Sábado da Terceira Semana da Páscoa. Seguimos dando prosseguimento ao contexto do Ressuscitado. Jesus está vivo e não é mais um “malfeitor” pregado numa cruz, a mando do poder do império, em conluio com as autoridades religiosas do Templo de Jerusalém: escribas, fariseus, doutores da Lei e anciãos do povo. Tudo “gente do bem”. O Deus que se fez carne está vivo e caminha conosco, sendo um de nós pelas estradas da vida. Nunca sozinhos estamos, por mais que os desafios e as dificuldades sejam enormes. Nestas circunstancias, devemos rezar confiantes com o salmista: “Esteja sobre nós o teu amor, Senhor assim como está em ti a nossa esperança”. (Sl 33,22)
Esperançar é preciso. “Esperança como ato de rebeldia!”, como nos ensinava nosso bispo Pedro. Esperançar fazendo a nossa parte, e não esperando sentados, o que é nosso dever fazer acontecer. Esperançar no Deus da vida, acreditando que somos capazes de juntos caminhar e construir outro mundo possível, onde a vida seja o bem maior, e a desigualdade se transforme na fraternidade; a partilha seja o valor preponderante de nossa convivência humana. É na partilha com o irmão que fazemos o encontro com o Deus da criação. Ver o rosto de Jesus nos que mais sofrem é a missão dos que se identificam com as suas causas na contramão.
Aqui pela Prelazia de São Félix do Araguaia, segue ressoando em nós o dia de ontem. Nossos indígenas seguem ainda comemorando o dia deles. O sentimento de pertença consciente à etnia e a identidade, que cada uma carrega em si, mostra o grau de comprometimento com as causas indígenas. Muita festa nas aldeias, mas com a convicção de que a missão vai mais além, no sentido de valer os seus direitos inalienáveis. O dia foi de festa, mas a luta continua e é permanente, frente a uma sociedade que os trata com preconceito, estereótipos e discriminação. Nos esquecemos, que a nossa Mãe é Indígena e que somos os descendentes legítimos da família tradicional brasileira. O sangue que corre lá, também transfixa as nossas entranhas.
“Vós sois a memória viva da missão que Deus nos confiou a todos: cuidar da Casa Comum”, afirmou o Papa Francisco, em uma de suas falas, ao receber uma comitiva indígena no Vaticano. Se tivéssemos esta consciência clara e objetiva de que somos os cuidadores da Casa Comum, certamente muitas das tragédias, hoje existentes em relação às mudanças climáticas, não existiriam. Os povos indígenas, na sua relação respeitosa com a Casa Comum, fazem deles os defensores maiores da Mãe Natureza. Para eles, cada um dos seres que habitam esta casa, devem ser respeitados, porque há uma razão deles ali estarem, segundo o guardião ancestral da criação. O dia que entendermos isto, entenderemos também a nossa missão de ser neste mundo.
Findando a Terceira Semana da Páscoa, estamos também chegando ao final da discussão teológica sobre o alimento verdadeiro descido do céu. O evangelista João, que começou o capítulo seis de seu Evangelho, falando-nos da “multiplicação dos pães”, chega ao ápice, trazendo-nos a identidade de Jesus como Pão do céu que dá a vida para o mundo, cujo corpo é verdadeiramente comida, e o sangue é verdadeiramente bebida. Diante desta revelação de Jesus aos seus, cabe uma decisão, a favor ou contra tudo o que foi anunciado pelo Mestre Galileu. Diante das duras palavras ditas por Jesus, uma parte do grupo dos seus desistiram da sua proposta e seguiram outros caminhos, diferentemente dos discípulos d’Ele.
Nem tudo estava claro para os discípulos de Jesus. Eles se mostram incomodados com as afirmações vindas da boca de Jesus, humanamente difíceis de aceitar. Todavia, Jesus esclarece que eles não devem acreditar n´Ele somente depois da visão de uma subida sua ao céu. Esta atitude deles dá mostras de não aceitar a sua origem divina, o que não tem sentido porque Ele vem mesmo do Céu: “Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna”. (Jo 3,13.15). Ou seja, a grande novidade que Deus tem para a humanidade está em Jesus, que vai revelar na cruz a vida nova. Aí Ele demonstra o maior ato de amor: a doação de sua própria vida em favor de todos nós e que os discípulos ainda tinham resistência em acreditar.
Para nós também não é fácil de se compreender e aceitar que que não há salvação sem passar pelo caminho da cruz. Entretanto, é preciso que saibamos que a dimensão cristológica não pode estar dissociada da dimensão “pneumatológica”, ou seja, devemo-nos deixar sermos guiados e conduzidos pela ação do Espírito Santo em nós. Lembrando que a palavra “pneuma”, vem do grego e que dizer “espírito”, “sopro animador” ou “força criadora” (Ruah). É preciso ter coragem para comprometer com Jesus. É preciso acreditar na força do Espirito Agindo em nós, para que possamos nos comprometer com Jesus. Acreditar em Jesus e na sua Palavra é um dom que vem de Deus. Somente o Pai pode nos dar. Somente aqueles e aquelas que nasceram e foram vivificados pelo Espírito podem compreender a revelação de Jesus e é introduzido na vida de Deus com a pessoa de Jesus.
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