Sexta feira da Décima Semana do Tempo Comum. No calendário das festas juninas, Santo Antônio ficou para trás. Vamos indo agora em direção a São João, outro santo muito querido de nosso devocionário popular. Liturgicamente, o Ano é o B, com a leitura sequencial de Marcos. Entretanto, nestes dias, estamos refletindo com o Evangelho de Mateus. Ele que tem o propósito de nos apresentar Jesus com o título de Emanuel, que quer dizer: “Deus está conosco”. (Mt 1,23). À medida que vamos degustando as suas páginas, vamos descobrindo o significado desse título. Ou seja, fica claro que Deus está presente em Jesus, comunicando a palavra e ação que libertam as pessoas e as reúnem como novo povo de Deus.

Aceitei o desafio de nesta manhã “acordar o sol”. O dia se fazia madrugada e lá estava eu, perambulando pelo cais de São Félix, contemplando a alvorada, na companhia de centenas de pássaros, que se alojam durante a noite sobre os pés de manga, que compõe aquele cenário. Cada um deles se comunicando em seu dialeto próprio, numa verdadeira confusão ordeira. Franciscanamente me deixei levar pela euforia reinante, contemplando ali a obra de Deus, com o sol despertando lentamente, nos presenteando com mais um dia de luz. Trouxe na memória uma das falas sugestivas do mineiro Chico Xavier: “Cada dia que amanhece assemelha-se a uma página em branco, na qual gravamos os nossos pensamentos, ações e atitudes. Na essência, cada dia é a preparação de nosso próprio amanhã”.

Situando-nos no contexto deste dia, somos convidados a refletir sobre uma temática que faz todo sentido. Para a medicina, junho é o mês vermelho e laranja. No dia 14 de junho, comemora-se o Dia Mundial do Doador de Sangue. Data esta definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em homenagem ao nascimento do imunologista austríaco Karl Landsteiner (1868-1943). Ele foi o responsável por descobrir os tipos sanguíneos. Junho Vermelho é a campanha de sensibilização sobre a doação de sangue. Um gesto simples que salva até quatro vidas, em apenas uma simples doação. Junho Laranja é o mês da conscientização sobre anemia e leucemia, levando à informação e prevenção sobre a saúde do sangue. Desde os tempos da teologia que eu era um doador de sangue contumaz, mas depois que o mosquito da malária me acertou, no batismo de sangue aqui na Prelazia, não pude mais exercer este gesto solidário.

Já a temática litúrgica desta sexta feira, continuamos acompanhando e refletindo com Jesus falando aos seus discípulos, mais uma vez sobre o “Sermão da Montanha”. Sermão da Montanha que é o conjunto de ensinamentos principais que Jesus repassou aos seus discípulos. São conhecidos como o Sermão da Montanha porque, desde o Antigo Testamento, a montanha sempre foi o lugar sagrado que Deus fala e se manifesta aos seus (Teofania). Jesus instruindo os seus discípulos, pois eles são aqueles que vão assumir a responsabilidade do ministério, como representantes d’Ele, dando continuidade à sua missão. Segundo os estudiosos biblistas (exegetas), o Sermão da Montanha atravessou gerações, sem que houvesse outro que se lhe comparasse. Nenhum homem mortal jamais pronunciou um discurso de tal monta.

As palavras duras ditas por Jesus aos seus discípulos nos fazem refletir sobre a radicalidade do Evangelho. Um dos temas tratados é sobre o casamento e a infidelidade entre o casal que propuseram ser um para o outro. Jesus radicaliza até à interioridade a fidelidade matrimonial, apelando ao amor verdadeiro e leal. Sobre o adultério, por exemplo, ele começa pelo olhar desejoso e, segundo o Mestre, o mal deve ser cortado pela raiz. As palavras duras do Evangelho pretendem alertar-nos para as nossas atitudes de condescendência para com a nossa sociedade permissiva, que apenas busca a satisfação imediata, de uma felicidade aparente.

É bom lembrar que na sociedade judaica do tempo de Jesus, a mulher era apenas um objeto pertencente ao marido, como seus servidores, suas edificações e posses. Ela devia ao esposo total lealdade, mas, por princípio, era considerada como naturalmente infiel, desvirtuada e falsa. Por esta razão, sua palavra diante de um juiz, por exemplo, não tinha nenhum valor. Todavia, embora fosse obrigada a ser fiel ao matrimônio, o marido não tinha os mesmos deveres matrimoniais. Sem nos esquecer de que, o marido podia rejeitá-la por qualquer motivo, mesmo que, legalmente, não pudesse negociá-la como qualquer outra propriedade. Por outro lado, dificilmente a esposa poderia, por iniciativa própria, se desligar do casamento.

É neste contexto que Jesus está preparando os seus discípulos para o enfrentamento daquela realidade. O casamento é considerado um compromisso sagrado e uma instituição divinamente ordenada, destinada a criar uma família e preservar a linhagem proposta pelo Deus que nos criou. Assim, o casamento é visto como um reflexo do relacionamento entre Deus e seu povo. Viver na perspectiva do Evangelho requer renúncias e opções claras diante da vida que escolhemos para nós. O Evangelho exige radicalidade e, seguir os passos de Jesus, requer muito mais do que boas intenções. Boas intenções acompanhadas de más atitudes e falta de compromissos com a transformação, provam a infidelidade de quem quer fazer parte do discipulado de Jesus.