momento, a cada instante de nossas vidas, quando fazemos a opção de amar de forma incondicional e gratuita pra valer. A cada dia vamos disseminando as coordenadas deste amor que exige coerência, fidelidade e dedicação ao ser que se ama.
Amar de todas as formas. “Amar até doer”, dir-nos-ia o padre Júlio Renato Lancellotti. Amar até as últimas consequências, como nos ensinou Jesus de Nazaré, pois quem, ama dá a vida pelo ser amado. Amar com o coração de mãe, que supera preconceitos, ultrapassa todos os limites e enfrenta todos os obstáculos possíveis. Somente o Criador para desvendar o mistério contido no coração de uma mãe. Toda forma de amor vale a pena. Todo jeito de amar é viável, desde que o ser amado esteja no centro gravitacional do nosso jeito de amar. O coração que ama sabe por quais caminhos há de trafegar. Um amor assim que fez o grande poeta lusitano Luis Vaz de Camões dedilhar um de seus versos desta forma: “O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente”.
O discípulo Pedro ficou profundamente desconcertado quando perguntado com tanta ênfase pelo seu Mestre e Senhor. Jesus quis ter a certeza de que aquele amor não era algo trivial, mecânico e inconsequente. Um amor que exige compromisso e comprometimento com o ser que se ama. É a mesma forma como Ele age conosco. Quer que o nosso amor seja verdadeiro e que produza frutos e gestos concretos de amar. Quer que amemos não apenas com palavras eloquentes, mas na simplicidade do viver cotidiano. Amar o “próximo”, mesmo não estando tão próximo. Amar ao outro como amamos a nós mesmos (Mt 22,39). Amar do jeito de Jesus, sem querer fazer julgamento e nem juízo de valor sobre o ser amado.
Aos que são capazes de amar, Jesus diz: “Segue-me!”. Amar para seguir andando com Ele. Amor de amigo. Amor de irmão. Amor de que é capaz de entregar-se todo por amor. Os verdadeiros amigos e amigas de Jesus são aqueles que seguem os seus passos, colocando-se a serviço da comunidade e sendo capazes de amá-la até o fim, dando por ela até a própria vida. Um amor que tem no Evangelho a sua inspiração maior de querer viver para o serviço. Evangelho este que não se trata de ensinamento de doutrina, nem exposição de verdades ou sistemas, nem conjunto de fórmulas jurídicas, às quais todos deveriam se ajustar, mas como a fonte do testemunho de uma comunidade que se transforma cada vez mais ao seguir Jesus na experiência profunda do amor. Sem nos esquecermos que “O amor é a força mais sutil do mundo”. (Mahatma Gandhi) Amar para seguir. Seguir para amar.
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