A tempestade apanhou me voltando para casa.
Enfiei o Rocinante no posto de gasolina. Estacionei e entrei na cafeteria.
Pensei: assim que abrandar vou embora…
Fiquei lá por hora e meia!
Nessas ocasiões penso nos que construíram suas casas na beira dos córregos!
Antes de pedir o café e uma coxinha ( não resisti, era linda) deparei-me com a “artista plástica ” de outro dia!
Aliás ela me viu:
“Me paga uma cerveja?”
Pago…
Vi que suas tralhas estavam com ela…
Sacola, mala,colchonete…
E lixo…pra mim…
Pra ela projetos artísticos!
Perguntei porque não vai à um albergue?
Banho, jantar e cama…
” lá roubam minhas coisas”
Diz…
Apesar de tudo, ainda tem posses…
A natureza humana!
Ela queria falar, eu tinha tempo…a tempestade nos prendia ali…
“Eu já tive casa,familia, um marido, filhos…perdi tudo, ou melhor desisti…A rua a liberdade e a minha arte! Troquei…pra ser feliz!”
Os cabelos são ralos, os dentes poucos, a falta de banho visível…
A “arte ” troca por uma cerveja!
O que é ser feliz?
Se eu tivesse alcançado a santidade de uma Teresa de Calcutá, ou Irmã Dulce, deveria levá la pra minha casa, oferecer lhe um chuveiro, uma toalha limpa.
Talvez a cama por uma noite!
Um prato de canja, uma taça de merlot chileno!
E, com certeza,seria chamado ” louco “…
São Simão, egípcio ,foi chamado louco por acolher loucos e dar lhes abrigo!
A tempestade acalmou se.
Comprei duas coxinhas, estavam divinas,uma cerveja.
Estendi lhe…
Olhou me incrédulo…
” o senhor é bom”, diz…
Estou treinando, respondo!
A vida não é justa!
Ou cada um escolhe?
Boa noite gente amiga querida.
Que as bênçãos sejam abundantes pra todos nós especiais para loucos!