Quinta feira da Segunda Semana da Quaresma. O mês de fevereiro chegou ao seu final. Depois de quatro anos, aqui estamos encerrando o mês que nos coloca dentro do ano bissexto. Em vez de 365 dias, teremos este ano 366. Lembrando que o ano é o tempo necessário para a Terra dar uma volta inteira ao redor do Sol. Todavia, este processo não ocorre exatamente dentro dos 365 dias. Segundo os estudiosos, a cada ano, há um acúmulo de seis horas. Assim, estas horas acumuladas faz uma somatória de 24 horas, acarretando o aumento de mais um dia ao mês de fevereiro, a cada quatro anos, denominando assim o ano bissexto. Que este dia a mais, nos façam mais humanizados e amorosos!
Quaresma permeada pela “Amizade Social”, como nos propõe a Campanha da Fraternidade deste ano de 2024. Nunca imaginei que uma proposta de amizade, gerasse tanta discórdia para o setor ultraconservador fundamentalista da Igreja. Para eles, buscar a amizade social, através de relações de igualdade, fraternidade, esperança e paz, é coisa dos “esquerdistas da Teologia da Libertação”. Como vemos, o desafio é enorme, se quisermos preservar a proposta de Jesus, de se ter uma Igreja do caminho com os pobres e marginalizados, sobretudo porque há um setor em nossa sociedade que não quer que se acabe com as estruturas de exploração, afetando suas benesses e os seus privilégios de classe social.
O verão segue dando as caras num calor saárico. Esquenta durante o dia e nas tardes vêm as pancadas de chuva. O clima está mudado em todo mundo. Segundo dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) o ano de 2023 foi o mais quente da história do planeta. E a tendência é que neste ano continue mantendo as temperaturas altas. Tudo em decorrência da nossa ação nefasta em relação ao meio ambiente. Estamos pagando um alto preço pela nossa insanidade irresponsável, em relação a Mãe Natureza. Já dizia o filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) na Grécia Antiga: “A natureza não faz nada em vão”.
Nesta quinta feira a liturgia católica nos propõe refletir com o Evangelho de Lucas (Lc 16,19-31). Lucas está entre os evangelistas sinóticos como aquele que nos revela o caminho de Jesus dentro da história humana, percorrendo o processo de libertação desta história. Ele fala diretamente sobre a sociedade desigual em que os pobres e oprimidos serão libertados, passando a viverem novas relações entre as pessoas, como irmãos e irmãs, filhos e filhas de Deus. Lucas se contrapõe a história tal como é contada pelos ricos e poderosos, que exploram e oprimem o povo, reduzindo-o à miséria e fraqueza. Na visão do evangelista, a história precisa ser contada e construída pelos pobres, como protagonistas de seu processo de libertação. “Eu acredito que, o mundo será melhor, quando o menor que padece acreditar no menor”.
O texto proposto pela liturgia para esta quinta feira, vem neste embalo. Jesus, com a sua pedagogia libertadora, contando a parábola do “rico avarento e o pobre Lázaro”. Todos sabem que o gênero “parábola”, é uma pequena narrativa que usa alegorias para transmitir um tipo de conhecimento. Ou seja, as parábolas contadas por Jesus, eram pequenas histórias com elementos comuns da cultura daquele tempo, que tinham como objetivo ensinar coisas sobre o Reino de Deus. Evidente que não se trata de fazer uma interpretação literal das palavras ditas, mas através destas palavras, chegarmos a um entendimento sobre a mensagem que Jesus queria transmitir.
No contexto de hoje, a parábola contada por Jesus faz uma crítica severa à sociedade classista e desigual, onde o rico vivia na abundância e no luxo, enquanto o pobre morria na miséria. No tempo de Jesus e também nos tempos atuais, vivemos numa sociedade onde a desigualdade social se refere à distribuição desigual de recursos e oportunidades entre diferentes grupos da sociedade, como renda, educação, saúde e emprego: “ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres”, como fora dito pelo Papa João Paulo II, e que a Conferência Episcopal de Puebla, realizada no México, incorporou naquele documento no ano de 1979. A riqueza acumulada em algumas poucas mãos mata! Converter=nos é assumir o compromisso que passa pela realidade dos pobres e oprimidos.
Ao contar esta parábola aos fariseus de seu tempo, Jesus não quis referir-se à vida no pós-morte, delineando o céu e o inferno, como muitos interpretam o texto sob a perspectiva de uma exegese literal equivocada. Não é no céu que as coisas precisam de mudanças, mas no aqui e agora de nossa vida terrena. Esta cruel desigualdade social, fere frontalmente os sonhos e os planos de Deus para a nossa vida aqui. O lema da Campanha da Fraternidade nos serve de alerta: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt. 23, 8). Assim sendo, não há sentido que uns vivam na abundancia e outros morram de fome. Este tipo de sociedade não está de acordo com os desígnios de Deus para os seus filhos e filhas. É preciso acabar com a sociedade da desigualdade que Josué de Castro bem denunciava: “metade da população brasileira não dorme porque tem fome; a outra metade não dorme porque tem medo de quem está com fome”. Quando a religião é libertadora, a luta é pela sociedade da igualdade e da fraternidade. Pense nisso!
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