Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum. Fechando o ciclo do mês vocacional, neste quarto domingo, celebramos as Vocações Leigas. Ser leigo atuante na comunidade é ter consciência do chamado de Deus, a participar ativamente da Igreja e do Reino, contribuindo para a caminhada e o crescimento das comunidades, cumprindo a missão para a qual Deus nos criou: a vida em plenitude. Todos somos chamados por Deus, e cada um tem uma missão nesta vida. Assumir esta vocação é assumir a missão de doar-nos pelo Evangelho, em sintonia de continuidade à mesma missão de Jesus: Deus mesmo se fazendo presente em nossas vidas. O que seria da Igreja sem a participação e contribuição dos leigos, sobretudo as mulheres?

Acordei nesta manhã recordando e fazendo memória de minha história de vida. Num domingo como este, 25 de agosto de 1988, estava eu sendo Ordenado Diácono, tendo como celebrante principal Dom Cláudio Hummes, bispo a época da diocese de Santo André. Ali, na comunidade Rainha dos Mártires, no Jardim Oratório (Favela do INPS), em Mauá, eu estava dando um grande passo rumo à minha carreira presbiteral. Tínhamos uma Comunidade Religiosa Redentorista, inserida naquela comunidade, e eu era um dos membros ali presente. Embora fazendo o curso no ITESP, no Ipiranga, na capital paulista, fiz a teologia a partir daquela realidade, sob a influência dos documentos magistrais da Igreja Latino Americana: Medellín (1968) e Puebla (1979) impossível descrever a minha felicidade ali naquele dia.

Vocação é de todos e para todos, mas que poucos são os que a seguem, tendo a consciência clara e o discernimento do chamado que Deus faz a cada um de nós. Vocação vem do latim: “vocare” e significa chamar. Quando falamos de vocação, automaticamente as pessoas se referem ao padre à freira. Muitas vezes ignoramos que todos os cristãos batizados possuem um chamado. Cada um à sua maneira é chamado (vocacionado) por Deus. Vocação é o caminho que Deus escolheu, para que, em meio ao mundo, fizéssemos ressoar a sua voz. Para que sejamos os/as continuadores/as da manifestação de sua misericórdia. Desta forma, todos e todas somos vocacionados, através dos nossos atos, a demonstrar que ouvimos a Deus e que assumimos a missão que Ele nos confiou. Você já parou para pensar na missão que Deus lhe confiou ao lhe chamar pelo nome, bem antes de você ter nascido/a?

Vocacionados como o discipulado de Jesus, que no dia de hoje estão estupefatos e assustados com os ensinamentos de Jesus: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,60). Neste domingo estamos fechando o ciclo do capitulo seis do Evangelho de João. Foram quatro domingos que nos detivemos sobre ele, e aqui, há o relato de que os discípulos de Jesus embarcaram na mesma pilha dos escribas e fariseus, que ficaram escandalizados quando Jesus afirma sobre si mesmo: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim”. (Jo 6,56-57) Um absurdo, pois Jesus oferece sua própria vida (carne e sangue) em favor das pessoas.

As palavras ditas por Jesus provocam resistência e desistência até entre o seu discipulado. Muitos deles desistem da caminhada com Ele, pois ainda conservam a ideia de um Messias Rei triunfalista, e não querem seguir Jesus até à morte, entendida por eles como fracasso. Como alguns de nós, aqueles que abandonaram o “barco” de Jesus, o fizeram por não quererem assumir a fé, por medo de se comprometerem. Mesmo temerosos, os Doze apóstolos, porém, aceitam o desafio da proposta de Jesus e o reconhecem como Messias, dando-lhe sua adesão e aceitando suas exigências, como podemos ver claramente nas palavras de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”. (Jo 6,68-69) Não há vocação sem cruz.

Diante deste contexto, somos interpelados a pensar sobre a nossa caminhada de fé, tendo em vista a vocação a que fomos chamados por Deus. Há minimamente dois caminhos pelos quais podemos seguir: o primeiro deles é o caminho onde buscamos os valores estéreis, inúteis e temporários; o outro é aquele em que apostamos nos valores mais perenes, eternos, capazes de nos dar um sentido pleno a nossa existência neste mundo. O texto de hoje nos leva a concluir que Deus nos aponta estes dois caminhos, mas a decisão final é sempre nossa. Reconhecemos verdadeiramente em Jesus de Nazaré, o Filho de Maria, o verdadeiro Filho de Deus? Acreditamos verdadeiramente que Jesus ressuscitou e é verdadeiramente vencedor da morte? Aí está o centro da nossa fé, onde tudo se decide! Ou será que estamos entre aqueles, sobre os quais Jesus observa: “Vós também quereis ir embora?” (Jo 6,67) Vixe! Lascou!