Sexta feira da Décima Nona Semana do Tempo Comum. “Sextou” mais uma vez no mês das vocações. Lembrando que no mês de agosto, a Igreja Católica nos convida a refletir sobre as vocações. Esta é uma tradição que vem desde o ano de 1981, quando a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em sua 19ª Assembleia Geral, instituiu o Mês Vocacional. Vocação é chamado! Desta forma, todos somos chamados a tomarmos consciência do nosso lugar neste mundo, pois Deus conta com cada dom e talento que nos foi concedido, na sua gratuidade e generosidade, para o trabalho de construção do Reino no aqui e agora. Vocação de quem segue Ele, é servir!
Meu “Ser Pensante” acordou entusiasmado na manhã deste novo dia. No dia 16 de agosto é comemorado o “Dia do Filósofo”. Nesta data se homenageia o profissional dedicado aos estudos da filosofia, essa área do conhecimento que estuda temas relacionados às reflexões acerca da existência humana, da natureza, do Universo, dos valores éticos e morais, da política, religião, entre outros mais, inerentes ao pensamento filosófico. Apesar dos longos anos de estudo de filosofia, não me considero um filósofo de ofício, já que falta ainda muita estrada a percorrer para tal. Meu desafio maior é ser um filósofo na concepção de Friedrich Nietzsche, que afirmava: “O filósofo é o homem de amanhã, aquele que recusa o ideal do dia, aquele que cultiva a utopia”.
Filósofo é a pessoa responsável por estudar a natureza de todas as coisas existentes e as relações que possam existir entre elas. De certa maneira, todos somos filósofos e filósofas, segundo a concepção do filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650). “Cogito, ergo sum” (Penso, logo existo), é uma de suas frases icônicas, publicada originalmente no livro “O discurso do método”, em 1637. Descartes, que é considerado o fundador da filosofia moderna, chegou a esta célebre frase, enquanto buscava traçar uma metodologia para definir melhor o que seria para ele, o “verdadeiro conhecimento”. Somos todos seres pensantes e, de certa forma, somos seres filosóficos: “Penso”, logo “Eu Sou quem Sou”.
Filosofar é pensar e não deixar que a “Consciência Ingênua” ocupe espaço do pensamento que deve ser constituído pela “Consciência Crítica” das coisas. Sendo assim, convido-os a refletir hermeneuticamente comigo o texto que nos é proposto pela liturgia para esta sexta feira. Mateus, com seu capitulo 19, nos mostrando a visão que Jesus tem acerca da relação conjugal. Pra variar, como é de praxe, os fariseus tentam colocar o Mestre em uma situação embaraçosa, armando-lhe uma cilada: “É permitido ao homem despedir sua esposa por qualquer motivo?” (Mt 19,3) Conhecedores profundos da Lei (Torá), os fariseus esperavam que Jesus tropeçasse numa possível interpretação equivocada desta Lei, para encontrar assim um motivo para o incriminar perante as autoridades.
É importante observar que a pergunta em si já é tendenciosa. Eles não perguntam se era permitido ou não a “mulher” despedir o seu parceiro conjugal. Como se tratava de uma sociedade extremamente machista, que mantinha a supremacia masculina, já que a mulher naquela sociedade não era alguém de valor, ou que tivesse poder de decisão ou de fala. Mas Jesus surpreende e desmonta a lógica das autoridades judaicas ao afirmar que o critério para a separação não era o legalismo, mas o amor. Para Jesus, o matrimônio não pode ser visto a partir de permissões ou restrições legalistas. O matrimonio para Ele deve ser mantido dentro do seu sentido fundamental: aliança de amor, abençoada por Deus e como vocação perene. Já, a escolha pelo celibato é dom concedido de Deus, e que este só adquire todo o seu valor quando é assumido com plena liberdade em vista de serviço ao Reino.
Marido e mulher são igualmente responsáveis por uma união que deve crescer sempre, equiparando-os quanto aos direitos e deveres na relação. Ainda que os discípulos reproduzam a concepção machista da época, em seus pensamentos: “Se a situação do homem com a mulher é assim, não vale a pena casar-se”. (Mt 19,10) Eles queriam que o homem continuasse “mandando” nas mulheres. Jesus também quebra esta lógica deles dizendo: “o homem deixará pai e mãe, e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne”. (Mt 19,5) Casamento é uma aliança de amor que não cabe o desamor. Amor de iguais se fazendo no todo. Quando o desamor prevalece, é sinal de que a relação perdeu a sua essência de ser: amor, lealdade e fidelidade. Como iniciei filosofando, termino recorrendo ao salmista (realçando a lealdade e fidelidade de Deus), para concluir esta nossa exegese bíblica: “Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo; anunciar de manhã o teu amor leal e de noite a tua fidelidade”. (Sl 92 (91), 2-3
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