Vigésimo quinto domingo do tempo comum.
Mais um domingo para ser contabilizado na nossa história de vida. Estamos vivendo o 261º dia do ano do calendário gregoriano que seguimos. Mais 104 dias e o ano de 2022 dá o seu adeus, entregando o bastão ao ano seguinte. Ano em que viveremos uma nova realidade de esperançamento bem distante deste pesadelo atual que se tornou as nossas vidas. Delinear o futuro onde possamos desfrutar das benesses do “Bem Viver”. Foi assim que Deus nos criou e foi para isso que Ele nos projetou, para alcançar a plenitude da vida. Se Ele é tudo em todos (1Col 1,16), somos a sua imagem e semelhança (Gn 1,26-28).
Criados pelo sopro divino de Deus somos filhos e filhas do “Bem Viver”. Mais do que uma filosofia de vida, trata-se de um estado de espírito de forma muito concreta que damos ao nosso ideário de vida. Lembrando que esta forma de pensar e organizar a vida dos habitantes do planeta é fundamentada no princípio da reciprocidade entre todos os seres da “Casa Comum”. Princípios estes que se norteiam pela amizade fraterna, pela convivência entre os seres da natureza e, sobretudo, pelo profundo respeito pela terra. Aprendizado que fazemos com os povos originários, que têm nos ensinado a construir o Bem Viver para todos os seres. Nesta perspectiva, é necessário combater todas as formas de injustiças, os privilégios e todos os mecanismos que geram a desigualdade, a marginalização dos pequenos e a vulnerabilidade social.
A Mãe Terra é sagrada. Chão das nossas histórias, dos saberes tradicionais e da ancestralidade dos nossos antepassados. Pisar o chão sagrado dela é saber que dela fazemos parte e para ela voltaremos: “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19). Foi pensando assim que ainda na penumbra da noite que se despedia, fui rezar na companhia do profeta do Araguaia. Contemplando as águas do Araguaia, o sol que trazia o dia, afugentando as trevas da escuridão, e a frugalidade daquele humilde túmulo do pastor Pedro, me vi perpassado pela necessidade de buscar uma vida mais simples no seguimento das pegadas de “um certo Galileu”. Assim foi Pedro, de simplicidade em simplicidade, construindo o esperançar do Reino revolucionária e profeticamente. Simplicidade que William Shakespeare assim a definiu: “Às vezes a simplicidade e o silêncio dizem mais que a eloquência planejada”.
Planejada mesmo é a fome dos pobres no Brasil. Um problema histórico que voltou a crescer nestes últimos anos. Uma parcela de 15,5% da população brasileira convive com a escassez de alimentos, somando 33 milhões de pessoas. A fome chega acompanhada pelas questões sociais, política e econômica. Soma-se a isso as desigualdades sociais, a concentração de renda, gerando a pobreza, a fome e a morte. Um problema estrutural marcado pela alta concentração de renda em um pequeno grupo social, enquanto uma parcela considerável da sociedade detém pouco ou quase nada dos recursos. Estudos recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta que 25% da população brasileira, vivem abaixo da linha da pobreza. Nesta mesma direção, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que “a parcela dos brasileiros que sobrevivem com uma renda mensal igual ou inferior a R$ 290 é de 13%, o que significa que 27,6 milhões de pessoas no Brasil vivendo em uma situação de extrema pobreza”.
O que fazer diante de um contexto tão drástico e assustador para o nosso povo? Pensando nisto, a liturgia deste 25º domingo do tempo comum nos dá uma dica valiosa, vinda de Jesus na narrativa do evangelista Lucas. Neste trecho de hoje Jesus foi bastante enfático: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. (Lc 16, 13) Uma fala que é dirigida aos seus primeiros discípulos e também a cada um de nós hoje. Quem se apega às riquezas, sejam elas quais forem, se distancia da realidade dos pobres que passam necessidades. É necessário escolher de que lado queremos estar: servir a Deus na pessoa dos pobres ou apegar as riquezas que geram lucro, ganância, exploração e morte?
A quem servir? Os valores que trazemos dentro de nós determinam a opção que fazemos diante de Deus. Todos temos um valor fundamental, um absoluto que determina toda a nossa forma de ser, pensar e viver. Qual é afinal o nosso absoluto: Deus ou as riquezas? Deus sempre leva as pessoas à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade. As riquezas são resultado da opressão e da exploração, levando as pessoas à escravidão e à morte. É preciso escolher a qual dos dois lados queremos servir. A decisão é nossa. A quem iremos servir? Só há uma saída. Que saibamos dizer como o outro Pedro, o pescador: “A quem iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna”. (Jo 6, 68)
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