Terça feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Festa da Transfiguração do Senhor. Esta festa é sempre celebrada no calendário litúrgico da Igreja Católica, 40 dias antes da Exaltação do Cruz, que neste ano será celebrada no dia 14 de setembro. A Festa da Transfiguração é celebrada no Oriente desde o século V. No Oriente só passou a ser celebrada a partir do ano de 1457, no pontificado de Calisto III (1455-1458), 209º Papa da Igreja, que a inseriu no calendário romano. A Transfiguração, manifestação da vida divina, que está em Jesus, é uma antecipação do esplendor, que encherá a noite da Páscoa. O Filho de Deus, mesmo sendo de origem divina, assumindo a sua condição humana: “Esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”. (Ef 2,7)

Como Igreja que somos, estamos em festa não somente por causa da Transfiguração do Senhor, mas também porque, no dia de ontem, a Conferência Nacional dos bispos do Brasil (CNBB), encheu o nosso coração de esperança. Apesar de estarmos ainda no 219º dia de outros 147 outros que faltam, foi-nos apresentado a temática da Campanha da Fraternidade de 2025. O Tema escolhido foi: Fraternidade e Ecologia Integral, com o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). A motivação maior para a escolha desta temática, foi em função dos 800 anos da composição do “Cântico das Criaturas” de São Francisco de Assis; pelos 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si; e também pelos 10 anos de criação da Rede Eclesial Pan Amazônica (REPAM). Que venha mais uma Campanha da Fraternidade com toda intensidade!

Por falar em Amazônia, os povos indígenas do Brasil, os indigenistas e todos aqueles que são parceiros da causa indígena, estamos muito apreensivos. Está dando início hoje aos trabalhos da Comissão de Conciliação do Marco Temporal, chefiada pelo ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal (STF). A farsa do tal marco, sendo conduzida pela “bancada ruralista”, sem a participação de nenhuma das lideranças indígenas, os mais interessados para que não vingue esta ideia absurda, de considerar passiveis de demarcação, as terras que eram ocupadas pelos povos originários, até a data de 10 de outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição Federal. O presidente da Câmara Federal escolheu apenas os latifundiários para tratar deste assunto, sendo eles os mais interessados na grilagem das terras, que sempre foi habitada pelos Povos indígenas. A que ponto chegamos, com estes nossos “representantes” políticos.

Mas voltemos a grande Feste do Dia. Falar em Transfiguração do Senhor é falar da manifestação Teofânica de Deus. Ele que se manifesta aos seus nas alturas das montanhas. Era assim no Antigo Testamento. Foi assim também no tempo de Jesus. O Monte Tabor, sendo o espaço teológico da manifestação da gloria de Deus, como o evangelista João narra para nós de Jesus, acompanhado de Pedro Tiago e João, encontrando com Moises e Elias. A Lei, os profetas, em sintonia com a Nova Aliança, inaugurada com a presença do Filho de Deus que veio estabelecer sua morada no meio de nós, possibilitando-nos fazer a experiência mais profunda da divindade transcendente de Deus.

Somente quem se deixa ser movido pela fé, pode fazer esta experiência da Transfiguração. Não se trata de algo que é absorvido por um pensamento racional gnóstico. Gnose que epistemologicamente é entendida como teoria do conhecimento, ou mais precisamente no sentido metafísico que é concebido pela via do intelecto, da inteligência. Somente um coração ardente pelo fogo do Espírito de Deus, pode conceber a ideia da manifestação do Ser Superior, na pessoa do Filho transfigurado. Pedro e os seus companheiros sabem que são privilegiados, ao receberem a graça maior de estarem ali com os profetas, e ouvirem a voz celestial que proclamava Jesus, seu Mestre, o Filho muito amado do Pai: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7)

O texto joanino de hoje nos mostra que a vida e ação de Jesus não terminam na sua morte. A transfiguração é sinal da Ressurreição. Os adversários de Jesus não conseguirão deter a pessoa e a atividade d’Ele, que irão continuar através de seus discípulos e todos aqueles e aquelas que fizeram a sua adesão a Ele. A voz de Deus mostra que, daqui por diante, Jesus é a única autoridade. Todos os que ouvem o convite de Deus e seguem a Jesus até o fim, começam desde já a participar da sua vitória final, quando ressuscitarão com Ele. Quem adere a Jesus não pode deixar-se cair na tentação do comodismo de Pedro, que sugeriu permanecerem ali naquele ambiente celestial, esquecendo-se de que a missão se dá no chão de terra pisada pelos pequenos. Quem acha que a fé se resume às “adorações dos santíssimos da vida”, precisam fazer uma exegese urgente da sua concepção de fé fundamentada nas concepções do comodismo. Somente uma fé engajada nos levará ao comprometimento com Jesus transfigurado, a caminho da Ressurreição.