Quinta feira da Segunda Semana do Advento. Dia de alegria! Dia de festa! Em clima de preparação para o Natal, abrimos um parêntese para celebrar a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América, sobretudo da América Latina. Uma das aparições de Nossa Senhora, ocorrida em 1531, ao indígena Juan Diego, pertencente à Etnia Asteca que, posteriormente, se converteu ao cristianismo. Naquele momento histórico, reinava no México uma onda de violências e violações dos direitos da população indígena, fruto da marginalização e do preconceito.

A data de hoje é marcada por uma liturgia muito especial: Festa da visitação de Nossa Senhora à sua prima Isabel. O encontro de duas gerações. O Antigo Testamento se fechando e abrindo as portas do Novo. Isabel, trazendo no ventre o Precursor, que vem preparar os caminhos do Senhor. Duas mulheres fortes e aguerridas que, em nome do amor maior, se tornam servas do projeto libertador de Deus. Elas que nada valiam, se transformando em peças chaves no sonho de Deus.

Depois de uma noite bem dormida, acordei nesta manhã imaginando qual não teria sido a alegria do encontro destas duas mulheres. Ambas, passando por cima de toda a marginalização e do preconceito da época, em relação às mulheres. Isabel já em idade avançada, foi premiada para gestar em seu ventre o profeta que viria fechar um ciclo. Certamente, trazia consigo inúmeras dúvidas, sobretudo por ser uma gravidez de alto risco, mas se entrega confiante diante dos mistérios insondáveis de Deus.

“Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor é contigo; és bendita entre todas as mulheres da terra!” (Lc 1,26-30) Um encontro teológico/existencial, que em si já mostra a predileção de Deus pelos mais pobres. Encontro que somente o evangelista Lucas narra, com tanta riqueza de detalhes e profundidade. Duas mulheres que se encontram, cada uma delas, sendo escolhida por Deus para uma missão específica, mas que se complementam. O mistério da transcendência divinal de Deus, encarnando no corpo de duas mulheres, elevando-as à condição divina, permitindo assim, que a história humana, vivenciasse profundamente, a experiência divina de Deus.

No encontro entre elas, Joãozinho dá pulos de alegria no ventre, enchendo o coração da mãe, do Espírito Santo de Deus. Movida pela força do Espírito, ela declama um dos mais belos versos de todo o Novo Testamento: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42) Deus, faz questão que a Encarnação do Verbo, passasse necessariamente pelos corpos marginalizados das mulheres. Pena que a Igreja Católica, se perdeu no tempo histórico, e não entendeu direito todo o protagonismo feminino como opção de um “Deus que é mais Mãe do que Pai”.

“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”. (Lc 1,45) Acreditar e entregar, confiantes que o melhor de Deus será feito na vida daqueles e daquelas que fazem a opção pelo seguimento de seu Projeto. Este encontro de hoje é provocativo para todos os que crêem. Ter fé é acreditar que estamos fazendo permanentemente este encontro com o Senhor, nas pessoas que sofrem e precisam de cuidados. Isabel acreditou! Maria também! Ambas, mesmo sem entender direito o que se passava, colocaram-se à disposição.

“Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei” (Is 41, 13) Nunca devemos perder a esperança, pois é Deus mesmo que encaminha o seu plano para nós. Ele é o nosso protetor e libertador. O Deus dos oprimidos e escravizados, estará sempre a seu lado para o arrancar de qualquer tipo de escravidão. Que a força de Maria, sua dedicação ao Projeto de Deus, anime a nossa caminhada, fazendo de cada um de nós, servos e servas do Reino!