Quarta feira da 28ª Semana do Tempo Comum. Chegamos a meados do mês missionário. Estamos atravessando o exato 290º dia deste ano bissexto. Outros 76 dias nos colocarão dentro do ano de 2025. Uma longa missão nos aguarda até lá. Assumir o compromisso missionário é o selo que adquirimos ao sermos batizados nesta fé. Nossa missão consiste em seguir os passos de Jesus, dando continuidade à sua missão de trazer o Reino de Deus para mais próximo de nós. O mais importante não é seguir esta ou aquela religião, mas através de nossa espiritualidade, adequar o nosso modo de vida aos desafios do ser cristão nos dias de hoje. Como diria Santo Agostinho: “Ser cristão não é conquistar Cristo, mas deixar-se conquistar por Ele”.
Na data de hoje comemoramos o Dia Mundial da Alimentação. Uma data importante para repensarmos as questões relacionadas à alimentação, a fome, a insegurança alimentar e nutricional. O Dia Mundial da Alimentação é celebrado desde o ano de 1945 (término da II Guerra Mundial), quando a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), criou esta importante data. Todavia, a primeira vez que a data foi celebrada, foi no ano de 1981, e, desse ano em diante, vários temas importantes passaram a fazer parte desta agenda. Diversos temas importantes já foram debatidos nela, sobretudo porque a fome é uma realidade que atinge vários países.
Como relata a ONU, o mundo joga fora mais de 1 bilhão de refeições por dia. Isso, enquanto 783 milhões de vidas humanas foram afetadas pela fome e um terço da humanidade enfrentou insegurança alimentar, de acordo com o Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024. O desperdício de alimentos faz parte de uma desumanização global. Enquanto milhões de pessoas passam fome, alimentos são desperdiçados na lata de lixo em todo o mundo. Quem tem fome, tem pressa, uma vez que a fome não escolhe a pessoa; ela simplesmente mata! Entre o excesso e a escassez, a fome está presente no meio de nós. Diante desta realidade, você tem coragem de desperdiçar comida na lata de lixo da sua casa?
“A verdade deve ser dita com amor, mas o amor nunca pode impedir a verdade de ser dita”. Foi com esta frase de Santo Agostinho em mente, que rezei nesta manhã de um breve chuvisco, salpicando de água, as folhas de meu quintal. Um aroma imperdível, vindo da cajazeira coberta de flores brancas, sendo beijadas por uma centena de abelhas, exercendo seu ofício de polinizar. De saber que o trabalho mais importante delas, nem é a produção do saboroso mel, mas a arte de polinizar. Que o digam nossos/as camaradas da agricultura familiar, que fazem chegar às nossas mesas, 70% de tudo aquilo que nos alimenta diariamente. Como bem expressou um destes pequenos agricultores: “Se o campo não planta, a cidade não janta. Se o campo não roça, a cidade não almoça”.
Ai de nós! É assim que nos sentimos, quando não encaramos, de frente, o nosso ser cristão, em sintonia com o projeto de Deus revelado por Jesus. Pelo menos é assim que podemos concluir a partir do texto do Evangelho que a liturgia do dia de hoje nos propõe refletir. Jesus está dando uma direta nos incorrigíveis fariseus de seu tempo: “Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus”. (Lc 11,42). São os “ai de vós”, ditos por Jesus, no desmascaramento daquela gente, que o evangelista Lucas, faz o registro para nós. Lembrando que, no tempo de Jesus, haviam vários grupos, que influenciavam à população no que diz respeito a obedecer à Lei de Deus e de viver. Entre eles, estavam os fariseus.
Membros de uma das principais seitas, os fariseus eram extremamente religiosos. Eles se dedicavam a cumprir a Lei Judaica, pela tradição escrita, (Antigo Testamento), e seguiam a tradição oral. Em seus ensinamentos, afirmavam que, para agradar ao Senhor, cada pessoa tinha que seguir todas as regras das Escrituras e da tradição. Por serem mais populares que os elitistas escribas e doutores da Lei, exerciam influência direta sobre o povo simples, manipulando a sua fé. Jesus os acusa dizendo que, em vez de favorecerem a liberdade, das pessoas, eles a dificultavam. A fé deve conduzir para a liberdade, contrariando a concepção farisaica que se preocupava com os aspectos exteriores, descuidando da formação da consciência e do coração. Os religiosos daquele tempo, especialistas em leis, se apossam da chave do conhecimento, isto é, interpretavam as leis de acordo com seus próprios interesses, exercendo assim um controle ideológico sobre o povo pobre, impedindo-o de ver as possibilidades de transformação da realidade de opressão em que viviam. Apesar dos fariseus de ontem e hoje, devemos viver a nossa fé como Paulo observa em uma de suas cartas: “Somos atribulados por todos os lados, mas não desanimamos; somos postos em extrema dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo; somos perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados”. (2Cor 4,8-9)
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