Sábado da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Penúltimo dia do mês de junho, que encerrará amanhã, com mais um capítulo sendo escrito na história desta nossa Igreja da Prelazia de São Félix do Araguaia. Dom Lucio Nicoletto, já se encontra entre nós, para assumir a dianteira, como bispo desta Igreja. O clima é de festa, com centenas de pessoas, que vieram para testemunhar conosco, mais este marco importante da nossa caminhada de uma Igreja em Saída, na mesma perspectiva do Papa Francisco. Não queremos dúvidas, mas assumimos ficar do lado dos pobres, como sempre nos pedia nosso pastor, poeta, profeta: Pedro.

Acordei com o meu coração embalado pela nostalgia, deixando que a saudade me viesse visitar tão logo cedo. Revivi grandes e bons momentos, desde que aqui cheguei por estas bandas. Os 32 anos, bem vividos nesta Igreja, me faz acreditar que fiz a escolha acertada, me tornando um servo das causas indígenas, aprendendo mais que ensinando. Sinto que estou presente no coração deste povo, que nutre por mim verdadeira e fiel admiração. Às vezes, reconheço que não mereço tamanho zelo, mas sou agradecido a Deus e a Pedro, por me chamar para fazer parte desta história tão edificante para mim. Se a vida é feita de escolhas, eu escolhi ser feliz ao lado dos povos indígenas. Em mim, a felicidade faz morada.

Foi com este espirito saudoso que me pus “orante”, diante do túmulo do profeta nesta manhã. Apenas o sol como testemunha, renascendo e trazendo o dia pela mão, e algumas aves madrugadoras. Estava eu ali, relembrando de como a vida dá voltas, e nada é permanente em nossas vidas. Tudo muda! Ainda bem que a energia que brota daquele espaço sagrado, nos faz sonhar e acreditar que, se os tempos mudam, nós também mudamos com eles, como já nos dizia o velho professor de latim: “Tempora mutantur”. Os sonhos, utopias e ideais de Pedro, estão vivos em todos aqueles e aquelas que se deixam esperançar pelo fazer acontecer no aqui e agora, inspirando-nos todos no Projeto do Reino que Jesus nos veio trazer.

Mais uma vez, somos evangelizados pelo texto de Mateus, que no dia de hoje nos apresenta Jesus realizando suas curas no meio do povo. Assumindo para si as dores dos mais sofridos, Ele está em Cafarnaum. Esta cidade estava localizada na margem norte do Mar da Galileia. Ela que se transformara no centro do ministério de Jesus (Mt. 9,1-2; Mc. 2,1-5). Ali moravam tanto gentios quanto judeus. Apesar dos muitos sinais (milagres) realizados pelo Mestre Galileu naquela localidade, as pessoas em geral rejeitaram o ministério de Jesus.

Jesus se faz presente na comunidade dos pobres. Realiza muitas curas no meio deles. Isto num tempo em que a doença era causada pelo pecado. Assim, para libertar as pessoas, Ele vai direto à raiz: o pecado invisível que causa os males externos e visíveis. Em função desta sua postura de defesa da vida, numa dimensão maior, Jesus sofre a rejeição. A oposição a Ele começa pelos doutores da Lei, que só se preocupavam com teorias religiosas, e não em transformar a situação em que as pessoas viviam. A ação de Jesus é completa. É um dizer e fazer que cura por dentro e por fora, fazendo com que a pessoa mesma reconquistasse a sua capacidade de caminhar por si mesma.

A primeira cura no contexto de hoje é a do filho de um pagão. Atendendo ao pedido de seu pai, Jesus mostra que as fronteiras do Reino vão muito além do mundo estreito da pertença a uma origem ou classe privilegiada. A fronteira agora é a fé na palavra libertadora de Jesus. Ou seja, mesmo se achando ou pertencendo ao grupo dos que se consideram salvos, se não houver essa fé que transforma e liberta, também não haverá possibilidade de entrar no Reino de Deus. Assim, a presença de Jesus na comunidade liberta as pessoas do mal em todos os sentidos. Todavia, para que a libertação seja total, as pessoas libertas, precisam se colocarem a serviço da comunidade, como o fez a sogra de Pedro, assim que fora curada por Jesus: “Ela se levantou, e pôs-se a servi-lo”. (Mt 8,15)

Jesus presente na comunidade dos sofredores, personifica em si o “Servo de Javé”, o “Servo Sofredor”, sobre quem já dissera o profeta Isaias: “Eram as nossas doenças que ele carregava, eram as nossas dores que ele levava em suas costas. E nós achávamos que ele era um homem castigado, um homem ferido por Deus e humilhado”. (Is 53,4) Neste texto de hoje, Mateus nos mostra o sentido das curas realizadas por Jesus. Ele se passando como o Servo de Javé, que liberta as pessoas de tudo aquilo que os aliena e oprime (demônios). O texto ressalta ainda que Jesus ficou admirado com a fé do oficial romano, que acreditou confiantemente nas palavras de Jesus: “Em verdade, vos digo: nunca encontrei em Israel alguém que tivesse tanta fé”. (Mt 8,10). Isso que é fé! Que Ele possa dizer o mesmo sobre a nossa fé, diante d’Ele e sua palavra.